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    A Virgem Sagrada

    De: Nkaringana wa Nkaringana

    Outros demasiados séculos se passaram antes que o inverno imperasse na zona.

    Renunciara-se antes, os deuses dos sacerdotes e dos Cabrais e elegera-se o rei Ngonhama (1) como o régulo mais rei do Deus me livre, como se antes não fosse!

    Mas motivara-se a sua acessão ao rei Cuhanha (2), como coroamento do seu trono que era promissor e demasiado aterrorizante o suficiente para proteger as terras que já eram designadas Livre-me Deus, tendo na mesma altura, se elegido duas raças humanas distintas: as donzelas e os não me toques, cujos seus deuses divergiam, igualmente.

    Era o princípio do fim das misturas entre as impurezas e as mulheres que seriam do futuro mais promissor da terra e inventariam um Deus me livre que trouxesse mais deuses poderosos, com potenciais para conquistar outras redondezas.

    Acreditara-se desde os anos descendentes que as donzelas eram as maiores e melhores feiticeiras que as terras podiam produzir com tamanha produtividade e excesso de conquistas sem fim, principalmente, se se efectuasse o sacrifício da donzela mais frondosa, oferecendo-a ao homem mais forte da zona, que não ejaculara nunca, e se uniam na noite do luar mais inominado.

    Todos concordavam com estas deontologias satânicas e promissoras, compro metendo-se a não abandonar as tradições mais antigas dos deuses da sorte e prosperidade.
    Os não me toques também foram distinguidos dos Zé-ninguém e de outros adimonizados, foi como se tivesse separado a água do óleo. Estes já nasceram diferentes.

    Aproximavam-se outros tempos em Deus me livre. Acompanhando o abandonar das tradições que já ganharam e tomaram espaço entre as raparigas de Maputo e doutras cidades. Passava-se da era dos acontecimentos, tendo se assinalado no próximo século com a ascensão dos não me toques e os seus respectivos deuses.

    Contara-se que os não me toques sempre foram intocáveis. Nunca alguém os pudesse tocar, nem eles mesmos, podiam o fazer... sob decreto nenhum!

    Nasceram numa altura em que o Deus mais poderoso distribuíra os poderes mais satânicos e temidos da terra, por isso foram sempre temidos e aveniados, como um ferro quente. Nunca antes se vira coisa igual!

    Nem mesmo o Umbeluzi (3), com a quantidade de crocodilos já foi tão temido algum dia, muito menos o Zambeze com a sua energia eléctrica dispersara gente da sua aproximação, pelo contrário, pela natureza da desgraça, as maiores comunidades, são dependente de tal água para sobrevivência, mesmo a cada dia haver relatos de mortes.
    Cada vez mais a verdade se expressava na vida dos nativos.

    As donzelas tomaram por outro lado, o seu poder, na noite de transição onde, habitualmente, faziam-se grandes mudanças na zona. As virgens perdiam a virgindade, as corujas tomavam o espaço e outros terrores faziam-se de habitantes em todo Deus me Livre.

    Juntando todos os feiticeiros, desde o nordeste ao sudoeste, mesmo passando pelos céus e pelas terras, escavando qualquer verdade que fosse, mas nenhuma donzela seria descartada. Nenhuma mesmo.

    Mandaram encerrar todas as fronteiras, principalmente a mais infernal, do lado da vila do Leproso, para não permitir que nenhum ser humano daquela espécie se fizesse presente nas escolhas e para não aborrecer os deuses que consagrariam a distinção, tão esperado.

    Seria uma cerimónia que contaria com a presença de todos os espíritos mais temidos.
    Prepararam todas as mulheres da zona, incluindo as mais férteis, como as esposas dos casa sessenta e cinquenta, que pareciam um jambaloeiro de tanto dar filhos, aliás, foram assim chamados porque constituíam famílias com esses números, Sessenta e cinquenta. Essas nem mesmo os cegos as desconhecem, mas tinham que estar lá, na lista de adivinhamento das virgens sagradas.

    Recolheram todas as mulheres, incluindo os bebés mais recentemente nascidos. Não podiam em hipótese alguma a virgem não se achar.
    Estavam todas no centro da vila, nas palhotas da praça dos deuses, lugar sagrado que fizera a vila merecer o Nome de Deus me livre, bem em frente das matas de outros Swikwembos (4) e estavam nuas, do jeito como chegaram a aquelas terras.

    Todas estavam sem roupas, feitas de galinhas depenadas na sexta-feira santa! Nunca antes vira coisa igual.
    Todas as mulheres estavam expostas aos olhares dos homens, alguns não tinham coragem.

    O Padre Couto, não tivera coragem de olhar para a mulher com a qual trai o seu deus, por outro lado, o a honra de outras raças nobres estava em causa. Todas as mulheres estavam lá.
    Filhos que olharam as suas mães em estado de nudez atormentador, e o rei Ngonhama, todo atento aos detalhes de cada mulher.

    Nunca antes vira o corpo de uma mulher com tanta inteireza! Nada estava oculto, o rei fazia questão de confirmar.

    O Deus das donzelas e a virgem sagrada descobriram-se naquela assustadora cerimónia, recheada de verdades, antes obscuras em muitos olhos.
    Pousaram todas as mulheres do Deus me livre, algumas com peitos a bater os joelhos e outras mais lisas que uma parede.

    Surge uma voz repentina no meio do silêncio!

    - Grandes homens, mulheres e mais novos. Deuses dos mulungos (5) e dos Ngonhamas. Deuses dos Ngunis (6) e outros espíritos das nossas terras. Eis as donzelas...

    - Faltou o envocamento dos nossos deuses! Reclamaram de imediato os espectadores da cena.

    O rei silenciou-se perante os gritos que vinham de forma abstracta, mas eram vozes diferente reclamando o envocamento dos seus deus mais supremos.

    - Nós somos os Ndaus (7), mas não ouvimos os nossos deuses!
    - E os Ngungunhanes (8), Zuid (8), Nwamatibsana (8), nós é Changana (9) e Ronga (10)!?

    Todos e outros reclamavam, incluindo os macuas e Macondes (11) que também viram os seus filhos a tombarem para a libertação daquelas terras!

    O rei não sabia o que dizer e determinara instantaneamente!

    - Esta terra não é dos Ndaus, nem dos Changanas, e se mais um quer reclamar, mandarei os feiticeiros mais temidos e confiados para os amaldiçoar. Vocês são imigrantes desconhecidos. Deus me livre não é vosso – Disse.

    Retomando ao seu discurso e sem mais interferências, proclamara.

    - Daqui sairá a donzela de que se precisa para oferecer os espíritos para o sacrifício que salvará os filhos desta terra, e mais nova delas, será sacrificada para o mais poderoso homem na noite mais próxima de lua cheia.

    Iniciava-se assim o rito que punha a prova o feiticeiro de confiança do Rei Ngonhama para adivinhar quem são as donzelas e que de seguida o faria sobre o respectivo Deus que mereceria o presente sagrado.

    E foi assim, até que se distinguira Mhoki, como o Deus representante mais supremo das mulheres preparadas para o futuro do Deus me livre e escondera-se a divida mulher para o sacrifício da noite de luar.

    Assim, As trevas estavam libertadas para dominar naquelas terras e o céu se encheu de escuro que até hoje conduz os destinos de muitos.

    Nem todos a reconhecem como a terra do Livre-me Deus, mas a verdade é que os dias já se passaram e a virgindade depois de passar por muita valorização, passou a ser a meta que nenhuma mulher quer atingir, e a sociedade, essa, nem se quer a valoriza mais.

    Seus os dias que passaram…

    Pequeno Glossário1. Ngonhama – Leão (também usado como nomes tradicionais em Moçambique)
    2. Cuhanha – Viver, vida.3. Umbeluzi – nome de um rio que atravessa a província de Maputo.4. Swikwembos – Deuses, espíritos.5. Mulungos – Brancos (em XiChangana, língua predominantemente falada nas províncias de Gaza e Maputo, no sul de Moçambique)6. Ngunis – Tribo da região centro de Moçambique, concretamente na província de Sofala.7. Ndaus – Idem8. Ngungunhane, Zuid, Nwamatibsana – heróis combatentes da zona sul de Moçambique, no antigo império de Gaza.9. Changana – Tribo da zona sul de Moçambique, concretamente na Província de Gaza.10. Ronga – Tribo da zona sol de Moçambique, concretamente da província de Maputo.11. Maconde –
    Tribo da zona norte de Moçambique, concretamente da província do Cabo Delgado.

    Nkaringana wa Nkaringana - é o nome da coluna de Eduardo Quive, na revista cultural brsileira, OPPERAA, onde o autor publica os seus artigos literários.

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