Nelson Lineu – Maputo
Veio mesmo a
calhar a visita da avó Margarida, Eugénio estava empolgado para dar a notícia
segundo a qual era o motivo do seu sorriso nos últimos dias, mal entrasse de
férias arrumava a mochila e bazava para a localidade onde vivia a avó e
nasceram os seus pais, visto que mais tarde migraram para o local onde hoje
inventam vidas, para ele era isso e não se discutia mais, tinha como
justificação o facto da criatividade africana. Acontecera nas últimas semanas,
viu no noticiário a edição de um livro de estórias, as mesmas que ouvia na
fogueira da sua avó e deixava-se embalar ou seja futurar nela, o seu maior medo
é que elas morressem com o tempo, vendo a sua camada marimbando para elas ou
quem de direito, seguir o mesmo itinerário.
Com edição
desses livros tinha com que se orgulhar, não nos perderíamos num enredo que vem
sendo traçado há séculos. Contando a avó sobre a boa nova, respondeu com as
seguintes palavras:
- Meu neto, eu
também gostaria de estar a sorrir como você, fazendo isso parece-me que estaria
a rir-me de mim mesmo. Olha que fiquem bem claro, não me oponho a isso, ainda
me chamam de ultrapassada como vocês adoram fazer. Com a edição dessas estórias
que não aparecem como iniciativas nossas, como sempre, perderemos o que mais
significativo para nós tem nelas. Ora vejamos, elas acompanham-nos há séculos,
cada um vai contando a sua maneira adequando-se ao seu tempo e desafios. Com a
escrita elas estariam estáticas, contaremos apenas o que estiver lá escrito,
estaremos presos as letras e as significações de quem conta. Se queremos
preservar essas estórias, não era melhor cada um dar-se a missão de contar
passando de geração em geração como temos feito até agora? Mas é esse nosso
dilema africano diário conviver com esses dois mundos, mas escolha meu neto,
não tem que ser sempre feita a partir de conveniências.
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