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    Literatura e independência de Moçambique


    O País

    Foto: Blog-Mashamba

    Moçambique comemorou os 36 anos da independência, conquistada cinco séculos depois do domínio português. Às 00h00 de 25 de Junho de 1975, Samora Machel, primeiro presidente moçambicano, proclamou a “independência total e completa” do país.

    Introdução

    As literaturas africanas de língua portuguesa têm procurado,   conscientemente ou não, uma relação equilibrada com as influências deixadas pela presença dos portugueses. Este processo pode ser chamado de descolonização, que é visível em várias formas nas  literaturas em questão. O processo também pode ser visto, tendo fases diferentes que são aqui apresentadas, com exemplos da literatura moçambicana.

    Caminho da independência

    A par de outras expressões culturais, a literatura pode em grande medida antecipar mudanças sociais. Em Moçambique, numa primeira  fase, aparecem expressões que discutem a condição dos colonizados,   como em Godido e Outros Contos, de João Dias (1952), que descrevem  a vida quotidiana dos negros, em Nós Matámos o Cão Tinhoso, de Luís  Bernardo Honwana (1964) e as que formam poemas de resistência cultural nos trabalhos de Noémia de Sousa e de José Craveirinha. Mas do panorama literário moçambicano a caminho da independência, também fazem parte os escritores de origem portuguesa que se arredaram destas questões. Assim, a literatura antecipa mudanças, discutindo temas que mais tarde se tornam centrais nas sociedades que lutam contra o  colonialismo. Trata-se da emergência de uma nova literatura que expressa a voz dos colonizados, de uma nova forma em relação à  literatura colonial que, nesta fase, e embora de forma subtil, pode ser  vista como uma plataforma onde as situações sociais são discutidas. Em relação às formas de expressão, é interessante considerar que os autores escrevem contos, e que o conto, ao contrário do romance, deve mais ao contexto da literatura oral do que à influência dominante da  tradição ocidental.

    Em direcção ao equilíbrio

    Nas últimas décadas têm-se discutido vários temas na literatura  moçambicana. Por exemplo, Ungulani Ba Ka Khosa, no seu Ualalapi (1987) discute o passado moçambicano e a personagem de Ngungunhane, mas também aponta críticas às políticas dos  primeiros anos da independência moçambicana. Por seu lado, Paulina Chiziane tem destacado a situação e vida das mulheres, bem como as  diferentes tradições existentes no país. Mia Couto ficou conhecido pelo uso criativo da língua portuguesa, inspirado na criatividade dos  contadores de histórias.
    Pode considerar-se que a obra de Khosa marca uma nova pluralidade cultural no contexto moçambicano. Ele e vários outros escritores e poetas questionam a uniformidade da poesia de combate. Tanto o colonialismo como a luta anti-colonial começam a ter menos peso e mesmo nas obras que discutem o passado, o foco passa a incidir sobre a situação actual. Escritores, usando a língua que antigamente era  europeia, expressam realidades do seu país, recuperando as tradições,  conhecimentos e valores que ficaram na sombra do colonialismo e eurocentrismo.

    Conclusão

    Sendo assim, o lugar da herança portuguesa é posto em causa, questionando-se a superioridade cultural europeia e avivando-se as culturas locais e a tradição oral. Sendo possível ver que a literatura antecipou a independência, é possível pensar que ela também pode antecipar e discutir as relações actuais e futuras  entre as ex-colónias e a ex-metrópole. Neste processo, é possível ver-se uma “provincialização” de Portugal ao nível cultural, político e epistemológico. Este processo também pode oferecer novas  perspectivas para a cultura lusófona em geral e para a cultura  portuguesa.
    *Texto adaptado do original “A Herança Portuguesa e a Literatura Moçambicana”, de Ana Poysa

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