Eduardo Quive
Pela quadragésima sétima vez saímos
esculpindo a palavra. Este parto foi mais uma vez à cesariana como já nos
acostumamos (incrível como nos acostumamos de coisas dolorosas!), mas sempre
fazendo pela sensação estranha de dor e ternura depois de tudo consumado. A
maior alegria é, afinal, ver que não somamos número de edições apenas, somamos
número de vitórias e de realizações. No acto de difundir a palavra “palavra”
não encontramos outra razão se não a alma.
Aí é que começa o campo das
divergências sobre nós mesmos. A humildade que temos no exercício de uma
profissão, neste caso a nobre tarefa de ser escritor e a de ser Homens. Por
vezes, como profissionais de uma área a humildade pode-nos ser imposta, mas
como Homens é sempre uma opção. O que se verifica nas letras é que aliada à
submissão que o escritor tem de si mesmo, tanto a humildade do Homem como a do
Escritor, caminham juntas.
Não queremos nos arriscar em dizer
que o homem que é Suleiman Cassamo é humilde, mas já há provas de que o
escritor Suleiman Cassamo é. Para ainda não ter começado a escrever, um dos
escritores mais conhecidos que o país tem, autor de uma emblemática obra em que
o povo fala por si, deve ser algo grave e, no mínimo, nós esperamos que seja
pelo facto de estar a preparar um livro que ainda pode superar a fama e o
impacto de “O Regresso do Morto”. Caso seja esse o intento, não há espaço para
dúvidas, afinal este é um exemplo directo de que “a pressa é inimiga da
perfeição”.
Mais emociona-nos a cada passo a
descoberta de poetas novos neste Moçambique em que o novo nos foi ensinado que
é duvidoso. Poderá notar o leitor da Literatas
que, embora com alguns nomes já conhecidos, há uma exclusiva maioria em
revelação nas páginas de poesia. Esse é, na verdade, o nosso papel, ir para
além do existente, contornar viagens e fazer com que, como uma andorinha, os
nossos gritos cheguem aos ouvidos dos mais ténues homens que são feitos pelo
silêncio conjuntural. Nós os descobrimos e os trazemos aos olhos atentos que
vós sois e queremos que haja um julgamento justo sobre a sua poética forma de
escrever. O que estaríamos a ser, se o nosso conteúdo fosse o mesmo com os
outros?
Diz-se nas terras moçambicanas que é
mais bom quando se repete, mas nós dizemos que é melhor quando se é exclusivo.
Esperamos um dia ter servido esta e outras pátrias que fazem este rio que se
chama Lusofonia na invenção de novos peixes que poderão conhecer a sua
profissão com a humildade de ser escritor e a de ser Homens, neste caso, com
Sebastião Alba a figurar como a personagem principal.
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