Japone Arijuane - Moçambique
Nós aparecemos como resgate, teríamos de ficar com um quarto da casa e um quarto da sala, teríamos de dividi-la ao meio, enquanto esperávamos um pedreiro para a reforma, porém alojamo-nos mesmo assim, apenas uma cortina separávamos. Eu era nocturno caseiro, meu companheiro nem por isso, vezes eram duas por semana que dormia no seu local de trabalho. A vizinha, como meu companheiro a chamava, era um furacão, sempre em erupção, cujo fogo queimávamos ambos adentro; cautelosa vigiava-me o rosto, com dotes de fisionomista, como quem controla uma fruta prestes a amadurecer. Vinha cheia dela como uma serpente, contemplava-me primeiro e desenhava no ar com a sua voz suave a palavra – olá; eu, firme retribuía-a com um aceno, por vezes de braço, sem encara-la frontalmente, gesto de como quem nada quer. Mas via-lhe nos olhos o veneno da sedução, pronto para atirar como legítima defesa.
Um dia desses, ouvi batidas carinhosas a porta; ouvi na mesma voz que ouvia entre cortinas; não descortinando o real motivo, esbocei a básica questão: quem é? A mesma voz se fez firme.
- Eu
- Eu quem?! Como se pelo timbre da voz não reconhecesse a portadora.
- Eu vizinha… Chamou-se. Quando fui abrir, lá estava ela desprotegida exibindo pouco tecido na epiderme, antes mesmo que abrisse a matraca, - disse eu:
- Pois, não!
- Não… É que esquece-me as chaves da minha porta… posso entrar daqui?
- Pode! Fica a vontade. Tirou os chinelos sacudiu os pés, num saco que ali estava desempenhando função de tapete. Ao mergulhar seu tronco semi-nu na claridade a sala tornou-se mais iluminada; fingi não olhar, pois as mulheres interessam-se em homens que elas não vêem interesse deles nelas. Mas para chamar-me atenção, parou e assobio, um atrevimento pouco comum nas mulheres, - pensei eu! Quando a olhei acenou o rosto e cuspiu a mais bela frase de agradecimento que jamais ouvi em toda minha vida.
- Obrigada… Mantive-me na compostura machista, levantei a mão e nenhuma palavra. Ela manteve-se ali olhando-me de soslaio, eu que propositadamente estava quase de tronco nu; lancei a camiseta que vestia na cadeira ao lado; dando-lhe as costas em direcção ao quarto, senti que alguém me contempla, aliás, eu até que sabia mas fingia. Quando virei a surpreende atónita, fitava-me feito um provinciano que chega pela primeira vez na cidade grande; contemplava-me como se eu não estivesse ali.
- Algum problema? Continuo ali fixa e cabisbaixa, sem A nem B, muito menos C! Ganhou fôlego, como quem descansa de uma longa caminhada e disse:
- Você é a solução…
- Algum problema? Continuei, como quem não ouviu.
- Não! Alguém é a solução!
- Não entendi?!
- Não vais entender, não é para entender, nem eu entendo! Aproximou-se, bem perto olhou-me nos olhos, senti o fogo a queimar-me todo. Seus lábios prontificaram-se com tudo; quando trilharam em mim, o fogo virou uma onda no mar, calma e traiçoeira, quando molhou-me todo, já estava eu a navegar mares e mares, sem medo de nada, muito menos do fogo do mar. Eu disse para mim mesmo, - deixe que tome dianteira.
Mergulhei o rosto no decote, como se de um remo se tratasse, agarrei-lhe a cintura com as duas mãos. Colidimos na mesma primeira cadeira onde a minha camiseta estava pendurada. Ia eu fervendo, o furacão transformando-se em tsunami, quando a metade da sala enchia-se de esforços, as posições desfilando num cortejo de deuses. Um barulho fez sentir, quando nos demos do barulho, meu companheiro gemia, lá do lado do quarto. Olhei para o único buraco do quarto não vi, mas via-se a luz acesa reflectindo por cima da porta.
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