Dany Wambire - Beira/Moçambique
Está
mais do que provado que educação tradicional, a educação não formal, está a
cair de páraquedas abaixo em Fim-de-Mundo, resultado da influência virulenta da
globalização. Entre as educações, triunfou a educação informal, trazendo novos
valores, produzidos copiosamente pela modernidade. Sim, foi-se abandonando os
preceitos da educação tradicional, a educação não formal, e também a ela.
Então, perdeu-se uma instituição que preparava homens e mulheres para a
construção e a harmonia sociais.
E ganhou, como já disse, a educação informal, a que os fim-de-mundenses
apelidam-na educação de rua ou conselhos de rua. E a cumprir esta educação,
está Tugénio Escandaloso, homem antes bastante observador dos bons costumes.
Livre dos comuns vícios, Tugénio viu sua felicidade ameaçada aquando de uns
conselhos que ele recebia numa certa barraca.
Tudo começou quando os amigos convidaram-no a beber. Ele foi a acompanhar
os amigos ao local onde os amigos compravam, a alto preço, a embriaguez. Com
efeito, foram pedindo as bebidas e os respectivos copos. E Tugénio recusou, mas
não redondamente, consumir qualquer espécie de bebida, com menos ou mais
álcool, o que deixou os amigos irritados e maldispostos. Até não beber, não era
mau!
Mas, maquiavelicamente podia-se justificar esse mal-estar dos amigos de
Tugénio Escandaloso: o homem que quiser ser recto no meio de tortos homens,
convoca o seu caixão, sua morte, sua procissão de funeral e a sua sepultura.
Até as flores que dão beleza os tectos das campas. E ele bem disso sabia. Mas
esse Tugénio foi apresentando resistências.
― Amigos, eu não bebo. Nunca bebi e não quero beber álcool.
No seguido, lhe desceram elogios dissimulados vindos dos amigos de média
data, que o ladeavam, aí na barraca.
― Isto é bom! Mesmo nós bebemos por força maior!
― Por força maior? Como por força maior?
― Sim, por força maior do vício.
Foram explicando que bebiam não por gosto pela bebida, mas sim pelo medo do
vício maior, o das mulheres. Quer dizer, eles bebiam e fumavam para se evadirem
da mulheringuice. Pois, segundo eles, ninguém escapava a todos vícios,
por completo. Então, imperioso era eleger o mal menor, um vício inofensivo e
pouco dispendioso ― se é que existe. E como Tugénio detestava prostituir ou
mesmo das prostiputas, escolheu também beber, acrescendo o clube de
bêbedos de Fim-de-Mundo.
Todavia, convencer-lhe a beber, não foi suficiente. Como a pândega continuava
imparável, vieram os outros conselhos, com destaque para o de conflitos
conjugais. Disseram todos, com excepção de Tugénio, em uníssono que as brigas
fortificam as relações.
― Um casal deve lutar de vez em quando, ou o homem deve bater na sua
esposa.
― Mas não é necessário. ― Reagiu Tugénio.
― É necessário, Tugénio, porque no primeiro dia que discutirem ou lutarem,
acaba o lar.
Alongou-se o debate. E a maioria é que vence, apesar de, às vezes, ser cega
ou inconsciente, como foi o caso. E Tugénio foi pensando na sua relação com a
esposa, Sidália Infectada. Nos dez anos de casamento, ele jamais encostou na
pele ou no cabelo da mulher com violência. E isso, segundo os amigos, era mau.
Foi então, a partir desse inexacto momento, que Tugénio Escandaloso foi
batendo na mulher, depois de regressar de uma bebedeira. E o mais engraçado é
que ele gritava, divulgando motivos enquanto dirigia sovas à mulher.
― Estou a te bater para que o nosso casamento seja mais forte, mais duradoiro!
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