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    As fases do adultério

    De: Djokanhane- Maputo

    Querido, fica com a miúda um pouco, que hoje vou sair, não demoro.
    Eram dezasseis horas de sexta-feira quando Catarina, mulher de Carlitos, casados no registo civil, com uma missa na Igreja Petencostal Deus é Amor, saiu para um passeio com um desconhecido, dia dos homens, em que se metem no copofonismo sério, sexta-feira que Carlitos não tinha outra coisa a fazer, a não ser estar diante à televisão, aparelho que comprara a uma destas lojas da grande cidade, custando-lhe três meses na quebra do salário, assistia a um jogo de futebol da liga dos campeões, cuidava da filha que brincava desprotegida com os seus brinquedos.
    Ao intervalo do jogo  corria apresado ver a miùda com os brinquedos à boca, retirava e falava, como se a miúda entendesse naquela idade, preparava uma sopa, não podia dar-lhe de comer à boca porque o jogo ia a começar, da geleira tirou uma cerveja e voltou a sentar-se diante ao seu ecram gigante e a miúda de lado, olhou para o relógio e não se interessou pelas horas, a miúda reclamou com a quentura. Puxou, soprou, e sem olhar colocou o prato sobre o canto da mesinha, deramou-a toda, a miúda chorou.
    Levantou-se a limpar e prometeu outra, dirigiu-se à cozinha e a miúda bebe toda a cerveja no copo.
    O choro da miúda levou Carlitos a voltar a sala à velocidade de jogar atrás da bola, pensou no mal, carregou-a ao colo. Acalmou-a, cheirou cerveja pela boca, pensou pela segunda vez, viu tristeza, golo, perdia sua equipe, foi buscar outro prato.
    Catarina dentro de uma viatura com um desconhecido, rumavam a um canto calmo da cidade, onde iriam beber, dançar a noite toda.
     Conversaram de como se conheceram enquanto jantavam, de seguida sairam a uma boate, nome que levam as casas nocturnas de dança, as cargas corporais uniram-se ao som suave da música misturada pelo disco joker, conheceram-se no casamento da Filó, amiga da Catarina.
    Catarina:
    <<O que mais queria naquele casamento era, sairmos dalí juntos e terminar a noite nos teus braços dentro de um lençol.>>
    As horas iam andando como se estivessem contra aquele adultério, quando Catarina se levantou para juntos levarem o terceiro plano, uma pensão. Entra na mesma boate a Julieta, amiga da irmã do desconhecido e colega da Catarina no mesmo edifício de trabalho. Não fez mais nada a não ser levar a mão à boca e baixar a cara, virou-se de costas e falou com seu companheiro.
    Catarina passara e não a viu.
    Julieta sentada com Julião seu companheiro, bebiam, reparou no relógio, já passavam das vinte e três e cinquenta, pensou em ligar à amiga, ficou distraída, Julião seu amante, perguntou. Leia mais

    <<Tás bem querida?>>
    Ela:
    <<...claro, só, estou a ... deixemos vamos a uma dança.>>
    Queria Julieta ligar a alguém, mas pensou no que iria dizer e o que fazia na boate sem o seu esposo.
    Dançou, beijou-o, acariciou-o, perdeu os passos da dança.
    O relógio tocou à meia-noite.
    Faz nove horas que o jogo e sessão da noite acabou. Carlitos derrubou uma caixa de cerveja, a miúda dormia, olhou mais uma vez ao relógio da parede, não acreditou, não conseguiu apanhar sono, estava preocupado com a esposa. Sempre que sai e demora liga para dar notícias, até quando comete adultério. Pensou no telefone que dava ao vestíbulo do quarto do casal, discou números conhecidos.
    “E se a cunhada ficar preocupada, depois liga a mãe e todos entram em pânico, se é para baixar o meu stress”, em gramática portuguesa não achei outra palavra para atribuir a indivíduos que estão sob um pensamento de mau agoiro, discou, tocou, a demora para atender acicatava a sua mente, já a desligar, quando uma voz rouca soletrou.
    A cunhada:
    <<Aaalôoo!>>
    Eu:
    <<Alô, é a cunhada Carina?>>
    A cunhada continuando com o suspiro:
    <<Sim... quem fala? E são horas de ligar?>>
    Eu:
    <<Desculpe cunhada, sou eu o Carlitos.>>
    Ela incauta:
    <<O que se passa?>>
    Eu:
    <<É a tua irmã, desde que saiu às dezasseis horas ainda não voltou e queria saber se não sabes nada.>>
    Ela lívida:
    <<Ó cunhado, por aqui não passou, liga às amigas.Tchau...>>
    clique!
    Ficou mudo. Pensou.
    O adultéro:
    <<Quem era? O seu marido?>>
    A adúltera”
    <<Não paixão, era o panaca (palavra feia que as mulheres usam para os homens), do meu cunhado Carlitos, a Catarina saiu e deixou-o a cuidar da casa e da miúda...mordeu aqui, mordeu acolá como um rato, não encarou a coisa como devia ser, onde é que estávamos?>>
    Esta minha cunhada, não se interessou pelo sumiço da irmã, será que devo continuar a ligar? Ou entrei batendo as palmas para a dança mas não sei a cantiga?
    A sogra.
    O auscultador finalmente levantou.
    Eu, insistindo preocupado:
    <<Sou eu, o Carlitos.>>
    O coração da sogra teve um reflexo de aumentar a adrenalina, sentou-se para melhor ouvir a notícia.
    A sogra:
    <<Fala logo filho, que já não suporto a sua pausa.>>
    Eu, ainda no mesmo estado de sempre:
    <<É a Catarina, sumiu desde às dezasseis e ainda não voltou... liguei à Carina, também não sabe…>>
    A sogra:
    <<E as amigas?>>
    Eu:
    <<Ainda...>>
    <<Vens buscar-me e vamos aos hospitais procurar, ou em casa das melhores amigas, e a miúda?>> Rematou a sogra mãe preocupada.
    O preocupada:
    <<Está deitada, mas como ir ao hospital nesta madrugada, se lá estivesse teriam-me ligado logo, não se esqueça que sou doutor, também disse que ia perto.>>
    Ja noutro estado a sogra, a zurzir:
    <<Podes ser doutor e o teu nome ser conhecido em todos os hospitais, mas a tua mulher deve estar onde o teu nome não é conhecido, pára de ser... ouviste cantar o galo mas não sabes aonde? Queres meter-te na conversa sem saber do que se trata? E saia agora a procura dela, filho queres que eu tua sogra faça isso por ser minha filha?>>
    Eu, louco:
    <<Não, eu vou, descance.>>
    Sou um escudo feito de folhas de árvores.
    É eloquente, sabe falar, dizer, ter peito, expressão que indica menos a força ou timbre de voz, como poderia parecer, do que a clareza de exposição, a força do arrazoado, o poder de convencimento.
    Um clic ecoou no ouvido da sogra.
    Puxou o casaco, meteu as chaves do carro no bolso,espreitou a filha, beijou-a na testa, fechou a porta, caminhou até à porta principal, esticou a mão ao interruptor das luzes do corredor e o telefone tocou.
    Apressou-se, e uma voz feminina soletrou.
    <<Ola, é o senhor Carlitos?>>
    Carlitos:
    <<Sim, quem fala?>>
    Amiga:
    <<Aqui é, a amiga da sua esposa, desculpe ligar a essas horas é que só agora mesmo acabamos de fazer bolos  para o casamento duma prima minha, e ela pediu que a viesse buscá-la, aqui no bairro do alto maé na rua dos amores perdidos, casa nº 2975, rés-do-chão.>>
    Um surriso sarcástico:
    <<Posso falar com ela?>>
    Ela, a tal amiga:
    <<Está no banho.>>
    Clic! 
    A sabedoria morrerá com ela, dentre os machanganas (designaçāo que leva o povo do sul de Moçambique na província de Gaza), como em geral entre todos os bantu, o coelho, mfundlha, lebre, personífica a esperteza e a astúcia, conseguindo quase sempre, pelas suas artimanhas, levar a melhor, falará com ela no dia justo, não montará o ichó perfeito, pensou.
    Querido, vou sair e não demoro e veja onde está, no alto maé a fazer bolos, tenho de atravessar a outra cidade. Pensou.
    Os faróis eram a única companhia na estrada, os cães cruzavam-se apressadamente, os gatos brincavam pulando nos telhados, ligou o rádio do carro para ouvir uma música que o animasse, “ja tive mulheres de varias cores, idades”, aumentou o volume, pensou no casamento a que não foi convidado, pensou em não ir se o convidarem, leu no vidro do carro em frente ”há um corno, designação correcta na gramática do português ao referirem os chifres do boi, toro, e que o homem atribui a outro homem quando a mulher lhe troca com outro homem, quando a mulher trai com outra mulher,lesbianismo, este não tem a designação corno, mas sim homem impotente em satisfazer a mulher sexualmente na cama, seguindo-me” balbuciou a face, reduziu a marcha, piscou, sorriu. A música dominava os seus ouvidos, olhou para o espelho retrovisor, viu o agente da polícia na moto a dar sinal de parar, encostou, mostrou o documento do partido, a música” u tsika ukatine zabelane“. Pensou nas música. Não deu conta do semáfero, desceu, procurou a rua, ninguém por perto para perguntar, a não ser cães, gatos, e homens dormindo nas portas de lojas encasacados e com armas de todo o calibre, recordou-se dos velhos tempos da escola quando saia da Manyanga com sua turma à procura de pitas, (designação que levam as mulheres pejorativamente quando os homens as conquistam), porque pita é uma planta amarilídea ou aguardente de figos, ou homem maricas, encontrou. Uma viatura vermelha em frente ao prédio, vidros fumados, fez o que não devia, buzinou na madrugada, uma luz no rés-do-chão acessa, a porta abriu, duas mulheres sairam, sua esposa  de capulana e blusa diferente da que tinha quando saiu de casa, de nada vale a beleza sem a virtude, a um figo, (fruto silvestre de uma árvore enorme como o cajoeiro), maduro não faltam bichos dentro, apresentou a amiga, despediu-se e a marcha aumentou, o carro vermelho acendeu as luzes, seguiu até a curva, virou no sentido contrário, a música continuou a vencer o interior do seu volvo.
    Andaram mudos até à brigada.
    Eu:
    <<Então não podias ter dito que vinhas fazer bolos?>>
    Minha mulher:
    <<Não estava destinado que fizesse, quando cheguei à casa dela, a pessoa que devia faze-los não veio, ficamos horas à espera e nada, por fim acabei ajudando, só recordei-me depois que não te avisei e pedi que ligasse.>>
    Eu, calmo, doce:
    <<E esse casamento que não disseste? É receber um favor e não ter com que retribuir!>>
    Ela, atenta as questões mais vociferando nas respostas:
    <<Não é. Não vou participar.>>
    Eu ledamente:
    <<Não vais e fazes bolos? Mulher as estopas ao pé do lume não estão seguras, sabes disso?>>
    Ela verónica:
    <<Isso não é nada. Testemunho dum só não faz fé.>>
    Eu:
    <<Quem casa deve saber quem leva. O que faz o buraco cai nele.>>
    Ela:
    <<O que queres dizer?>>
    Eu:
    <<A filologia conduz ao crime, a semiologia conduz ao ciume, o ciume ao massagre. Deixemos.>>



    O coelho não salta de alegria em dois lugares...
    Aos homens de toda a sorte...


    II

    <<Cossa, há muito tempo que não te vejo, onde tens parado?>>
    <<Por ai...ando agora com uma mulher de posses. A tipa tem o marido no Djoni,( fala popular moçambicana ao referirem a Johanesburg), trabalha no subterrâneo, os estudiosos dizem minas, é destes que só voltam no natal.>>
    Assim começou o dialógo entre o Cossa e Simbiane.
    Simbiane:
    <<E andas a possui-la o que tem entre as coxas? Vê-la se não ficas de vez dentro, ouví por aí que estes tipos que trabalham na terra do rand, (moeda usada na África do Sul), têm uns poderes superstíciosos terrívéis, se o gajo te apanha colado estás mal,  Cossa!>>
    Cossa:
    <<Uma montanha não se sobe a correr.>>
    Cossa não tinha identificação no bairro, conheceu a Nhety, mulher, esposa de cerimónia tradicional do Magaiza, nos meados do mês em que terminava a lua, numa destas ruas desabitadas pelas luzes dos postes, estava indefesa quando ouvia a doce e suave voz do Cossa.
    <<O que faz uma senhora tão frondosa e bonita, desprotegida a andar nestas ruas do bairro?>>
     <<Desculpe sou o Cossa, assim me chamam os amigos, tenho a residência a uns quarteirões do bairro. Não sabe que não se cava o buraco da mamba? Mas pode-se espreitar, é depois da casa da Marta, mulher esta que vende o seu produto a todos, até as crianças no recreio vão a correr comprar os rebuçados à sua barraca.- Rematou.>>
    Nhety:
    <<Sim, conheço.>>
    Andaram rumo à casa da Nhety, no portão que dava à porta principal, todo decorado com os melhores produtos da terra do rand, a pintura era de um azul cor do céu com dizeres na portaBem vindo à casa do Magaiza”. O portão não roncava. Nhety parou, despertou o cerebro. <<Muito obrigada pela companhia-disse ela>>.
    Nhety:
    <<Esta é minha casa com meu marido é bom voltares se não as vizinhas vêm e comentam.>>
     O rosto nem sempre mostra o que vai no coração.
    Cossa:
    <<O Magaiza!? Voces não tem filhos? É verdade? Todo mundo no bairro diz isso, eu  sou novo cheguei a pouco, tenho já um ano mas nunca vi crias por aqui, queres falar  disso?>>
    Nhety:
    << Não. Não faz parte da sua vida saber o que si trata em nossa casa, os que ti disseram essa bobagem tem inveja da minha riqueza e passam a transmitir ideias ao meu marido..>>
    Cossa:
    <<Como…?!>>
    Nhety:
    << …Como eu sair desta casa e arranjar outra, como meu marido voltar as origens da nossa tribo, falar com os ancestrais…este tipo de ideia que não traz felicidades em meu leito.>>
    Cossa:
    <<Mas é verdede isso, menos esta de saires de casa, mas esta de voltar a tribo há uma necessidade de realizares o khu djoka. Sabes o que é?>>
    Nhety:
    << Não?>>
    Cossa:
    << khu djoka, cerimónia tradicional feita para uma mulher que não consegue conceber o primeiro filho.>>
    Nhety:
    <<A wunghanu i wupfundzi, são ricos os que têm amigos, obrigada.>>
    Nunca ouviu falar do tal nome, o Cossa desde que ali chegou nos anos noventa, recuou os passos e tomou outra direcção, a casa da Marta, onde sentou-se e pôs-se a beber do melhor, perguntando o imperguntável aos colegas da budega, os mais sinceros disseram de boca cheia, para não se meter com a esposa do Magaiza.
    O Chirindza contara uma estória ao Cossa que começou a rir... levando os que souberam a pousar os copos desordenadamente.
    Chirindza:
    <<Ouve cà Cossa, é verdade, aquele gajo já apanhou um tipo que estava a possuir a mulher, o gajo parece ter um nhamussoro, (pessoa vocacionada para tirar maus espiritos e ler o futuro de outrem), pesado, aqueles de Mambone, (um distrito da província de Inhambane ondem dissem haver mas superstição na zona sul do país), sem que ninguém ouvi-se e viu com os olhos que Deus lhe deu, ouviu os gemidos que a Nhety fazia quando era o gajo a funcionar, saiu e foi buscar os irmãos e cunhados próximos para verem e assistir o acto, quando o gajo desprendia o líquido da germinação, teve um susto que o caralho amoleceu sem esperar baixar a tossa,  Nhety puxou os lençois de vergonha e pôs-se a chorar  sem que lhe tocassem. O gajo viu cinco homens com habenas, saiu da cama em direcção a janela, que estava gradeada, voltou e sentou-se a tremer como se estivesse em contacto com uma cascavel, uma das piores serpentes venenosas e rapidas em atacar a presa.>>
    Xavier:
    <<O gajo, o Magaiza disse: agora que possuiste a minha mulher sob os meus lençois vindo do Djoni, eu Magaiza  só aceito-a de volta depois de ti possuir. Todos ficaram incrêdulos, não entendiam com o possuir do Magaiza.>>
    Chirindza:
    <<...Quero que abras o que tens sobre as tuas nadégas, e bem mesmo vou enfiar o meu caralho e em movimentos fortes como faço com minha esposa, far-te-ei, se não gemeres como ela, enfiar-ti-ei pela boca que ousou em tocar os lábios da minha esposa querida esta que mão posso abandoná-la porque os espiritos assim querem, não tens o direito de reclamar, se o fizeres terás a morte mais estranha, não te enfiarei a navalha do Djhoni, prateada com o gold, da gramática portuguesa ouro, que extraiu no subterrâneo, mas sim, tu e tua família acabarão como o rio quando seca na época mas quente do ano.>>
    Xavier:
    <<…o tipo não fez mais nada a não ser aceitar e em movimentos brutais, o gajo gritava pedindo desculpas aos mudos, deramando o sangue da virgindade, sujando o chão e os lençóis do Djonis, até a saida do líquido.>>
    Chirindza:
    <<O gajo saio da casa, do bairro, da província, do país e nunca mas ouvimos falar, e a estória, é verdadeira Cossa, como ficou gravada na mente de todos os homens do bairro que quisseram levar a Nhety à esteira. >>
    Xavier:
    <<Por isso Cossa, cuida-te que a serradura não cobre o saco de carvão, as moscas não demoram detectar o cheiro da merda.>>
    Chirindza:
    <<Procura o mel da imbonga, (pequena abelha que constroi o favo debaixo da terra, à profundidade de um metro mais ou menos, e geralmente em terreno muito duro), que ninguém vai te dar na bandeija, porque se fores um habitudinário Cossa...>>
    <<A pele prepara-se na reunião dos velhos.>> Respondeu Cossa aos seus companheiros de budega.
    Chiphefo;
    <<Cala-te, não sabes o que dizes, logo tu, que a tua mulher abandonou o lar porque ela serviu primeira a coxa da galinha no prato dela, e seguida te dando a sua parte, ela comeu a parte dos homens, e não gostaste da atitude, o que fizeste?>>
    Mandou vir com o Xavier  o Chiphefo.
    Chiphefo:
    << Vá em frente Cossa, estes gajos são umas hienas, não querem que tu, como tiveste a sorte de ser aceite pela Nhety desfurtas o que a vida dá, vá e faça bom serviço de homem.>>
    Xavier:
    << Não ti esqueça que há no casamento e no amor muito mais que ir para a  cama juntos! O marido dela não só a quer para isso que tu queres ó Cossa.>>
    Foi-se um silêncio no ar, os copos, as goelas, as gargantas, tomaram conta do silêncio em casa da Marta.
    Cossa:
    <<Este gajo é um tapado, era um djita, (diz-se aqueles que aceitam tudo de mão beijada sem reclamar), eu Cossa não posso aceitar, estrangulo os gajos no quarto até a morte, já viste um gajo  me comer o rabo, e a Nhety como ficou depois desta merda?>>
    Xavier:
    <<Ao menino e ao borracho põe Jesus a mão por baixo.>> Calmo na santidade, xavier respondeu sem ter que entrar em zaragatas com o Chiphefo por tanta ofensa.
    Chirindza:
    <<Ouví das bocas que mais soam no bairro que ela nunca mais ousou em meter outro homem naquela casa, já passam bons anos que ela nunca fez o tal adultério quando o Magaiza está no subterrâneo.>>
    A planície nua e estéril, a perder de vista, representa as misérias e o sofrimento da vida.
    O céu roncava, as nuvens se movimentavam, se uniam carregadas de chuva, as chapas de zinco entoavam sons de nostálgias, uma rua vagatuba, um silêncio, a barraca da Marta fechada antes da hora, só fechava a saida do último cliente, as crianças encolhidas nas esteiras mijavam propositadamente com medo do frio, mesmo sabendo que ao acordarem receberão chicotadas dos pais em jeito de educá-las a não mijarem na esteira, algumas aceitavam a sova e diziam palavras nunca ouvidas pelas mães que agarravam ao marido pela dor que sentiam ao atribuirem aos filhos mijõens, os que dormiam na cama já não mijavam, só molhavam as cuécas com os sonhos do importunio ao recordarem  as raparigas do bairro que brincavam amatuétue levantando saias e mostrando as pernas lisas, calcinhas limpas e outras xidzudzadas, sujas, com um amarelo na zona vaginal de mal lavadas que eram, corriam a retrete e retiravam as cuécas lavando-as de seguida com medo do chicote do velho.
    Uns abrem o poço os outros vem só tirar a água,  os copofónicos aperceberam-se da tristeza, esperavam o sol beijar a manhã.
    Os cães não latiram durante a noite, os mochos não pararam de piar, era tristeza.
    Chirindza:
    <<Vizinho, o Cossa, atirou-se a água sem saber nadar, está estatelado na rua todo ensanguentadao em frente a casa do Magaiza, acho que está morto.>>


    Leão cansado é comido pelas hienas...

    III

    A esperteza não chega a ser batida pelos raios do sol, do dia seguinte.
    Pensava o Carlitos enquanto Catarina agia, e a criança crescia, o homem cujo adultério cometia com a mulher esposa de casamento com um registo na Igreja Petencostal Deus é Amor do Carlitos pensava, discou o telefone.
    Matusse esposo da Carina regressa mas uma vez do estrangeiro, foi um regresso sem pré-aviso, meteu-se no taxi, (carros de aluguer com pronto pagamento), andaram quilometros do aeroporto até ao seu bairro chique da cidade, olhou o taxista, trazia um goro e rasta, (cabelos longos criados a partir de um processo longo até chegar onde se quer), espreitava no fim da linhagem do goro, casaco preto de cabedal, uma foto do Bob Marley, rei da música reggae, fumador de mbangue, maconha, suruma, cannabis, chegava a fazer 1kg por semana, deixou sua música que continua sendo tocada até hoje, pendurado no espelho retrovisor, perguntou se a selecção ganhou, a resposta foi triste, aterrorizadora, zangou-se com a selecção, o taxista aumentou ainda a sua ira quando lhe falou do gajo que ouviu no rádio.
    O taxista:
    <<As mulheres são uma merda.>>
     Há certas circunstâncias em que toda vertude é pouca.
    Homem e mulher juntos é palha junto ao fogo. Vem o diabo e sopra.
    O taxista:
    <<Ontem quando voltava, ligo a rádio e um homem foi condenado a trinta anos de cadeia por ter espancado um gajo até a morte, porque encontrou-o  a fornicar sua esposa em sua casa, na casa de banho...esta merda não pode ser, um gajo dá de todo e até o impossivel à uma mulher, mas logo que o pessoal sai ao trabalho, lá está o sono a matar o leão, ela a fornicar com outro tipo na nossa cama sagrada, no teu sofá que compraste com grande esforço no job,( designação que leva a palavra trabalho em inglês popular moçambicano), na cozinha, as mulheres são uma merda...Desculpe se tem mulher não a confia tanto.>>
    Matusse:
    <<E tu?>>
    O rasta:
    <<Tenho, mas não a confio, e digo-a de cara que se um dia apanho a cometer uma das fases do  adultério, juro por todos os mortais e imortais que não sei o que lhe faço. E tu o que farias?>>
    O empresário:
    <<Separava-me dela para não ter de ficar anos na cadeia.>>
    O taxista:
    <<E se amasses tanto como o  gajo da rádio?>>
    O empresario sereno:
    <<A ira aplaca-se com  a paciência. Sepava-me e amava outra...foi bom conversar, fico nesta rua na casa em frente.>>
    O guarda não estava no portão, carregou a mala, dentro do quintal, as luzes acesas, o cão trancado.
    Os passos normais, a porta destrancada, o sistema elêctrico de segurança  desbloqueado, no casarão às luzes mornas, da sala uma luz com sombra, um silêncio da sua Nucha, cadela peluda, na sala um casaco colado ao cabide do corredor, dirigiu-se a  enorme cozinha donde vinha um cheiro de queimadura, uma panela.
    Um cheiro acompanhado com gás, não fechou e levou rumo aos 69 degraus que faziam do 1º a 2º andar, se multiplicavam com medo de chegar logo a sua suite, castanhas de petiscar com wisky na mesa de centro, um copo, sua garrafa de white Horse, som musical da sua aparelhagem sony comprada no shopping, viu imagens imaginárias, colocou o pé no primeiro degrau, pensou no taxista, subiu, os degraus múltiplos, os músculos inferiores prendiam, uma força subnatural surgia, desconcentrava-o.
    Os limites frequentes entre o regulado são os acidentes naturais de um rio ou ribeiro, o coração ja não tinha a vontade de regular todo o comportamento moral, o fatalismo, cruzou-se com a esposa de bandeja na mão que a deixou cair no susto de ver o marido, soletrando um grito de morte, de medo, de tristeza, de azar, de terror.
    O homem levantou da cama como se tivesse visto uma cascavel,(diz-se de uma serpente venenosa, americana, da família dos vipéridas, que se desloca produzindo um ruido semelhante ao de guizos) num movimento rápido vestiu as calças, crusou com os olhos do empresário Matusse, ficou trêmulo, sem nenhum movimento bárbaro, não como os ratos que se comem uns aos outros, a mulher segurou-o, pronunciando palavras desconhecidas dos nyamusoros, ajoelhou-se para o corpo inerte, o homem desceu a uma velocidade incalculável, parou, descerniu coisas, olhou para trás, não ouviu nenhum dizer do Matusse, pensou.
    <<O braço é o servo do coração.>>
    Matusse, não conseguiu resolver a questão, desfez-se dos braços da mulher continuou a andar até ao quarto, sua suite, viu um ambiente de  kama sutra que nunca lhe tinham proposto, balbuciu, acordou, caminhou para a varanda sem grades.
    Os homens odeiam-se enquanto vivem, não se odeiam depois da morte.
    A morte põe fim as inimizades, subiu ao varão, a mulher, gritou, <<Macuácua socorro>>, virou-se de costa e jogou-se, subiu as escadas com medo da morte, pensou no diabo parou, ouviu gritos ensurdecedores, caminhou ao quarto viu Carina na varanda gritando até despertar os cães, os guardas que dormiam deixando às casas desguarnecidas, os mulungos do bairro da sommerchield.
    Os guardas alertavam-se ao som dos apitos, todos as correrias dirigiram-se ao quintal onde jazia o cadaver do Matusse em, cima do seu Mercedes Benz, as armas brancas e negras roncaram para fazer justiça.
    Os cães ladraram até desafinar a voz, o vidro perfurou o corpo, algumas tripas  sairam, o sangue jorou até parar, ninguém tocou no corpo, ninguém acreditou que era o empresário Matusse ali estatelado feito um cão atropelado, alguns guardas pensaram que o empresário lançou o guarda, todos questionaram, onde esta o guarda Chico?
    Os mulungos,(após a colonização passamos a chamar mulungo a todo indivíduo de poses elevadas, não o mulungo branco do termo rasico), do bairro que ouviram os gritos, chamaram a polícia, a ambulância, os bombeiros, o exército, a guarda marinha, até os putos mendigos que pernoitam próximo chegaram com ramelas na face com vontade de surpiar qualquer merda chique, sujaram a água que iam beber, as sirenes ouviam-se lá no fundo da kenneth kaunda, amarraram os rubens e os vestidos de dormir sexies, chamaram o  António, o Joaquim e mais guardas para abrir o portão, ninguém presente, estavam a assistir o cadaver do empresário Matusse e a tentarem entrar na casa que cheirava a gás, deixado no fogão aceso a horas e o esquento empretisado de queimaduras.
    Acabaram abrindo pessoalmente os portões com raíva dos guardas que assistiam o acto macabro do adultério.
    Alguns correram por verem o seu mulungo a chegar no local do suicída.
    Ninguém ainda tinha coragem de entrar porque os gritos não paravam, as sirenes mais próximas, travagens bruscas, afastavam as pessoas para poderem reanimar o cadáver, a polícia arrumbou a porta e uma explosão, projectou os agentes da saúde, da segurança, os vizinhos do empresário que espreitavam pela janela, os vidros cactearam, feriram, os vidros da vizinhaça racharam. Corpos de guardas, mulungos, agentes, apareceram, o incêndio tomou proporções, os da salvação ainda continuavam camaleando a chegar, tiveram de chamar os do aeroporto para auxiliar,  mais ambulâncias vieram, o exército veio ajudar a procura de corpos, a esposa do Matusse morreu, destroi a floresta que lhe abrigou onde construiu sua povoação, o Macuácua foi evacuado ao hospital da terra do rand, juntamente com dois putos mulungos, e um guarda que foi levado ao Hospital Central, enquanto os outros a Clinica 222, da Sommerchield, Cruz Azul. A rádio foi a primeira a chegar e a divulgar em directo, a desgraça que o adultério provocou no bairro da sommerchield na noite do dia 14 de Fevereiro.
    Os dias de luto passaram, os rostos já eram rostos normais, os mulungos despreocupavam-se com o trabalho quando deixavam as mulheres só, alguns passaram a contratar detetives, alguns guardas perdiam emprego por não saber onde a senhora fora quando o mulungo perguntava no regresso, era uma desconfiança total que se viveu no bairro chique até os dias de hoje.
    As investigações iniciaram depois do oitavo dias, a missa realizou-se em casa dos seus pais, a casa ainda a preto de queimadas, todo em cinsas, os bombeiros apagaram o que se podia apagar, a polícia questionou aos sobreviventes, a família do malogrado empresário, o único que podia dizer é o vizinho Macuácua sobrevivente que fora a terra do rand receber tratamento.

    Djokanhane - Pseudónimo de Izidro Dimande, escritor, docente e cursante de História na Universidade Eduardo Mondlane em Maputo. É também Coordenador do Movimento Literário Kuphaluxa, entidade proprietária deste blog. Este texto, foi estraído de um conjunto de textos que vão formar um livro que pretende publicar um dia com o mesmo título.
    Poderá ver a obra completa, publicada gradualmente nesta revista.

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