Nelson Lineu – Maputo
Enquanto esperava
pelo concerto do seu carro na oficina ao lado do seu emprego (era assim como
ele tratava o seu trabalho), onde era cliente assíduo assim como na alfaiataria
que por causa das lutas no chapa tinha que cozer a camisa ou engomar, João (não
o das anedotas) verificava em pensamentos que a televisão, rádio, jornal nos
seus informativos em relação aos assuntos que fazem barulho na praça, terem
sempre um especialista ou um analista para falar da problemática em questão.
Para ele não
havia o que discutir, os órgãos dessas comunicações sociais é que escolhiam os
temas, porque não era possível não se dar especial enfoque para falar relação
Salvancos transporte. Da sua casa para o emprego tinha que contar quilómetros,
os chapas que optavam por ir a sua zona estavam danificados (o adjectivo mais
bonito que encontrei), mas mesmo assim eram preciosos por causa da quantidade
de carro e das pessoas que necessitavam os serviços.
Querendo evitar
esses transtornos teria que se mudar para a cidade ou mais próximo, mas aí quer
as casas quer os talhões eram proibitivos para gente com o seu salário. Boa ou
má escolha optou por fazer um empréstimo e comprar um carro pelo qual passaram
dezenas de traseiros, o mesmo que ele a guardava enquanto reflectia. Se fosse
para chamar um especialista que comentasse sobre essa realidade teria que ser
ele, desanimou-se porque quem aparece quase sempre nessas ocasiões são membros
de um partido sendo cidadão simples tinha que ser doutor, de preferência os
formado fora do país.
Quanto ao João
ser analista, como sempre entre nós os que falam dos assuntos quer com olhar
sociológico, antropológicos ou outras janelas epistemológicas, a sua opinião
estaria intrinsecamente ligada a questões políticas. E por aqui não se discutem
aspectos apenas do país mas também de fora, o que muitas vezes chama atenção é
facto dos protagonistas falarem dos outros como se fossem eles, ou seja,
saberem muito dos outros do que deles. É nesse campo onde o João quer meter o
dedo na ferida ou como sempre ser a ferida, para ele não havia dúvida que quem
trazia a democracia em África eram rebeldes, como aconteceu recentemente na
Líbia.
Uma coisa que lhe
deixou estupefacto é que o regime de Khadafi sendo o que se tem dito pele
imprensa como é que aquele número de líbios tinha acesso a arma, e por quê das
forças ditas da paz apoiarem os rebeldes não a soberania de um estado (a não
ser que essa palavra para eles tenha outro significado). Para ele tinha uma mão
externa, claro que vão dizer que se os outros fizeram isso acontecer tinham
também um factor interno e o mesmo aconteceu com os nossos cá em Moçambique que
se chamam pais da democracia.
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