Hilário Matusse – O País
Concretiza-se, nestes sete contos, o objectivo de preservar o que de melhor a tradição/via oral nos proporciona, ao mesmo tempo que o HM contribui para o tão almejado desenvolvimento das competências nos domínios da leitura e escrita.
1. Quantas caras têm o medo? Ou entre o medo e o infinito da realidade é como se pode ficar no fim da leitura deste livro com um título sugestivo e convidativo, na medida em que remete para um campo agressivo e muito profundo que é o terror.
2. Hilário Matusse, escritor e jornalista moçambicano, juntou-se à Colecção Karingana – o espaço de maior prestígio que a Associação dos Escritores Moçambicanos edita e no qual, por via de regra, desfilam os melhores contistas deste país, estreando-se no género conto com estas “Sete Estórias de meter medo”.
3. E ainda bem que assim o é, ganha o autor e ganham as letras moçambicanas.
4. “O seu coração balança sensibilizado, e decide levar o bebé envolto em lençóis brancos que visualiza, estirado no chão arenoso defronte da sua casa para lhe dar conforto e dar, do bom coração de sua Margarida, o calor que a mãe que o abandonara não teve.”
5. Na verdade, e ainda que não sejamos atingidos pelo medo que as estórias comportam, deixamo-nos envolver pelo seu conteúdo e pela forma sublime com que se conta, juntando-se, assim, de um modo feliz, história e arte – ainda que as peripécias sejam estórias e não histórias.
6. “Aquela espera da hora do encontro tornava-se cada vez mais um suplício. Quase agoniava, e, impelido pela vontade de rever a sua amada, ganha coragem de ir procurá-la em casa, da qual só conhecia o quintal de chapa de tambor espalmada. E abalou-se.”
7. Concretiza-se, nestes sete contos, o objectivo de preservar o que de melhor a tradição/via oral nos proporciona, ao mesmo tempo que o HM contribui para o tão almejado desenvolvimento das competências nos domínios da leitura e escrita, bem como o alargamento e aprofundamento dos hábitos de leitura e escrita na nossa sociedade.
8. “Mas com o tempo, que cura tudo, as coisas lá se foram compondo. Construiu uma barraca para substituir a cubata; cercou-a com vedação de caniço e até colocou um portão de Madeira, ainda que mal amanhado. Casou-se, prosperou e até comprou uma bicicleta.”
9. Quantos medos nos metem estas estórias? Os que quisermos. Não aceitá-lo seria negar ou ignorar a magia que a diversidade cultural moçambicana comporta; e uma sociedade não se atropela nem se esquece, pois ela convive com o medo e a coragem, lado a lado, daí que tenhamos sido brindados com esta obra tão imbuída de uma linguagem requintada e, acima de tudo, de uma atitude aberta e múltipla.
10. “O sol estava no pico quando o regressado assomou e atravessou a entrada da delimitação da sebe de espinhosas que circundava as várias palhotas do seu clã. Ulularam, cantaram e dançaram todos os membros da família. Afagavam-se ainda em abraços e beijos, quando de repente Mundlelevo, quase petrificado, balbuciou: - O morto regressou?!.”
11. Só com diversidade poderemos ser mais de nós mesmos, só com alternância de ideias, escritas, rescritas, renovação das artes e letras e refrescamento de ideias a arte avança, a vida avança.
12. O debate faz bem, quanto menos tivermos o que se chama de ‘mais do mesmo’ mais a nação avança. HM sabe-o bem, por isso esta sua contribuição naquilo que são os patamares mais superiores da nossa liberdade cultural, o seu livro segue a luta que se baseia no slogan Abaixo as mesmices.
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