Japone Arijuane - Moçambique
Era uma tarde de Dezembro, o sol no auge dos seus afazeres; as senhoras estavam ali, por baixo da mangueira grande; local onde em tardes como estas deslumbra-se um cenário a capulana e ornamentado a fofocas, aliás, uma das funções mais célebres que gente dessa idade e sexo cumpre categoricamente. As crianças bem de tronco nu corriam por trás de qualquer coisa, desde rodas, arcos e elas mesmas. Perto dali localizava-se a estrada grande, - murampani. O miúdo, viera num aceleramento motorizado, com as mãos encenando o volante de uma motorizada, quando derrapou ao pé das mulheres, ouviu-se sermão, - não tens respeito...?, ele ainda não havia ganhado o fôlego. O papo ao ar das senhoras donas de casa parou no ar, na esperança de ouvirem um justificativo que seja, do tamanho afronto a idoniedade, esbugalhadas olhavam para o miúdo que, como uma galinha procura sustento ao papo, procurava ar para tira as palavras. Quando o mwanamwana pensou que disse algo afinal só havia gaguejado e tanto. O aspecto do miúdo agastava mulheres, aquelas senhoras de idade e responsabilidade alheia, pois quando se é mãe nada tranquiliza as mulheres se não o sosego dos filhos; as mães não vivem suas vidas, mas a dos seus filhos.
- Tia… tia Odete... mano Doutor Afonso vem aí...
As mulheres precisaram de um tempo para descodificaram a soletração do miúdo, mesmo assim se desfizeram da esteira. A dona, a tal tia Odete, foi a primeira a manifestar um gesto de percepção. Camafulada de intuição feminina; retirou-se dos aposentos, a capulana nas pontas dedo; como se, de uma população de formigas se trata-se, correram uma atrás da outra; no mesmo gesto de uma bengala a tactear o chão. Todas dirigiram-se a estrada, seguindo aqueles olhares cegos de alegria. Lá vinha o Doutor Afonso, agora Doutor, os dentes a substituírem os lábios. Dana Odete reconheceu seu Doutor, bem Doutor; como sempre o quis que fosse assim, estava ele ali vindo; uma pasta nas costas e uma mala na mão. Descera do nguinga-taxi apouco. Guardava a mesma fisionomia que levar a onde hoje vem. A dona Odete parou boquiaberta, lembrando-se do dia que o vi partir; ainda vinha-lhe a lembrança do dia em que teve-o pela primeira vez nas mãos e como era, tão pequeno e meigo seu projecto de triunfar. Não foi por acaso que o baptizou de Doutor logo a nascença. Na altura o país todo vivia uma proliferação do ensino superior, surgiam universidades de noite para o dia, como cogumelo em épocas pós-chuva; surgia e pronto, do nada; e por vezes incógnitas. O nome Doutor era moda, alastrou-se como uma praga de gafanhotos em machambas de arroz, quanto menos se esperava aí estava um doutor, sujo gordo, mas um doutor. Nesta altura bastava só frequentar o ensino superior. Não interessava o curso muito menos o ramo para se ser Doutor.
A Odete estava no quinto mês de gestação, quando foi convidada a participar na festa de graduação de um conhecido; um conhecido que quando estudante conhecido por nada ter, além dele mesmo; a pobreza era o que o caracterizava. A partir do dia da graduação a vida mudou, não precisou de seis meses para ter carro e casa própria. Foi a partir desta experiência que a Odete forjou o nome para o seu feto, antes mesmo do mês da luz, o bebé já era Doutor. No décimo segundo mês, as mulheres gritaram -...Bem-vindo Doutor. Na verdade Afonso foi o nome que depois do doutor ter noção das coisas se auto-cognificou, para evitar os berros, mas mesmo assim. E como Afonso doutor não soa bem, ficou Doutor Afonso e vulgarizou-se. Rezam os factos que, um dia, uma família precupadisimaveio a procura do Doutor, feito o inquérito, um membro da tal família padecia de uma doença rara; quando a dona Odete fez presente o seu Doutor, no meio de tanta patologia houve um momento cómico.
O doutor Afonso, cresceu sabendo do bem o seu propósito na terra, fazer-se verdadeiramenteum Doutor; ingressar em qualquer ensino superior, esse era o passo certo. Pois quando se interioriza algo, facilmente é a sua exteriorização; a fé mais uma vez mostrou seus dotes a realização, logo que fez o ensino secundário o doutor seguiu sua sina. Foi bem na capital da país que o Doutor foi fazer-se doutor, onde o mesmo viveu durante cinco anos, nos quais nunca havia regressado até então.
Quando a dona Odete o tocou as mãos, torrencialmente as lágrimas inundaram o rosto, as outras mulheres melancolicamente reassentavam-se delas mesmas para dar lugar o entusiasmo, aproximaram-se e em coro: Bem-vindo doutor.
1 comentários:
Abraço,Japone,te felicito pela tua coluna nesta importante revista,e como não poderia ser,importante veículo para informação e formação do povo.Gostei do seu posicionamento de critério,quando temos a euforia duma lembrança,nacional ou individual,do passado,e ao mesmo tempo,esquecido do momento presente,e as suas mazelas.Reforço o abraço,até!
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