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    Biografias

    Homenagem ao poeta-mor que nasceu três vezes
     
    Por Eduardo Quive
    A Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) reservou a noite da última sexta-feira para uma conversa sobre o poeta-mor, até então, o maior da poesia em Moçambique e o primeiro autor africano galardoado com o prémio Camões em 1991.
    José Craveirinha, Mário Vieira, J.C., J. Cravo, José Cravo, Jesuíno Cravo ou Abílio Cossa, seja como for, o poeta da luta, nasceu várias vezes como o diz na sua autobiografia.
    “Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto. Isto por parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai, fiquei José. Aonde? Na Av. Do Zihlahla, entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres.
    Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato…
    A seguir, fui nascendo à medida das circunstâncias impostas pelos outros.
    Quando o meu pai foi de vez, tive outro pai: seu irmão. E a partir de cada nascimento, eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Por isso, muito cedo, a terra natal em termos de Pátria e de opção. Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique. A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe preta.
    Nasci ainda outra vez no jornal O Brado Africano. No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noémia de Sousa.
    Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota, sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso.
    Talvez por causa do meu pai, mais agnóstico do que ateu. Talvez por causa do meu pai, encontrando no Amor a sublimação de tudo. Mesmo da Pátria. Ou antes: principalmente da Pátria. Por parte de minha mãe, só resignação. Uma luta incessante comigo próprio. Autodidacta. Minha grande aventura: ser pai. Depois, eu casado. Mas casado quando quis. E como quis.
    Escrever poemas, o meu refúgio, o meu País também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse País, muitas vezes, altas horas a noite.”
    Para falar do poeta, Gilberto Matusse, não poupou palavras e argumentos, tendo o considerado, um homem que nunca se sentia satisfeito com o seu próprio trabalho, sempre acreditou que podia ser melhor.
    A sua poesia objectiva, marca a diferença e a controversa do Craveirinha, quebrando todas as regras, onde a geralmente, a poesia é conhecida como a seguidora da subjectividade, sendo objectiva a narrativa.
    Outros poetas, até chegaram a falar do Amim Nordine (Poeta, declamador e um dos maiores jornalistas culturais de Moçambique nos últimos tempos, falecido no dia cinco de Fevereiro do corrente ano e enterrado no mesmo dia no cemitério de Lhanguene, sem que o país soubesse do acontecimento), outro homem que se dizia operário da poesia.
    Foi dito ainda naquela noite, que as pessoas que sentem a liberdade têm as palavras, exemplo de Amim Nordine e José Craveirinha.
    O evento contou ainda com a presença dos familiares do poeta, Casa Museu Craveirinha, entre outros artistas.

    Livros publicados
    Em termos bibliográficos, o escritor fora um dos escritores moçambicanos, com mais livros lançados, completando seis edições muitas vezes reeditadas, como o caso do Nkaringana wa Nkaringana (era uma vez), Xigubo (batuque) e Maria, para além de ter tido as suas obras traduzidas para várias línguas extrangeiras como Francês, Italiano e Russo, nestas duas últimas línguas, lançou Cantico a un dio di Catrame e Izbranoe.
    Portanto, falar de Craveirinha, é falar de um negro “mulato” que tinha muita expressão na literatura internacional, e um ícone da literatura em Moçambique e no continente negro. Homem que inspira a juventude actual e com certeza, com a imortalização do seu legado, muitas gerações vão se espelhar neste operário da poesia, analfabeto e autodidacta.

    Prémios arrecadados

    Quanto a isso, se pode dizer que José Craveirinha foi um literata com mérito reconhecido e exibidamente explícito na sociedade.
    Primeiro venceu o Prémio Cidade de Lourenço Marques em 1959, de seguida mereceu o Prémio Reinaldo Ferreira do Centro de Arte e Cultura da Beira em 1961, buscou o Prémio de Ensaio do Centro de Arte e Cultura da Beira 1961, seguiu com o Prémio Alexandre Dáskalos da Casa dos Estudantes do Império, Lisboa, Portugal no ano seguinte, Prémio Nacional de Poesia de Itália em 1975, Prémio Lotus da Associação de Escritores Afro-Asiáticos em 1983, Medalha Nachingwea do Governo de Moçambique em 1985, Medalha de Mérito da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, Brasil em 1987 e Prémio Camões em 1991.
    Craveirinha, foi portanto, um colecionador de títulos e símbulos com niguém ainda, na estória da arte de leitura e escrita em Moçambique, posicionando entre os melhores de sempre em África, para além de ter ganho, igualmente, o destaque de ser o melhor da última década, mesmo ter morrido nos seus princípios, isto é a seis de Fevereiro de 2003.

    Craveirinha de Mafalala
    Tal como muitos heróis e homens de grande prestígio na história moçambicana, José Craveirinha, era pobre, e sobrevivente da “Babilónia”, nome que se dá a zonas pobres.
    Neste bairro mítico, nasceu e viveu para além de Craveirinha, expoente máximo da poesia Moçambicana. Neste bairro nasceu e aprendeu a jogar futebol, Eusébio da Silva Ferreira, exímio ponta de lança que actuou no Benfica de Portugal bem como na selecção de Portugal. Samora Machel, Joaquim Chissano e Pascoal Mucumbi, Ex-presidentes e primeiro-ministro de Moçambique, respectivamente, viveram algum tempo neste Bairro mítico dos arredores da cidade de Maputo.

    Breve biografia
    Craveirinha (Lourenço Marques, 28 de Maio de 1922 — Maputo, 6 de Fevereiro de 2003) é considerado o poeta maior de Moçambique. Em 1991, tornou-se o primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa.
    Como jornalista, colaborou nos periódicos moçambicanos O Brado Africano, Notícias, Tribuna, Notícias da Tarde, Voz de Moçambique, Notícias da Beira, Diário de Moçambique e Voz Africana.
    Utilizou os seguintes pseudónimos: Mário Vieira, J.C., J. Cravo, José Cravo, Jesuíno Cravo e Abílio Cossa. Foi presidente da Associação Africana na década de 1950.
    Esteve preso entre 1965 e 1969 por fazer parte de uma célula da 4.ª Região Político-Militar da Frelimo.
    Primeiro Presidente da Mesa da Assembleia-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos, entre 1982 e 1987.
    Craveirinha, era homenageado no âmbito da data da sua morte, que se assinalou, no pretérito seis de Fevereiro.

    Paulina Chiziane: mulher que se iguala a nenhuma

    Texto: Eduardo Quive
    Fontes: Sociedade Editorial Ndjira, Blog da Débora e entrevista com a escritora em Maio de 2010





    Paulina Chiziane, nasceu no distrito de Manjacaze, porvíncia de Gaza, a 4 de Junho 1955 é uma escritora moçambicana, que apesar de ser identificada como romancista, a autora nunca assumiu esta identidade do género literário e classifica-se como uma contadora de estórias longas.
    Com as suas aves formadas nos subúrbios da cidade de Maputo, Paulina, nasceu numa família protestante onde se falavam as línguas Chope e Ronga. Aprendeu a língua portuguesa na escola de uma missão católica.
    Começou os estudos de Linguística na Universidade Eduardo Mondlane sem, porém, ter concluído o curso.
    Iniciou a sua actividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana, como, a Revista Tempo e Domingo.

    Baladas de levaram Paulina para o vento

    Paulina Chiziane, é agora uma mulher do mundo, mas esse percurso foi longo e teve um princípio.
    Esse princípio chama-se Balada de Amor ao Vento, uma verdadeira viagem na realidade moçambicana e caracteristicamente o perfil da Paulina para quem acompanha as suas obras.
    Esta obra retrata, desde a juventude à idade madura, o cenário em que a Sarnau e o Mwando, protagonistas desta eloquente estória de amor, percorrem os dias, os meses, os anos, os encontros e os desencontros, a dolorosa separação, o desespero, o sofrimento, a alegria, as lágrimas e os sorrisos, numa atmosfera que nos envolve e, nos comove.
    «Tu foste para mim vida, angústia, pesadelo. Cantei para ti baladas de amor ao vento. Eras para mim o mar e eu o teu sal. No abismo, não encontrei a tua mão.»
    Mas haverá um reencontro? Serão Sarnau e Mwando capazes de apagar um tão longo e trágico passado? Existirá ainda para eles um futuro a partilhar?
    Voltarás a conseguir esboçar no rosto o teu lindo sorriso, há muito perdido no tempo?
    Abrirás enfim os braços para neles abrigares o amor? Ouvirás a melodia que o vento espalha no universo? Texto retirado da contracapa da obra editada em 1990 e reeditada em 2003 pela editora moçambicana, Ndjira.
    Na segunda viagem, a escritora a voar nos “Ventos do Apocalipse”, lançada pela editora Caminho, em 1999 e reeditada, em 2006.

    Guerra, destruição, miséria, sofrimento, humilhação, ódio, superstição, morte. Este é o cenário dantesco, boscheano, que encontramos nas páginas deste romance. A escritora consegue levar-nos ao âmago do mais baixo dos mais baixos degraus de degradação do ser humano.
    Com ela percorremos as vinte e uma noites de pesadelo e tormentos que foi o êxodo dos sobreviventes de uma aldeia.

    «Se o homem é a imagem de Deus, então Deus é um refugiado de guerra, magro e com o ventre farto de fome. Deus tem este nosso aspecto nojento, tem a cor negra da lama e não toma banho à semelhança de nós outros, condenados da terra. O Diabo, sim, esse deve ser um janota que segura os freios da vida dos homens que sucumbem.» Ndjira.

    Já “O Sétimo Juramento”, lançada em quatro edições, concentra-se num fenómeno que é muito característico nas famílias moçambicanas, mas hoje ainda que de forma oculta.
    Feitiços, tabús, magia negra, fantasia e muito pânico, é a vida que nos é demostrada por esta autora, baseando-se numa família de condições médias, e cheia de muitos problemas, que se supõe que seja obra de feitiçaria.
    Nesta obra, o personagem David, sem se aperceber, entrega-se a magia negra e as tradições mais antigas das famílias moçambicanas, sobrevivendo do curandeirismo e actos assustadores para o seu crecimento económico.
    Por outro lado o seu filho enfrenta uma maligna doença que se manifesta de uma maneira estranha, e assim vai se fazendo esta obra, desvendando estes mistérios que nos levam a delirar a cada página.
    Estas são algumas ideias trazidas em termos da nossa percepção da qualidade bibliográfica da Paulina Chiziane, que brindou as mulheres, já em 2002 com seis reedições que tomaram o mundo.
    Por último, nos trouxe “O Alegre Canto da Perdiz”  que exalta, igualmente, a vida de uma mulher bonita que encanta até homens brancos e “As Andorinhas” que relata a estória de alguns Heróis Moçambicanos, como Eduardo Mondlane.


    Prémios

    Em termos de prémios, Paulina Chiziane, não nos remete a várias viagens, tendo vencido em 2003. o Prémio José Craveirinha, pela obra Niketche: Uma História de Poligamia.
    Mas em termos de acontecimentos mais marcantes na carreira desta escritora, destaca-se a sua designação, pela União Africana (UA), como embaixadora da paz para África em Julho de 2010.


    Sobre o feminismo da Paulina Chiziane

    “Eu sou uma mulher e falo das mulheres”

    Muitas vezes tem se chegado a conclusão de que Paulina Chiziane é feminista, entretanto, numa entrevista concedida ao jornalista Rogério Manjate, a escritora não deu importância, simplesmente escusou-se de assumir ou negar esta postura.

    “Estou me nas tintas... que o chamem. Eu sou uma mulher e falo de mulheres, então eu sou feminista? É simplesmente conversa de mulher para mulher, não é para reivindicar nada, nem exigir direitos disto ou daquilo, porque as mulheres têm um mundo só delas e é isso que eu escrevi, e espero que isso não traga nenhum tipo de problemas, porque há ainda pessoas que não estão habituadas e não conseguem ver as coisas com isenção.”

    Na mesma entrevista, a escritora, falou ainda da sua postura feminina, principalmente, argumentando o factor mulher no auge das atenções no mundo africano.
    “Ser mulher é muito complicado, e ser escritora é uma ousadia. Como é uma ousadia a mulher sair de madrugada ir a praia comprar peixe para vir cozinhar. A mulher está circunscrita num espaço e quando salta essa fronteira sofre represálias, há quem não as sente de uma forma directa, mas a grande maioria...”
    “É sempre uma dificuldade, porque primeiro, eu tenho de provar que sou capaz, depois tenho de conquistar um espaço. Eu tenho que trabalhar muito para mostrar que não foi por acaso que as coisas aconteceram. Mas agora estou numa fase mais estável em que as pessoas já não se assustam e, de certa maneira, já não implicam; mas para chegar até este ponto teve de ser uma batalha.” Disse Paulina.

    Sobre a escrita e a literatura moçambicana, a escritora disse que escrever é uma maneira de estar no mundo. “Eu preciso de meu espaço, é por isso que eu escrevo. Em primeiro lugar eu escrevo para existir, eu escrevo para mim. Eu existo no mundo e a minha existência repete-se nas outras pessoas. E neste caso é um livro, que depois será lido.”
    “Acho que está a ganhar uma dinâmica maior nos últimos anos, há autores que começam a apostar muito seriamente e apresentam propostas novas. E há novos talentos, tantos, mas o que falta é uma mão, por exemplo aqui em Quelimane há um movimento muito grande.”
    Refira-se que esta entrevista, foi feita em 2002, quando o autor da mesma escrevia para o Madeira e Zinco.

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