Eduardo Quive
Foi revelado semana passada, em Maputo, o vencedor do
maior prémio de literatura em Moçambique, atribuído pela Associação dos
Escritores Moçambicanos (AEMO) e Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB). A
escritora Lília Momplé é a vencedora do Prémio José Craveirinha 2011, avaliado
em 25 mil USD, cerca de 700 mil meticais. Sucedendo Calane da Silva, vencedor
da edição 2010.
Lília Momplé que
inicia a sua carreira oficializando-se como escritora com a publicação da
reconhecida obra “Ninguém Matou Suhura” aos 53 anos de idade (1988), uma edição
feita pela própria autora cujas reedições já chegam a cinco.
Desde aos seus
primeiros passos, ao estilo característico de bons escritores, Lília soube
definir as linhas que norteariam a sua escrita, o que ainda hoje, a tornam num
exemplo quando se fala de fidelidade aos conflitos sociais e internos entre a
cidadã que há na alma de escritora que ela tem. Predefiniu-se como contadora de
histórias verdadeiras, sem inventar os factos, afinal, o país vivia (e ainda
vive) acontecimentos que segundo a autora não carecem de dramatização. Assim
surge o “Ninguém Matou Suhura” que nos referimos.
“Escrevi porque tinha uma carga
muito grande sobre o colonialismo em Moçambique. Eu tinha raiva do colonialismo.
Muita raiva. Tinha a raiva da injustiça. Eu nunca me conformava por tudo que
via: massacres sofrimento, opressão isso incomodava-me.” Conta a autora.
Aliás, desse livro, faz parte o conto
“Caniço” vencedor do prémio 10 de Novembro de 1987 a quando dos 100 anos da
cidade de Maputo, facto que enche de orgulho a Lília Momplé, fazendo questão de
recordar o acto mesmo por que foi no mesmo local, Paços do Conselho Municipal
da Cidade de Maputo, que recebeu o Prémio Craveirinha. Só que desta vez foi
para celebrar a sua carreira literária de mais de 25 anos, motivo ainda maior
para celebrar.
“É muito emocionante para mim, voltar a este
paços do conselhos municipal, 25 anos depois para receber mais um prémio e como
se não bastasse, o maior do país. Fico contente por receber o prémio
monetariamente porque um escritor nunca é rico, os editores são ricos, mas os
escritores raramente são ricos.” Disse Lília Momplé, logo depois de receber o
prémio.
O Prémio José Craveirinha passou desde, 2010 a premiar o
escritor pela sua carreira, pelo que, passou dos 5 dólares americanos que
ostentava para os actuais 25 mil financiados pela Hidroeléctrica de Cahora
Bassa (HCB), cabendo a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) a nomeação
do vencedor.
Lília Momplé, à semelhança de Calane da Silva, vencedor
do prémio na edição 2010, foi premiada não só pelo livro “Ninguém Matou Suhura”
que se destaca dos livros que publicou, mas também por outros livros seus,
nomeadamente, “Neighbours” (1995) e “Os Olhos da Cobra Verde” (1997), e por
outras tarefas artístico-culturais em que se empenhou ao longo da sua vida. Eis
o resumo do seu curriculum.
Lília Maria Clara Carriére Momplé, nascida a 19 de Março
de 1935 na Ilha de Moçambique, província de Nampula, a norte de Moçambique, é
Assistente Social de profissão, com licenciatura em Serviços Sociais.
Foi professora de Inglês e Língua Portuguesa na Escola Secundária
de Ilha de Moçambique e directora da mesma escola entre 1970 e 1981.
Trabalhou como assistente social em Lisboa, Lourenço Marques
(actual cidade de Maputo) e em São Paulo, Brasil, em 1960 a 1970.
Em outras missões, Lília Momplé foi, de 1992 a 1998,
directora do Fundo para o Desenvolvimento Artístico e Cultural (FUNDAC) e de
2001 a 2005, membro do Conselho Executivo da UNESCO (Organização das Nações
Unidas para Educação, Ciência e Cultura.
No seu percurso literário, dirigiu a Associação dos
Escritores Moçambicanos (AEMO) de 1991 a 2001, como secretária geral, de seguida
ficou presidente da Mesa da Assembleia-geral da mesma agremiação.
Ainda na arte, a escritora publicou o «Muhipiti-Alima» um
vídeo de drama, editado pela PROMARTE em 1997.
As obras da Lília Momplé, já foram editadas em Inglês,
Italiano, Francês e Alemão.
Neste momento, a escritora faz parte do «Internacional
Who´s Who of Authores and Writeres» e desde 1997 é membro de «Honorary Fellow
in Literature» da universidade IOWA dos Estados Unidos da América (EUA).
O júri da
presente edição do Prémio José Craveirinha foi presidido pelo escritor e
professor de História, Ungulani Ba Ka Khosa, integrava ainda o escritor e
docente de Literatura Moçambicana, Lucílio Manjate, escritor Aurélio Furdela e
o conhecido crítico Jorge de Oliveira que foi coordenador da Gazeta de Artes e
Letras da revista Tempo e actual secretário geral da AEMO.
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