Nelson Lineu - Moçambique
Somos feitos de pontes que nos fazem fonte do nosso ser, numa nascente que se desenhou em Berlim passando por cima de culturas, valores e evolução histórica. Em busca duma identidade hoje legitimamo-la não como imposição, mas dando-lhe um outro sentido autóctone; num leito que se quer desequilibrado quando for condição para equilibrarmo-nos; a foz que faz cruzar sonhos, dores numa corrente de amor não apenas por solidariedade mas responsabilidades para o que assumimos em cada passo dado, cientes em cada margem do nosso valor.
Assumindo que os nossos milhões de braços não nos fazem uma força, deixamo-nos levar por uma que nos faz milhões de braços. Que se explica por vários factores. Não devem ser sempre os Deuses e Deusas a resolverem os nossos problemas, os nossos cânticos, tambores que se façam ouvir, na melodia que o tempo ensinou-nos, testemunhadas pelas cicatrizes.
A união que faz a força não deve ser apenas nos pontos onde convergimos, na divergência também pode estar o desencontro com o presente que ora negamos ora aceitamos dependendo da posição em que encontramo-nos. Essa posição que muitas vezes vem duma mão externa - esse ponto aqui não é colocado para servir de desculpa como temos feito habitualmente, mas para assumir a culpa onde somos culpados, não por adulação - aceitar determinar-se por essa posição é perder a tão propalada auto-estima, ou seja amor-próprio. O que acontece é que essa posição para muitos é o símbolo da tal auto-estima, que entre nós nota-se mais nos discursos políticos – como agenda politica - ou em figuras publicas que neles nota-se tudo menos ela. Deste modo dá-se uma aula de como amar-se a si próprio, povo e pátria. Se cada povo merece o seu governo como disse o sociólogo, quer dizer que cada governo mercê o seu povo? Sendo assim o povo não seria pior? Em si é motivo suficiente para ficar-se de braços cruzados?
Diariamente Semeiam-nos um devemos ser à queremos ser, sem nunca passar do somos. Essa ignorância custa-nos entre outras coisas a esperança. Conhecermo-nos traria como consequência conhecer o outro, que seria o prolongamento do nosso ser, ultrapassando os partidos, ideologias, regiões e religiões que até aqui só serviram para separar-nos e retardar a nossa afirmação como nação; que hoje vê-se como necessidade não mero luxo, e com ela uma construção de valores; numa construção e desconstrução de saberes onde somos sujeitos activos e todos prontificados para protege-los, os novos poli-los ou audaz e jovialmente reconstruindo de acordo com seus tempos, sem nunca deixarmos de ser, inventando-nos para novos desafios, desafiando-nos para novas invenções.
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