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    Antônio – o menino e o silêncio


    Neide Medeiros Santos - Brasil*
    Neide Medeiros

    As palavras são portas e janelas. Se debruçamos e reparamos, nos inscrevemos na paisagem. Se destrancamos as portas, o enredo do universo nos visita.
                ( Bartolomeu Campos de Queirós)

    “Heróis contra a parede – estudos de literatura infantil e juvenil”  (Cultura Acadêmica, 2010), livro organizado por Vera Teixeira de Aguiar, João Luís Ceccantini e Alice Áurea Penteado Martha trata de assuntos delicados que costumam ser relegados pela crítica.
    No prefácio, Lígia Cadermatori afirma que os textos, compostos com diversidade de assuntos e falados por vozes autorais, não se esquivam de enfrentar temas árduos. “É uma leitura provocativa de representações de crianças e jovens de nosso tempo, postos contra a parede pelas mais diversas e lancinantes razões, e o encontro com questões que hoje se impõem na pauta das discussões do gênero.” ( 2010:p.10)
    Preconceito racial, pedofilia, abuso sexual, violência, bullying, todos esses assuntos são tratados de forma muito séria por escritores e ensaístas. Nada é apresentado de forma velada. A realidade da ficção e da vida é mostrada sem subterfúgios. Os temas apresentados  estão muito presentes na produção literária contemporânea e este livro procura oferecer uma “contribuição significativa “ para todos aqueles que lidam com questões ligadas à infância e à juventude: professores, psicólogos, bibliotecários, educadores de um modo geral.
    “Antônio” (Escrita Fina: 2012), de Hugo Monteiro Ferreira, escritor pernambucano, trata de um desses temas – o problema da pedofilia. De forma muito sutil e simbólica, o narrador introduz um personagem ( uma mão) que era grande, forte, que segurava em Antônio e o impedia de falar.
    De quem era essa mão tão possessiva? Como agia? Há apenas sugestões, o menino silenciava, não contava nada a ninguém, mas aquela mão o atormentava, ela sempre aparecia nas horas que os pais se ausentavam.
    Mesclando o medo de Antônio da mão, que era uma espécie de “bruxa malvada”, a narrativa segue outras direções: há histórias contadas por Olga, a babá que cuidava do menino com desvelos de mãe,  e  histórias contadas pela professora na escola. Interessante que essas histórias tinham sempre um desfecho trágico. Olga trazia o relato de “A menina enterrada viva” e a professora “O soldadinho de chumbo”.
    Quando ouvia a triste história da menina que foi enterrada viva, ele pensava: será que a mão seria capaz de enterrá - lo debaixo da mangueira que havia no quintal?
    Depois que a professora contou a história do soldadinho de chumbo, pediu que as crianças falassem o que sentiram ao ouvir a história. A maioria falou que ficou triste com a morte da bailarina e do soldadinho e que o escritor não devia ter deixado o final assim tão triste. Antônio ficou calado, nada disse. A professora sentiu que havia algo mais no silêncio de Antônio. No término da aula, chamou o menino  e perguntou:
    “ – Antônio, você quer me dizer algo?” (2012:41)
    E veio a revelação do menino:
    “ – Eu queria que o Tio não tivesse mão. Se ele fosse feito o Soldadinho, ele não fazia o que Le faz. Só que o soldadinho não tinha perna, mas o Tio é pra não ter mão.” (2012:41)
    Com esse diálogo entre a professora e Antônio, estava desvendado todo o medo e o silêncio contido do menino durante tanto tempo. A narrativa prossegue, a babá tomou conhecimento do poder nefasto da mão, os pais também, e todos reunidos  encontram uma solução para o caso.
    Em entrevista concedida pelo autor, ele afirmou que escreveu este livro como alerta para as crianças aprenderem a se  defender das mãos bobas que andam fazendo mal, muitas vezes disfarçadas no  meio da família, nas escolas, em locais que não imaginamos que elas possam estar.
    Não poderia de deixar de fazer referências ao trabalho ilustrativo de  Camila Carrosine – Antônio é retratado sempre com os olhos assustados e a mão é escura, tema a aparência de uma  mão de fantasma, aparece como uma sombra nas paredes.  
    Este livro de Hugo Monteiro Ferreira apresenta um “herói contra a parede”. Seria um livro meramente didático se não fosse o tratamento literário dado pelo escritor ao tema. As coisas vão se revelando lentamente, sem atropelos, sem causar impactos.
    As recorrências aos contos infantis – ‘ A menina enterrada viva” e “ O soldadinho de chumbo” foram elementos motivadores para o desvelamento do problema que tanto afligia o menino. 

    *Neide Medeiros Santos é Crítica literária FNLIJ/PB

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