EM DESTAQUE

  • RUA ARAÚJO….É hora de ir a putaria. Conto de Eduardo Quive
  • FESTIVAL INTERNACIONAL SHOWESIA – levando a mensagem sobre a Paz no Mundo através da arte
  • VALE A PENA GASTAR 111 MILHÕES USD PARA ALTERAR A LÍNGUA?
  • Feira do Livro da Minerva Central na 76ª Edição em Maputo”.
  • SEGUIDORES

    LEIA AQUI A EDIÇÃO 51

    Pub

    Africanidades: Da África sem história à história dos africanos


    Victor Eustáquio– Portugal


    1) África não tem história. Sendo um continente primitivo, as estruturas sociais permaneceram sempre "tribais". Por outras palavras, África foi sempre considerada como um continente a-histórico, a viver no mais primitivo dos sistemas naturais.
    2) Os monumentos e outras manifestações artísticas, assim como as estruturas arquitectónicas, que revelaram um bom nível de desenvolvimento social e político, foram construídas por outros que não são africanos, sobretudo por brancos ocidentais. O que leva a concluir que os africanos são incapazes de, por si próprios, construírem a história.
    3) E mesmo que se reconheça que o continente tenha construído algo, o pouco que fez só foi possível através dos miscigenados e não dos negros. De resto, os africanos do norte, miscigenados com árabes, de pele branca, são os únicos que têm algum capital histórico, embora seja islamizado.
    Se alguém procura uma possível definição de etnocentrismo, eis três proposições de natureza racista, que aliás foram objecto de acesa discussão no mundo eurocêntrico, que espelham bem o que podem ser os preconceitos inerentes a este paradigma: o princípio de considerar inferior aquilo que é diferente.
    Dir-se-ia que nos dias de hoje, num planeta tão unido como desunido pelas redes de comunicação à escala global (ou quase), onde cada vez mais se aceita, ou diz-se aceitar, o relativismo cultural entendido como uma tentativa de avaliação de cada cultura nos seus próprios termos (não obstante o tema não ser pacífico) – que afirmações como as acima referidas fazem parte do passado.
    Mas decerto que a ingenuidade não enferma de tão extrema simplicidade, o que obriga a questionar de novo: farão realmente parte do passado? É que uma coisa é o que se defende formalmente, outra coisa é que se faz no plano material, na prática, acções que, aliás, tendem a institucionalizar-se, entrando na esfera formal pela força do poder normativo dos factos. Dito de forma simples, as práticas reiteradas, ou convicções e afectos que, à partida, são condenáveis e porventura feridos de ilegalidade, conquistam, regra geral, um estatuto legal, pelo efeito de erosão, manifestado no consentimento pelo hábito (ou até mesmo através da adesão por imitação).
    É evidente que a problemática é complexa, porquanto envolve muitas variáveis e dimensões, mas na substância deve merecer reflexão e muitas cautelas, tanto mais que os termos da dicotomia entre opressores e oprimidos têm sido objecto de uma inversão: o eurocentrismo hegemónico acabou por criar espaço para o afrocentrismo fundamentalista, que se apropriou da mesma retórica para constituir discursos racistas em tudo semelhantes aos primeiros, do que resultam novas interrogações:
    Afinal, que espaço ocupa África na história, não na africanista, naquela que foi contada pelo mundo dos brancos ocidentais no seu longo monólogo sobre o continente negro, mas na que os próprios africanos querem contar?
    E que espaço ocupa África, na visão dos próprios africanos, no mundo moderno ligado em rede, supostamente vencida parte considerável da batalha contra os preconceitos etnocêntricos?

    0 comentários:

    Enviar um comentário

    Pub

    AS MAIS LIDAS DA SEMANA

    Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More