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    Africanidades: Das literaturas identitárias à identidade da literatura


    Victor Eustáquio - Portugal



    Não subscrevo a ideia de que exista literatura africana. Como não subscrevo a ideia de que existam outras literaturas sitiadas por fronteiras geográficas. É certo que as narrativas constroem-se como representações do Mundo que olhamos e vemos. Mas as afectividades culturais, sociais e porventura políticas que cada autor expressa, mesmo as de militância, devem aspirar à universalidade. É que catalogar essas representações como manifestações de um determinado espaço circunscrito mais não é do que tornar a literatura refém de mura-lhas, fazendo o elogio de uma política cultural identitária, a mesma que dividiu o Mundo e em que se fundaram tragédias como o eurocentrismo ou a conflitualidade Norte-Sul. A literatura é património comum da Humanidade e deve ser vista como africana enquanto e apenas indicador da representação cultural que faz, o que a enriquece, pela sua particularidade, como deve suceder igualmente com qualquer obra de qualquer outra parte do mundo, sempre sem perder de vista o princípio de que a criação artística tem de ter uma vocação universal. Só assim é possível entender e aceitar a diferença, só é assim é possível combater a intolerância para que também, na literatura, não se repita a história.

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