Dany Wambire - Beira/Moçambique
Era o tempo de matrículas, gente se alvoraçando em tudo o que é escola desta
nostálgica cidade muitos têm saudade dela, mas poucos a querem habitar. O
camarada Maventura saiu, bastante cedo, às 2 horas da madrugada, para ser uma
das primeiras pessoas da fila, e vencer automaticamente uma vaga das escassas
existentes.
Aqui, na verdade, as infraestruturas escolares são tão poucas, que cabem
apenas as moscas, por causa de sua pequenez e da capacidade de partilha
espacial de que dispõem. E não se sabe de quem é o problema. Talvez seja das
autoridades governamentais, como apregoa o meu avô. Contentaram-se com as
exíguas escolas herdadas do colonialismo, e agora edificando uma a uma, como se
não se exigisse pressa. Talvez seja do próprio povo, que se multiplicou de
forma exagerada, longe do controle das autoridades governamentais.
Nessa manhã, segundo dia do mês de Janeiro, o vizinho Maventura madrugou,
pois, a cumprir a bicha. Mas antes de percorrer por completo o perímetro do seu
quarteirão, foi surpreendido por três jovens, desconhecidos até ao momento. Os
jovens, mal viram o senhor Maventura Campestre, se chegaram a ele, falando-lhe:
― Pai, não vai mais adiante, lá em frente estão uns gatunos.
― Aonde mesmo? ― Quis melhor saber
Maventura Campestre, já assarapantado.
Respostas nenhumas lhe vieram. Apenas um pau já lhe tinha visitado a região
da nuca, principiando-lhe a agressão. No seguido, uma rasteira mal aplicada
quase lhe deixava lamber a terra. E ele se conservou em silêncio, incrédulo.
Estaria ele perante salteadores nocturnos? Tratar-se-ia de acidente de percurso
daqueles jovens, outrora conselheiros? Valeu que os jovens lhe tenham dado uma
bofetada a lhe confirmar o assalto. E o comandante desatou a gritar, exigindo
auxílio dos que o podiam ouvir.
― Socorrooooo!
Estava assim a suplicar por socorro, quando, de inopinado, avistou uma
gigante pedra tremeluzindo entre os capins. Se debruçou a apanhá-la, e atirou-a
de encontro ao rosto de um dos salteadores. A acção da pedra foi tão forte, que
o efeito se fez sentir até nos não atingidos, que fugiram todos em debandada.
E, em diminutos minutos, cumpriu o céu o seu dever de cor, clareando o dia.
As escassas pessoas que haviam saído para socorrer Maventura, admoestaram-no a
ir participar a ocorrência à polícia. Que fosse informar à polícia que um dos
gatunos, ainda a monte, cedo ou tarde procuraria por serviços hospitalares,
pois levou com pedra na cara, convocando terrível sangramento. Era urgente ir
no encalço deste gatuno!
Naquele mesmo dia, decerto, o gatuno se apresentou num hospital. Não foi ao
do bairro. Lá seria descoberto, pensou ele. Foi ao regional. Chegado lá, os
enfermeiros se atentaram nas explicações do doente, sobre a forma como ele
contraíra o terrífico sangramento:
― Eram cinco gatunos que me atacaram a caminho do serviço. ― Explicou o paciente. ― Estavam munidos de armas, sei lá se eram brancas,
pretas ou azuis! ― Concluiu.
No seguido, os enfermeiros aconselharam-no a participar a ocorrência ao
polícia ali próximo, em serviço naquele hospital regional. Para seu azar, todos
os polícias já estavam informados da presumível vinda de um paciente sangrando
no rosto. Bastava, de resto, o local do sangramento e o local da ocorrência,
para permitir o seguimento das investigações policiais.
Destacaram um polícia para assistir ao tratamento do queixoso. E o jovem,
ingénuo, pensou estar a ser protegido como vitima de assalto, é claro.
Terminado o tratamento, um carro policial estava à sua espera, para o
apresentar no posto policial da zona, onde ele supostamente fora salteado. E
era neste posto policial que estava aguardando o meu comandante, o verdadeiro
ofendido.
O oficial da polícia em serviço ouviu, no seguido, a explicação do
recém-chegado queixoso. O jovem se explicou, como já fizera no hospital
regional, enquanto o oficial o acompanhava, circunspecto. Depois sucedeu o
inesperado por parte do jovem recém-adentrado pela esquadra policial. O oficial
mandou chamar o comandante Maventura Campestre, até ao momento ocultado, e
perguntou seguidamente ao jovem:
― Este é o senhor que te assaltou?
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