Conceição
Evaristo nasceu em 29 de dezembro de 1946 numa favela da zona sul
de Belo Horizonte. Teve que conciliar os estudos com o trabalho como empregada
doméstica, até concluir o curso Normal, em 1971, já aos 25 anos. Mudou-se então
para o Rio de Janeiro, onde passou num concurso público para o magistério e
estudou Letras na UFRJ.
Na década de 1980, entrou em contato com o Grupo
Quilombhoje. Estreou na literatura em 1990, com obras publicadas na série
Cadernos Negros, publicada pela organização.
É Mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, e Doutora
em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense.
Suas obras, em especial o romance Ponciá Vicêncio, de
2003, abordam temas como a discriminação racial, de gênero e de classe. A obra
foi traduzida para o idioma inglês e publicada nos Estados Unidos em 2007.
Obras
Romance
Ponciá Vicêncio (2003)
Becos da Memória (2006)
Poesia
Poemas da recordação e outros movimentos (2008)
Contos
Insubmissas lágrimas de mulheres (Nandyala, 2011)
Participações em antologias
Cadernos Negros (Quilombhoje, 1990)
Contos Afros (Quilombhoje)
Contos do mar sem fim (Editora Pallas)
Questão de Pele (Língua Geral)
Schwarze
prosa (Alemanha, 1993)
Moving beyond
boundaries: international dimension of black women’s writing (1995)
Women
righting – Afro-brazilian Women’s Short Fiction (Inglaterra, 2005)
Finally Us:
contemporary black brazilian women writers (1995)
Callaloo, vols. 18 e 30 (1995, 2008)
Fourteen female voices from Brazil (EUA, 2002), Estados
Unidos
Chimurenga People (África do Sul, 2007)
Brasil-África: como se o mar fosse mentira
(Brasil/Angola, 2006)
Recordar é
preciso
O mar vagueia onduloso sob os meus
pensamentos
A memória bravia lança o leme:
Recordar é preciso.
O movimento vaivém nas águas-lembranças
dos meus marejados olhos transborda-me a vida,
salgando-me o rosto e o gosto.
Sou eternamente náufraga,
mas os fundos oceanos não me amedrontam
e nem me imobilizam.
Uma paixão profunda é a bóia que me emerge.
Sei que o mistério subsiste além das águas.
A memória bravia lança o leme:
Recordar é preciso.
O movimento vaivém nas águas-lembranças
dos meus marejados olhos transborda-me a vida,
salgando-me o rosto e o gosto.
Sou eternamente náufraga,
mas os fundos oceanos não me amedrontam
e nem me imobilizam.
Uma paixão profunda é a bóia que me emerge.
Sei que o mistério subsiste além das águas.
Eu-Mulher
Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas.
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas.
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inauguro a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo.
Antecipo.
Antes-vivo
inauguro a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo.
Antecipo.
Antes-vivo
Antes – agora – o que há de vir.
Eu fêmea-matriz.
Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo.
Eu fêmea-matriz.
Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo.
Conceição Evaristo. Poemas da recordação e outros
movimentos. Belo Horizonte: Nandyala, 2008.
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