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    Prosa Poética de Aline Pereira


    Aline Pereira – Rio de Janeiro

    O meu herói é um sertanejo perseguido pela polícia, ao mesmo tempo em que sonha com uma história de amor. Todos esperam fugir com o que ele esconde, e sentem muita sede, mas a água é propriedade da mulher que esfria sob a iluminação dramática da biblioteca. Ele se pergunta se ela estaria no palco de encenação das nuvens, enquanto a moça é envidraçada, como ossos de crianças vendidas por igrejas romanas. Ele, que um dia guardara o sonho no fundo dos olhos, foi o arquétipo romântico que a leitora inventou. Rebelde, apaixonado, veio atrás da observadora estática de um olho único. Eram tantos livros que ele apenas sorria com seu par de órgãos em movimento constante. Bastava. Ela era cinza, fria e dura mesmo antes de morta. Agora, as esmeraldas pelas quais ele se perdera cabem num baú sob a terra. A terra é lugar dele também, mas seus pés ainda pisam o chão, e ele sente na palma a correnteza do rio que passa por debaixo. Seu nome, o pai lhe dera porque achava bom. Vinha de uma família de homens. Fosse um nome de mulher como Ismália, ele mesmo, o pai, levantaria uma torre alta para pular no espelho em noite de lua gorda. Mas a mata, a biblioteca, e todo espaço é agora para o meu herói um tempo em suspensão, onde se encontram o silêncio e a ausência. A mulher morta que ele amou sempre teve predileção pelo oculto e pelos labirintos cheios de dobras como origamis. Ela não buscou nada, tampouco fugiu, mas ele foge o tempo todo, e também busca e carrega o que pode. Para trás apenas a cabana queimada, sem sementes. Conforme a hora do dia, ele chega numa praia e observa o mar aludindo ao eterno movimento do universo e da vida. O fim do mar não há, mas o outro lado sim. Do outro lado, os pássaros observam o snorkel no arquipélago. Na Ilha, meia dúzia de esposas sabem que o céu está a venda, e do barco o homem do leme grita pra elas: "Forjai lâminas!" Elas tremem pois sabem que precisam mesmo das armas. Meu herói, que já não  é mais um menino, nunca teve mãe. Um menino, se descoberto, foge pra casa mesmo que sua mãe não permita a sua entrada e o obrigue a se desculpar com as onças. O meu herói não vai poder terminar a sua caminhada em busca do arco-íris. Ele mergulha no tanque elíptico do infinito para esquecer que nunca deixou de ser homem. Nadando o quanto pode nesse espaço que não se permite conhecer, atualiza-se em peixe, renascendo do inusitado, e adquire formas e cores variadas, fazendo seu corpo flutuar no encantamento.





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    Aline Pereira


    Sou formada em Publicidade, atualmente estudo Letras (Português / Literaturas) na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), tendo optado pelos estudos literários. Colaboro com trabalhos em pesquisa de Literatura Brasileira. Tive um artigo publicado na revista SOLETRAS (UERJ) em 2010, Traços do Decadentismo na poesia brasileira de 1880 a 1920: Raimundo Correia e Gilka Machado. No mesmo ano ganhei o segundo lugar, no gênero Poesia, em um concurso de Literatura promovido pela UERJ, e meu poema Sonolência foi publicado na revista Relevo (UERJ). Dedico-me a escrever poesia e prosa poética, deixando alguns de meus escritos no blog http://tudomenosumpouco.blogspot.com/. Entrar em contato com outros textos, como os contemplados pela revista Literatas, é certamente de meu interesse.



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