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    UNGULANI BA KA KHOSA SOBRE OS 30 ANOS DA AEMO: Falta críticos literários em Moçambique

    Eduardo Quive



    Francisco Issaú Cossa, é aquele que todos chamamos por Ungulani Ba Kha Khosa, faz parte daqueles que realizaram o “assalto à instituição literária” logo que ela se cria e formou a turma da Charrua que veio a oficializar-se a 23 de Junho de 1984 com o lançamento do primeiro número dessa revista que até hoje não sai do debate literário moçambicano. Eram eles, Pedro Chissano, Juvenal Bucuane (esses dois tendo assumido as funções de coordenadores), Eduardo White, Hélder Muteia Ídasse Tembe, Tomás Vieira Mário/Tomás Vimaró, Filimone Meigos, Marcelo Panguana, Armando Artur entre outros. Mas uma particularidade levou à distinção de Ungulani dos outros, ele era homem inquieto e com um discurso literário de desassossegar o poder. Na verdade, nesta entrevista Ungulani explica que a sua preocupação mais do que atingir o poder político, estava a obedecer o código de conduta da literatura “ser sincero com o texto”. E é nessa sinceridade que nasceu o seu primeiro livro “Ualalapi” por sinal, a sua consagração como uma referência obrigatória na literatura nacional.


    Literatas: Estamos aos 30 anos da AEMO, e lembro-me que a bem poucos anos há quem falava da morte da Literatura Moçambicana. O que pensa disso?
    Ungulani Ba Ka Khosa: Há em mim alguma perplexidade quando vejo essas coisas. Quando tu vês uma pessoa jovem a iniciar-se nas letras e ele próprio a se liquidar, a dar-se um tiro nos cornos, a dizer que esta é uma literatura morta. Não vejo futuro nessa pessoa. Eu quando comecei a escrever eu preocupei-me em fazer o meu texto, quer dizer, eu estou preocupado em escrever.
    Mas quando eu começo e faço uma leitura para a minha contemporaneidade e digo que estamos mortos, implica que o próprio fazedor recusa-se a positivar o seu próprio trabalho isto significa ainda, qualquer coisa que é anacrónica, não achas? (apenas encolhi os ombros)
    Quando vemos lamentações deste nível quer dizer que temos qualquer problemas editoriais. Quando dizes que o nosso texto, a nossa literatura, o nosso trabalho está nesse patamar, não sei como é que podes chegar a outros patamares.

    L: Indo directo à pergunta que queria que me respondesse a partir da anterior questão: Quando vocês entram na AEMO o professor Gilberto Matusse escreve um artigo intitulado “O Assalto à Instituição Literária”. Hoje aos 30 anos estaremos de facto, a comemorar os 30 anos da Institucionalização da Literatura Moçambicana?
    U.B.K.K: A questão é esta: nós estamos numa economia de mercado e como economia de mercado, digamos, todo o mundo editorial praticamente está ancorado no sector privado. O sector cooperativo que podíamos dizer que é este sector não tem crescimento e nem significado nenhum.
    O Estado gradualmente foi-se afastando desse lado interventivo da cultura. Portanto, quando tu olhas para a associação tens que olha-la num prisma de intervenção, num prisma de associativismo, de cidadania, de outros valores que temos que fazer chegar. Agora a associação dos escritores passou por várias etapas, o importante neste momento, é encontrar-se outras formas que se adeqúem ao tempo.

    L: Mas isso a o que se refere à situação editorial, mas quanto a própria vida literária do país, incluindo os debates que nos referíamos? A literatura funciona em uma rede, temos as editoras, os livreiros, o escritor e o leitor.
    U.B.K.K: No campo dos debates, provavelmente por natureza deste tipo de sociedade, as pessoas tornam-se cada vez mais egoístas. Os campos de solidariedade tendem a ser diminutos. Mas o que te posso dizer é que realmente a situação da associação dos escritores moçambicanos também reflecte um pouco o marasmo com que a gente vive de ausência de debate, não só na associação, mas como ao nível das universidades esses grandes debates não existem. É o próprio país que também tem essa falta e a associação por estar dentro, reflecte essa situação. É aquilo que falei no princípio, quando transformamos este grande país parece um grande supermercado de venda de acções mercantis e esquecemos a dimensão cultural. E a dimensão cultural faz-se por grandes debates, por cidadania. Vez por exemplo coisas vergonhosas como eu vi agora, nessa cimeira da SADC, algumas personalidades no debate a querer questionar aquelas manifestações dos diversos povos do mundo, quer dizer questionar aquelas atitudes cívicas tem sido habitual.
    Chegamos ao ponto de questionar isso, como se estivesse tudo dentro do Estado e nada fora do Estado. Quando jovens ainda estão com essa mentalidade é qualquer coisa que chega a ser assustador. Portanto quando tu falas 30 anos da AEMO, foram em que tivemos o nosso crescimento, mas a dinâmica que se quer, na parte dos debates é praticamente nulo, mas devo dizer que é o reflexo de uma situação geral porque até instituições académicas, que devia ser promotoras desses debates, levantando grandes questões sociais e criarem um movimento, aí é que se evitava essa morte. É uma morte lenta de crescimento e de cidadania que estão praticamente adormecidos.

    L: Concorda com a opinião que considera ter havido dentro da associação durante esse tempo, conflito entre os grupos que foram se criando por dentro e que ganharam nome de gerações?
    U.B.K.K: Eu não acredito nos conflitos de gerações. O que eu acredito sempre é que tu como escritor a tua grande luta é no sentido de conseguires publicar o teu texto e de lutares para que ele melhore. Nada de falas.
    Se olhares para mim, para os Craveirinhas, Magaias, eu olhei-os como pessoas que estão no grupo literário em que eu podia entrar e com o meu esforço podia me impor. É obvio que o mundo literário também é tão sódico como outros mundos. É um mundo tão solto, tão transparente, tão sólido como outros, há golpes baixos, há jogos de misérias que se fazem, há todo isto mundo. Mas a pessoa tem que estar acima por vezes, desses particularismos ou entraves. Onde há um ser humano, há duas ou três pessoas há disto, mas fundamentalmente é o texto que deve prevalecer. De certo modo há alguns que sempre teimaram em falar de gerações e de conflitos, mas muitas vezes por de trás dessas acções há alguma mediocridade que impera.

    L: Dos escritores moçambicanos que vão se internacionalizando, temos o Mia Couto, o Eduardo White, agora a Paulina Chiziane, João Paulo Borges Coelho e você, naturalmente. Acha que há novos horizontes a abrirem-se para mais escritores moçambicanos no estrangeiro?
    U.B.K.K: Eu acho que sim. Não te posso falar da poesia que é uma área que respeito muito e tenho uma opinião muito subjectiva sobre ela, mas no campo da prosa eu acho que o espaço não morreu como tal. Eu sou daqueles que digo uma coisa: o grande problema que nós temos aqui não é do aparecimento ou não de escritores que estão na praça. O problema é da massa crítica. Paradoxalmente nós temos gente que sai em número crescente da universidade na área das letras, mas ao mesmo tempo esse número decresce em termos de intervenção crítica. Nós não temos. Eu nasci na literatura no momento em que estavam nascer críticos desde os Noas, Gilberto, Lobo e outros, mas agora não. para tua geração e outra geração vocês nascem com o texto e tem ele e ficam cinco seis sente meses e ninguém fala de si. São esses os grandes problemas que temos que colmatar. Isso se verifica tanto na literatura como nas artes plásticas. Temos um grande movimento de artistas, tu vez aqueles nomes todos, mas ninguém consegue os agregar. Mas quem deve os agregar não sou eu, não é minha vocação, eu não sou crítico. Sou crítico em relação ao meu texto e ao texto do outro, mas mesmo assim, a minha crítica é em função das minhas leituras. Mas uma pessoa que aparece num patamar que é capaz de ver a distância eu posso criticar, em função de que ele não entra na minha linha, é a natureza do escritor. Não colecciono livros sobre a crítica. Agora o crítico esse é que deve ter forças e existir. Por isso que há uns fulanos que são críticos, estudiosos de literatura e que são doutra geração já se utilizaram num mundo em que já se especializaram em determinados escritores e por vezes não temos olhos para o geral. Falta críticos literários, isso é que falta em Moçambique.

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