O livro de poemas “Sentimento do Fim do Mundo”, de
Willian Delarte, dialoga, ao seu modo torto e particular, com a quase homônima
obra de Drummond "Sentimento do Mundo" (1940), assim como, aqui e
ali, com toda a sua obra. É, na verdade, uma carta dirigida ao gauche de
Itabira com notícias íntimas, poeticamente insanas, do "Nosso (líquido)
Tempo" - este pós-moderno, globalizado, digital, que nos escorre pelos
dedos.
"[...] O
"fim" pode ser o limiar da voz em muitos níveis, menos no da ingênua
retórica dos profetas de plantão, tão repetitivos, tão óbvios, tão sem memória
de outros pressupostos "fins". Ao "fim" liga-se, na nossa
cultura, todo o senso comum de um momento especial que é o revelado apocalipse,
mas, segundo a boa observação do poeta deste livro, o fim não é um futuro
aventado. Ele diz respeito ao tempo presente de um "Mundo que se
mundializa/ ferozmente" (Implosão Demográfica) e à nossa consentida
indiferenciação frente à torrente de acontecimentos/notícias. [...] Willian Delarte inscreve-se
no universo literário no fluxo do repertório de uma vastidão de poetas lidos,
estudados e amados no curso de Letras e ao longo da sua vida de leitor, também
oferece uma flagrante percepção subjetiva/objetiva que pode nos contagiar com
outros nexos. Por isso, remeto o leitor ao início, à epígrafe que abre esta
obra — "Se eu quisesse, enlouquecia", retirada do texto
"Estilo", do poeta português Herberto Hélder. Enquanto nesse texto o
personagem escritor diz não enlouquecer porque tem um estilo construído com a
música de Bach e a matemática, apesar de simultaneamente ouvir os gritos loucos
das crianças, o "eu" que se vai escrevendo na oferta com o
"sentimento do fim do mundo" nos explicita a qualidade alucinada que
é tentar resistir ao reino do "terrível normal inabalável"
("Caro Carlos"), ou, de outro modo, à desproteção do hipnótico medo
que alguém sente quando decide publicar a sua poesia. Nessa condição, o destino
de um livro é tão enigmático quanto um dia claro; a poesia escrita atrairá seus
leitores e novos interlocutores e os desafiarão a pensar sobre seus modos de
inexistência."
*passagens do prefácio
escrito pela Profa Dra
Mônica Simas (USP)
1 comentários:
Obrigado pela citação, queridos amigos da Literatas!
O livro pode se encomendado pelo site da editora Patuá: www.editorapatuá.com.br
abraços
Delarte
Enviar um comentário