Dany Wambire - Beira/Moçambique
Os resultados das
eleições já há muito eram conhecidos. E não estavam longe das previsões,
confirmando as sondagens. E o presidente tomou posse ante os apoiantes
eufóricos, muitos deles desejando de imediato recompensas do apoio de que eles
prestaram ao recém-eleito presidente da autarquia. Acotovelam-se no partido de
que presidente fazia parte, uns dizendo que eram mais membros que outros. Até
uns chegavam a interpelar o presidente apenas para maldizer dos outros:
― Aqueles estão a
aderir ao partido só para tirar partidos.
E diziam mais.
Acusavam alguns que viram fulanos metidos em conversa com sicranos do partido
da posição ou oposição. Tristonho! Parece-me que custa ser dirigente numa
autarquia como a nossa, a de Fim-de-Mundo. Pois, para além de satisfazer os
interesses dos munícipes, deves recompensar com coisas imediatas aos seus partidários.
E caso não o faças conspiram-te, até de te demitirem? Sei lá, respondam os que
conhecem disciplina e indisciplina partidária.
Sei, sim, que
quando o genro de meu avô, Genrónimo Comichão, entrou para a autarquia, a mesma
tinha muitos problemas. Havia desordenadas construções de casas, construções
sem as respectivas licenças. Até em valas de drenagens havia gigantes obras,
edificadas ante o olhar e ouvir impávidos das predecessoras autoridades
autárquicas.
No resto, os
vereadores do anterior governo, os que demoniacamente engendraram e permitiram
a evolução dos supracitados problemas estavam no rente governo autárquico, não
de pedra e cal, incumprindo as respectivas funções. Só o novo edil não os exonerou
para uma boa imagem política. Pois, nos tempos que corriam soava bem para os
doadores ouvir que um governo tem na sua
estrutura membros
de partidos da Oposição ou da Posição.
Entrementes, de
imediato, o presidente quis atacar os problemas que encontrou, ordenar a destruição
das infraestruturas desordenadas e as edificadas nas antigas valas de drenagem
e que em tempos de cheias os proprietários exigiam assistência humanitária,
curiosamente. De imediato, também, a ideia de presidente venceu adversão dos
vereadores, encasquetando-lhe:
― Não faça isso,
sua excelência, se não perderás muitos votos nas próximas eleições.
O edil não
desandou, a decisão manteve-se. E, logo que a decisão foi posta em voga pela mídia,
as pessoas e outras visadas desataram a maldizer em surdina: queremos ver,
vão morrer, isto é Fim-de-Mundo, que se coloquem a pau, vão avariar esses
guindastes.
No seguido, os
guindastes, essas máquinas de levantamento de pesos, estavam no terreno a
exercer o trabalho. Mas a dado momento, enquanto o trabalho se exercia, desatou
a jorrar sangue através do chão da máquina. Vinha de onde? O combustível da
máquina se convertera em sangue? Não. Soube-se instantes depois quando o
proprietário do sangue, já enxuto, menos pesado que papagaio, não mais
respirava. Estava morto, pés involuntariamente afundando os pedais.
O presidente e os
criminalistas entenderam aquilo como normal, de hemorragia externa se tratava.
E foram a conduzir a máquina de destruição tantos outros maquinistas, num
número de 20, tendo sido todos acometidos pelo igual azar: tremendas hemorragias.
Enquanto isso, as pessoas visadas festejavam sem pompas, mas com
circunstâncias.
Foi, então, a partir deste momento que o edil decidiu criar um gabinete,
que responderia prontamente aos problemas, o gabinete de assuntos tradicionais,
depois passado para gabinete de Magia. Contratou os respectivos recursos
humanos, quatros famigerados curandeiros, e orçamento, como ordenavam as
intestinais regras autárquicas, aprovado pela respectiva Assembleia Municipal
de Fim-de-Mundo (AMFM).
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