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    ENTREVISTA A SECRETÁRIO GERAL DA AEMO: “Um escritor calado é um cidadão falhado”

    Eduardo Quive



    Jorge de Oliveira que lidera a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) a quatro anos, está neste momento no fim do seu segundo mandato, nesta entrevista que concede à Literatas em exclusivo, declara a sua saída da liderança como mandam os estatudos da associação “Não penso em sair, vou sair! Já dei a minha parte, agora é vez dos outros. As pessoas passam, as instituições ficam.” Nestas declarações, de Oliveira, não está a dizer que vai retirar-se da associação “Continuarei o membro interventivo que sempre fui, porque o escritor não pode calar-se, um escritor calado é um cidadão falhado”. E são estas declarações que norteiam o espírito do secretário-geral da AEMO que ao que tudo indica, sai da cadeira que ocupa, de consciência tranquila “fizemos muito, muito, muito”. O resto ele diz na entrevista que se segue.



    Literatas: Entra na AEMO em 2008. Em que condições encontra a associação?
    Jorge de Oliveira: Encontrei a Associação a funcionar normalmente. Sabes, isso de trabalhar com organizações de pessoas que pensam e escrevem para o público aquilo que pensam não é a mesma coisa que lidar com uma empresa ou uma instituição que funciona na base de metas, objectivos, resultados, lucros. Não digo que a AEMO não deve ter tudo isso, também temos as nossas metas e os nossos programas de trabalho, mas é óbvio que a forma como lidamos com os membros e como gerimos a Associação é muito sui generis. Por exemplo, quando tens um prazo a cumprir, a forma como o transmites a um escritor é muito especial. Se te armas em esperto corres o risco de ouvir uma resposta do tipo: O escritor não tem prazo. É claro que o escritor também deve ter prazo, mas temos que saber transmiti-lo sob pena dele nos mandar passear. Portanto, para responder a tua pergunta, encontrei a AEMO de boa saúde e segui em frente.

    L: A missão de liderar essa associação de escritores pareceu-lhe fácil? O que tem a dizer sobre isso volvidos 4 anos na posição de secretário-geral?
    J.O: Quive, eu costumo dizer que nada é fácil na vida. As pessoas fazem-se pelo trabalho, pela honestidade, sinceridade e amizade. Foi fácil liderar a AEMO porque tratei as dificuldades com naturalidade, sinceridade, responsabilidade e seguro dos passos que dei. Mas a vida é isso mesmo, trabalhar, trabalhar, trabalhar, gozar, gozar, gozar. Não existe nenhum problema que não se ultrapasse. É preciso pensar, ouvir as pessoas, discutir, e decidir.

    L: Há quem diga que os escritores não têm trabalhado no sentido de se desenvolver a Literatura em Moçambique…
    J.O: Os nossos escritores preocupam-se em desenvolver a nossa literatura porque isso faz parte da vida deles. Não vivem da literatura, mas vivem para a literatura. Isso implica que devem contribuir para o desenvolvimento da nossa literatura. E eles têm feito a sua parte. O escritor, por natureza, é uma pessoa polémica, no bom sentido. Se encontrares um escritor que não levante polémica em cada três palavras que disser, esse é um escovinha, não é escritor. Eles têm trabalhado, têm apoiado, mas a forma como o mundo livreiro se encontra estruturado não permite que façam muito mais do que têm feito.

    L: Aliás, que acções concretas, fez a AEMO sob a sua liderança?
    J.O: Não consigo lembrar-me de tudo, fizemos muito, muito, muito, mas posso adiantar-te algumas coisas muito importantes:
    Criamos o Prémio BCI de Literatura; Elevamos o Prémio José Craveirinha de 5 para 25 mil dólares; Lançamos vários novos autores (Simital, Alex Dau, Clemente Bata, Mukwarura, Léo Cote, Domi Chirongo, Lucílio Manjate, Benjamim Tomás, Chakil Aboobacar, Romão Cossa, Tokwene, Brígida Henrique, Alexandre Chaúque); Realizamos intercâmbio com escritores de outras partes do mundo (Cuba, Portugal, Angola, Estados Unidos de América, Brasil); Conseguimos o selo Made in Mozambique; Coordenamos vários concursos literários; Homenageamos escritores (Marcelino dos Santos, Ungulani Ba Ka Khosa, Calane da Silva); Reeditamos livros desaparecidos da nossa montra cultural há décadas (Suleiman Cassamo, O regresso do morto, Aníbal Aleluia, O gajo e os outros) e, Participamos em actividades literárias internas importantes (festivais de cultura, jornadas literárias).

    L: Há opiniões que apontam para o fraco papel interventivo da AEMO sobre a situação do escritor e do livro em Moçambique. Poderá falar da sua posição em relação a isso?
    J.O: Nós somos uma Associação sem fins lucrativos, é preciso perceber isso. A forma como tratamos o livro e a nossa intervenção no mundo literário não é feita como uma empresa que vive em função dos lucros que alcança. Não digo que devemos viver como amadores, ou que não devemos procurar ganhar dinheiro, nada disso! O que digo é que a forma como a AEMO está estruturada não é adequada para se ganhar dinheiro, não é de uma empresa do ramo livreiro. Eu gostaria que conseguíssemos receitas, lucros, dinheiro, e fizemos algumas coisas nesse sentido, mas enquanto não se mudar a filosofia de vida nesse aspecto específico da gestão, não é possível avançar muito mais do que avançamos. Temos que mudar normas, pessoas e procedimentos.

    L: Na entrevista que fiz ao Pedro Chissano, ele se refere a duas situações que passo a destacar. 1º é o possível “conflito de gerações” que provavelmente terá causado a acumulação de problemas por resolver desde os mandatos que lhe antecederam. Terá encontrado esse cenário? Que posição tomou perante esse problema?
    J.O: O conflito de gerações existe em todo mundo. Não fui eu que o inventei nem serei eu a resolvê-lo. Isso, em minha opinião, não traz problemas, pelo contrário, é uma forma de se unir a experiência dos mais velhos e a juventude dos mais novos. Se reparares, ao longo do meu mandato, procurei sempre juntar a nova e a velha geração. Fica bonito, é uma coisa agradável de se ver. Às vezes, fico triste quando vejo políticos em discussões porque um é desta e outro é daquela geração ou porque os de uma geração não vêem com bons olhos os da outra. A miscigenação de idades, experiências e gerações é uma coisa muito bonita.

    L: Pedro Chissano refere ainda a probabilidade de o actual secretariado estar a funcionar num possível abandono. Concorda? Há uma união por parte dos escritores moçambicanos? E a gestão da AEMO reflecte essa união?
    J.O: O secretariado não funciona a tempo inteiro, nunca funcionou. É preciso não confundir isso com abandono. Temos em vista alterar os estatutos para que se possa contratar, fora da AEMO, um executivo que possa estar na Associação todo o dia e esteja a geri-la numa perspectiva comercial. E isso não é vocação dos escritores, tem que ser alguém formado em gestão. Vamos levar essa proposta e esperamos que a assembleia-geral aprove.

    L: Colocará o fim ao seu mandato na AEMO ou pensa em manter-se? Caso pense em sair, acha que quem podia ser o novo secretário? E que desafios o mesmo poderá ter nessa liderança?
    J.O: Não penso em sair, vou sair! Já dei a minha parte, agora é vez dos outros. As pessoas passam, as instituições ficam. É muito feio alguém querer perpetuar-se no poder. Pediram-me, sobretudo os muitos jovens que lancei e que tenho apadrinhado na inserção no mundo literário, para ficar, mas eu não aceito de modo algum. A Associação encontrará alguém que dê o seu contributo melhor do que eu, e, mais do que isso, o tal executivo ajudará a gerir o dia-a-dia. Continuarei o membro interventivo que sempre fui, porque o escritor não pode calar-se, um escritor calado é um cidadão falhado. Devemos questionar sempre, tudo e todos, senão não somos mais do mesmo, uma inutilidade social. Isso nós não queremos ser.

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