Ana de Sousa Baptista - Moçambique*
L:
Em que altura e sob que circunstâncias despertou para a escrita?
LM: Em primeiro lugar por ter nascido na
ilha de Moçambique, um lugar que desperta a criatividade, ao ver aquela beleza,
queria poder descreve-la um dia. Em segundo lugar, pela avó que segundo a
escritora era analfabeta ironicamente, queria também um dia saber contar
estórias como a avó. o terceiro motivo está ligado ao papel dos professores,
podendo mudar a vida de uma pessoa. Certa
vez o professor pediu que fizessem uma redacção sobre último dia de férias. O
professor levou a redacção para todas as turmas para mostrar aos colegas, com
todos elogios, decidiu enveredar pela escrita.
L:
A palavra escrita foi para ti um instrumento de auto-conhecimento? De que
forma?
LM: É sempre. Quando se escreve
consciencializamos o inconsciente. Por isso acaba sendo sempre um exercício de
autoconhecimento, quando se põe determinados sentimentos em algum momento temos
a atitude interiorizada. Ajuda a pessoa a conhecer-se, e ficar consciente se
quer assim ou não.
L:
Que influência teve a escrita para ti? Contribuiu a escrita para o
desenvolvimento do feminino na mulher/autora? E o contrário? O ser mulher
influenciou a sua escrita, considerando a mulher nas duas diversas dimensões (mãe,
filha, esposa, amante)?
LM: Nunca analisei nada nesse aspecto,
mas a minha escrita não é conscienciosamente feminina. O facto de apresentar
obras aceitáveis e ser mulher, elevou-me de certa forma a auto-estima, o mesmo aconteceria
se fosse homem. Deve ter havido qualquer mecanismo inconsciente que favoreceu a
mulher naquilo que escrevo.
L:
De que forma se revela o feminino na sua expressão escrita?
LM: Houve uma tese de defesa de um aluno
da Universidade Pedagógica que foi sobre a mulher sofrida na minha obra e a sua
tese foi aceite. Toda a minha obra é baseada na realidade, e a mulher
moçambicana é sofrida, é natural que ela apareça como sofrida. Gostaria que
apareçam mais mulheres a escrever o outro lado.
L: Que
papel social assume a escrita, pela mulher e pela autora, em particular?
LM: A escrita tem sempre algum papel
social, por partilhar com a sociedade. Influenciando ou consciencializando,
nesse caso se as pessoas lêem.
L:
A escrita é um caminho, um percurso? A que conduz a autora? O que procura na expressão
escrita?
LM: A escrita é um caminho que me conduz
a auto realização, sensação de liberdade, pois quando escrevo sinto-me
independente. Todas minhas obras foram escritas não só pelo prazer. Ninguém Matou Suhura, por exemplo foi uma maneira emocional negativa que
o colonialismo me dava. Só deixei de sentir depois de escrever.
L:
Contextualize o tema da Roda da Palavra: A palavra e a Mulher – fonte do
auto-conhecimento e construção social.
LM: Ao longo dos séculos a mulher tem
sido um Ser sem voz. Por isso é natural que quando se pensa na mulher pense-se
na palavra, quando lhe é negada a palavra torna-se invisível, isto dá campo a
atitudes perversas como o de amparar falsamente um lugar.
L:
Indique um seu trabalho, texto, excerto, algumas palavras da sua obra, que
contextualizem o leitor no tema.
LM: Quem não sabe donde vem, não sabe
onde está nem para onde vai.
_______________________
*Ana de Sousa Baptista é uma criativa que nasceu no sul de Portugal, em Março de 1971.
Enquanto autora literária, a sua primeira obra publicada foi Fragmentos - Livro I (Intensidez, 2006), no ano de 2006. Possui textos publicados em revistas de literatura e em
selectas/antologias em Espanha e Portugal.
0 comentários:
Enviar um comentário