Amosse Mucavele - Moçambique
Literatas (L): A tua poesia se
difere tanto dos outros poetas angolanos da actualidade, refiro-me ao Abreu
Paxe, Nok Nogueira, onde nas suas criações poéticas eles têm a palavra como
instrumento para fabricar outras realidades. E no teu caso acontece o inverso,
você tem a realidade como a matriz do teu poema.
- Como é que faz este
exercício? O que é feito do poeta na criação dos seus livros?
Décio Bettencourt
(DB): Precisamos de diálogo, na nossa África.
Muito diálogo. Precisamos de dialogar para exorcizar os fantasmas da guerra, dos
genocídios, dos golpes de estado, das intolerâncias, das diferenças regionais,
raciais, sociais e outras mais. Precisamos de vencer a fome, a doença, o analfabetismo,
enfim, o subdesenvolvimento. Enquanto criador entendo como meta da criação não
só a inevitável procura do belo, do artístico e de novos mundos, todavia de
igual forma, o fluir de um despertar e chamar atenção social via mensagem. É
preciso comunicar e falar África. E aí a poesia dialogante tem uma palavra de
importância. É evidente que o processo criativo é (suposto ser) livre, e cada
um à sua maneira e jeito. Agora o menos bom é fazerem-se ajuizamentos
literários em função do estilo de preferência pessoal.
L: A maneira do seu olhar a realidade
circundante, faz-me lembrar a poesia do Agostinho Neto, José Craveirinha, Aires
de Almeida Santos, António Jacinto. Que importância tem esta constante
revisitação aos escritores de ontem na formação do poeta de hoje?
DB:
O poeta é um constante absorvedor de elementos materiais e espirituais do meio
envolvente. Uma caminhada pode ser rotineira no dia de hoje, todavia altamente
reveladora no dia de amanhã e depois. As leituras e revisitações – como chamou
–, são manancial inevitável de colheita de inspiração, conhecimentos e
aperfeiçoamento de técnicas literárias – no caso poéticas.
L: Uma das barreiras
que o “escritor engajado” tem no seu percurso, é esta: de ser lido pelo seu
público-alvo. Será que a tua poesia é lida pelo candongueiro? Pela zungueira? E
pelas restantes gentes dos pés descalços?
DB: As gentes dos pés descalços da minha terra caminham com uma criança de fome às costas e um balaio de procura de sustento à cabeça. São jovens que passam o dia de sol intenso nas estradas a vender um negócio de miséria aos automobilistas que passam. Ou crianças que carregam quilómetros de um balde de água potável de má qualidade à cabeça. E outros mais dolorosos e humilhantes modus vivendi. Quem luta pela sobrevivência não tem, no geral, tempo para sentar-se e deliciar os prazeres mágicos de uma boa leitura. Enquanto criador, cantar o cântico sofrido das gentes da terra é para mim elemento de missão.
DB: As gentes dos pés descalços da minha terra caminham com uma criança de fome às costas e um balaio de procura de sustento à cabeça. São jovens que passam o dia de sol intenso nas estradas a vender um negócio de miséria aos automobilistas que passam. Ou crianças que carregam quilómetros de um balde de água potável de má qualidade à cabeça. E outros mais dolorosos e humilhantes modus vivendi. Quem luta pela sobrevivência não tem, no geral, tempo para sentar-se e deliciar os prazeres mágicos de uma boa leitura. Enquanto criador, cantar o cântico sofrido das gentes da terra é para mim elemento de missão.
L: Como poeta angolano, avento que pensa e vive
no meio onde o idioma predominante é o kimbundo, e outras línguas nacionais. E
logo lembrei nas palavras de uma escritora brasileira que já não vem o nome,
que diz: ‘’os escritores africanos não escrevem para os africanos, o que é um
problema.’’
- Que dificuldades
atravessa ao escrever os seus sentimentos na língua portuguesa?
DB:
Vivo num meio em que a cultura e consequentemente as línguas da terra sofreram
traumática e dolorosamente com o processo de colonização. Mas pior do que isto
é fazer-se um quase nada em mais de trintena de anos, para corrigir ou reverter
esta situação. Luanda, por exemplo, está lamentavelmente a perder o kimbundo a
nível das gerações mais recentes. Mas a minha escrita identifica-se
sobremaneira com as marcas, gentes e coisas da terra. É em primeira instância
sobre os africanos que escrevo.
L: A tua produção poética obedece um intervalo
de tempo de dois ou três anos, com esta periodicidade não teme o abandono dos
teus leitores?
DB:
Absolutamente não! Ainda assim, penso produzir o possível: trabalho numa
indústria de muita exigência profissional – petrolífera –, sou pai, esposo e
chefe de família. Gasto cerca de três horas e meia, diárias no dificílimo
trânsito da cidade de Luanda, no trajecto casa serviço e vice-versa. Então é já
quase que miraculosamente que tenho quatro livros publicados desde 2004.
L: No livro “Xé
Candongueiro”, você atribui datas e locais de cada poema, será que tem a
precisão exacta que escreveu na data x e local y?
DB: Quando escrevo, dato sempre o que escrevo. Apenas isto. Não escrevo uma linha hoje e outra depois de amanhã e outra no mês seguinte. Não. Escrevo um poema assim de uma só vez. É claro que depois ele (o poema) vai para o laboratório onde é exaustivamente re-trabalhado durante o tempo que for necessário. Anoto data e local da criação. Gosto de fazê-lo.
DB: Quando escrevo, dato sempre o que escrevo. Apenas isto. Não escrevo uma linha hoje e outra depois de amanhã e outra no mês seguinte. Não. Escrevo um poema assim de uma só vez. É claro que depois ele (o poema) vai para o laboratório onde é exaustivamente re-trabalhado durante o tempo que for necessário. Anoto data e local da criação. Gosto de fazê-lo.
L: O poema a “A Dor da Poesia’’ diz: (…) escuta
as gentes empobrecidas/(…)/as gentes esfomeadas/e vivenciadas de
vexame/(…)/escreve a voz das gentes analfabetas/nas ruelas das kubatas/as
gentes sofridas da hipocrisia dum discurso polido/e armadilhado.
- Como avalia a
democracia angolana?
DB:
É tudo um aprendizado. Estamos a caminhar, estamos a aprender. A história de
Angola tem episódios deveras traumáticos, deveras dolorosos e de muito sangue
entornado. Estamos a caminhar, algumas vezes com passos seguros e firmes,
outras vezes não tanto e até com alguns recuos. Mas não restam dúvidas de haver
sinais de amadurecimento na consciência politico-democrática dos angolanos. Estamos
a caminhar a aprender…
L – Qual é o papel do
poeta? E que espaço ocupa o mesmo na sociedade angolana?
DB:
O poeta é um sonhador, é um criador. E o desenvolvimento alicerça-se nestas
duas componentes: sonho e criação. O poeta é manancial activo e vivo do
desenvolvimento. É transmissor de conhecimentos e realidades. Quanto ao seu
papel na sociedade angolana, desejar que a sociedade nas suas mais diversas
formas organizacionais, crie espaços para que o mesmo possa expandir a sua
actividade, de forma a que a sua beneficência se converta em realidade visível.
L: O factor globalização tem como seu epicentro
a juventude, onde os nossos países recebem, digerem, sem uma mínima selecção, e
no poema ‘’As Minhas Pretas” sintetiza esta minha pobre afirmação.
- Será que os
africanos não são capazes de vender a sua cultura?
DB:
Para tal é preciso que acreditem e valorizem a sua própria cultura. É preciso
que os africanos gostem de si e aceitem-se como são. Não percebo o que motiva
uma negra africana a implantar na sua cabeça cabelos de uma mulher branca, rejeitando
assim a sua própria natureza. Isto é ridículo e coloca de imediato as
africanas, de modo voluntário, em posição de subalternização em relação a
mulher europeia. Não percebo porque um africano acha que deve clarear o tom da
sua pele usando químicos. E sabe, a natureza é tão generosa para com os africanos
que abençoo-os com as mulheres mais lindas do planeta. Todavia não crêem e
buscam padrões que nada têm a ver com a nossa realidade. Por isto escrevi “As
Minhas Pretas”, “Negra da Terra”, e outros mais.
L: A maioria dos escritores tem a poesia como o
seu pano de fundo, tal como diria o critico português Eduardo Lourenço “a
poesia é a palavra fundamental, a claridade de uma época.”
Contudo nos teus poemas acontece algo de
pouco culto nos poetas, de se recorrer a crónica ou mesmo ao conto na sua criação
poética. Que espaço a prosa ocupa no seu percurso literário?
DB: É um pouco difícil comentar, pois cada um escreve como escreve, a seu estilo pessoal, à sua marca. Estas coisas são natas. Quando comecei a escrever poesia não decidi que seria assim; descobri-me a escrever assim. Deve ser um pouco semelhante à forma como andamos, pronunciamos as palavras, etc.
Quanto ao espaço da prosa no meu percurso literário, foi decisivo. O meu primeiro contacto com as letras foi via prosa. Era uma estante abarrotada de livros que o meu pai tinha lá em casa. Os livros fazem parte dos meus primeiros brinquedos. Eu e os meus irmãos brincávamos às escondidas com os livros: um procurava um título, anunciava, e o outro tinha de encontrar o tal livro. Começamos por aí. Depois passámos a devorá-los, o Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, Os Maias, Eça de Queirós, A Morgadinha dos Canaviais, Uma Família Inglesa, Júlio Dinis, Lusíadas, Luís de Camões, etc. Andei também pelos policiais, Agatha Christie e outros, e até Julias, Sabrinas e Biancas devorei. E muitos. mais, naturalmente. O contacto com a poesia veio depois.
DB: É um pouco difícil comentar, pois cada um escreve como escreve, a seu estilo pessoal, à sua marca. Estas coisas são natas. Quando comecei a escrever poesia não decidi que seria assim; descobri-me a escrever assim. Deve ser um pouco semelhante à forma como andamos, pronunciamos as palavras, etc.
Quanto ao espaço da prosa no meu percurso literário, foi decisivo. O meu primeiro contacto com as letras foi via prosa. Era uma estante abarrotada de livros que o meu pai tinha lá em casa. Os livros fazem parte dos meus primeiros brinquedos. Eu e os meus irmãos brincávamos às escondidas com os livros: um procurava um título, anunciava, e o outro tinha de encontrar o tal livro. Começamos por aí. Depois passámos a devorá-los, o Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, Os Maias, Eça de Queirós, A Morgadinha dos Canaviais, Uma Família Inglesa, Júlio Dinis, Lusíadas, Luís de Camões, etc. Andei também pelos policiais, Agatha Christie e outros, e até Julias, Sabrinas e Biancas devorei. E muitos. mais, naturalmente. O contacto com a poesia veio depois.
L: É possível tornar
Angola num país de leitores? E como formar leitores?
DB: Sem a menor dúvida: é possível tornar Angola num País de leitores. Porém é preciso vontade, é preciso que se queira. Criar leitores é fácil demais. Mas primeiro é preciso que se perceba as vantagens de se criar leitores – ou pelo menos que se deixe de fingir que não se percebe É bem mais difícil e dispendioso buscar petróleo nas entranhas da terra. É bem mais difícil e dispendioso criar cidades de betão. É mais difícil e dispendioso construir estádios gingantes de futebol. Alguns elementos: que haja em cada município, bairro, aldeia, casa, etc. uma biblioteca (ou pequena biblioteca) e que se incentive as crianças, adolescentes e jovens a fazerem uso. Que se baixe o preço do custo do livro. Que haja comida básica para todos – que de barriga vazia ninguém lê! Quando isto acontecer teremos menos alcoólatras, menos delinquentes, menos desempregados, enfim estaremos a criar os sustentáculos para o desenvolvimento de Angola: estaremos a produzir angolanos de qualidade.
DB: Sem a menor dúvida: é possível tornar Angola num País de leitores. Porém é preciso vontade, é preciso que se queira. Criar leitores é fácil demais. Mas primeiro é preciso que se perceba as vantagens de se criar leitores – ou pelo menos que se deixe de fingir que não se percebe É bem mais difícil e dispendioso buscar petróleo nas entranhas da terra. É bem mais difícil e dispendioso criar cidades de betão. É mais difícil e dispendioso construir estádios gingantes de futebol. Alguns elementos: que haja em cada município, bairro, aldeia, casa, etc. uma biblioteca (ou pequena biblioteca) e que se incentive as crianças, adolescentes e jovens a fazerem uso. Que se baixe o preço do custo do livro. Que haja comida básica para todos – que de barriga vazia ninguém lê! Quando isto acontecer teremos menos alcoólatras, menos delinquentes, menos desempregados, enfim estaremos a criar os sustentáculos para o desenvolvimento de Angola: estaremos a produzir angolanos de qualidade.
L: O poema ‘’Um Homem Num McDonald’s” diz: (…) E
parte perdido na ilusão das europas brancas/A vergonha das Áfricas ignorantes/E
sua gentes/A barriga de fome a roer/A vergonha a doer/e um homem parte na
desilusão das Áfricas.’’ Comente este poema.
DB:
Os poetas (alguns) não gostam muito de comentar os seus poemas. Eu faço-o com
gosto quando solicitado. Trata-se de um olhar crítico àqueles africanos que
deixam os seus países à procura duma Europa doirada que afinal não é bem assim –
não quero dizer que não devam sonhar ou procurar melhores condições de vida.
Estava sentado num McDonald’s em Paris, a saborear uma refeição ligeira quando
apareceu um irmão meu africano a pedir gorjeta. Achei interessante que se tivesse
dirigido a mim, quiçá por ser o único negro como ele. Recusei inicialmente,
todavia acabei chamando-o e dando-lhe algum dinheiro. Nasceu assim este poema,
pensando naquele homem que sai da sua terra e se põe mendigo nas Europas.
POESIA DE DÉCIO BETTENCOURT MATEUS
A ZUNGUEIRA
O miúdo nas costas, faminto
O sol queimando
O sol assando
O miúdo nas costas, faminto de alimento
As moscas acariciando-o
E o lixo distraindo-o!
A zungueira zunga, cansada
Na cabeça, o negócio e o sustento
E nos pés empoeirados
O cansaço dos quilómetros galgados
O cansaço da distância percorrida
A zungueira zunga, o miúdo nas costas faminto!
A zungueira zunga, cansada
E vai gritando e berrando a plenos pulmões:
Arreou, arreou, arreou nos limões...
A zungueira zunga, empoeirada
E arreia o negócio, arreia o preço e faz desconto
Arreia o preço do sustento
O miúdo nas costas faminto
A lombriga na barriga rói, a lombriga pede
O miúdo nas costas, faminto de alimento
Chora e berra
Não é birra
É a fome que aperta, é a fome da sede!
A zungueira zunga, apressada
E arreia o negócio, arreia o preço:
Arreou, arreou, arreou no chouriço...
A zungueira zunga empoeirada
E arreia o preço do negócio
Arreia o preço da mercadoria, coisas do ofício
Depois, a viatura da fiscalização
Os travões chiam, as marcas dos pneus no asfalto
E os homens arrogantes a perseguirem
E a baterem
E a zungueira a fugir, e o negócio e o sustento
Caídos, espalhados no chão!
Depois vem o fiscal, também faminto,
“Você tem autorização?
Acompanha, isso é transgressão!”
A zungueira implora e mostra a fome:
Tem dois dias o miúdo não come
A lombriga na barriga precisa alimento!
O fiscal, também faminto
Arreia o lucro da zungueira cansada
E desesperada
Arreia o lucro, senão a zungueira vai presa
Senão a zungueira não volta a casa
E a zungueira cede, com medo no pensamento
Depois a zungueira chega a casa
De bolsos vazios, mas alívio no coração
E grata, afinal não foi presa
Afinal não foi à prisão
A zungueira chega a casa, o miúdo faminto
O miúdo sedento de alimento
Mas amanhã, a zungueira voltará a berrar
Amanhã a zungueira voltará a arrear:
Arreou, arreou, arreou em qualquer coisa…
(Os Meus Pés Descalços)
MEU POEMA ACORDA DORIDO!
À memória de Luzia Bettencourt M.,
minha mãe.
Manhã virgem manhã cedo
meu poema acorda dorido
manhãs frias
vai à igreja vai à missa
em pernas de pressa:
ó Senhor pão às minhas crias.
Meu poema sofre a madrugada
a espreitar a aurora
acarreta água ensonada
enche bidão enche tamborão
de olho na torneira
música sofrida no coração.
Dorme insónias na noite escura
acorda constrangido a praça
a vender gelados
compra esperança
recebe troco ternura
bem diz os kwanzas bem diz trocados.
Caminha um sol abrasador
preocupação no rosto
meu poema tem dor
a rusga a falar serviço militar
a rusga: kwata-kwata miúdos a passear
kwata-kwata miúdos, oh desgosto!
Meu poema desperta alvorecer
lava roupa amontoada no tanque
rebenta mãos de sofrer
vende gelo no Roque
e sofre filho fugidio emigrado
filho mwangolé exilado.
Meu poema dorme cansado
é pai mãe marido mulher...
cuida os miúdos
atende o marido
dorme dorido prazer
dorrme dorido sonho de trocados.
Meu poema dobra joelhos em manhãs frias:
ó Senhor pão às minhas crias!
(Gente de Mulher)
XÉ CANDONGUEIRO!
Candongueiro tem pressa
Sobe na baúca
Não tem conversa
Condução louca
Pé no acelerador, velocidade
Não respeita prioridade!
Eh! Candongueiro dono da estrada
Ultrapassa pela direita
Manobra arrojada
Ultrapassa
Vuza na estrada estreita
“Trabalha não dá confiança”, tem pressa!
Candongueiro abarrotado
Não afrouxa na lomba
Leva gente p’ra mutamba
Pé no acelerador, velocidade
Dono da cidade
“Dinheiro trocado, dinheiro trocado!”
Eh! Candongueiro tem cobrador
Que grita: 1. de Maio, Maianga, Maianga…
Pé no acelerador, zunga-que-zunga
Abarrotado de gente
Não respeita cliente:
“Ou encosta ou desce meu senhor!”
Zé Pirão, São Paulo, Roque
“Não há maka emagrece meu kota”
Candongueiro manda na estrada
Leva gente do musseque
Gente enlatada
Roda batida é dono da rota!
“Trabalha não dá confiança”
Prenda, Mulembeira, Mulembeira
Leva gente do povo gente da praça
Candongueiro transporte do povo
Não é carro novo
Arranca levanta poeira!
Zunga-que-zunga sobe o passeio
Carro cheio
Xé candongueiro
Respeita passageiro
E espera prioridade
Candongueiro é dono da cidade!
Eh! Candongueiro é gente importante
No carro velho
Leva gente p’ro trabalho
Carrega gente descarrega gente
Ku Duro música alta
Xé candongueiro olha multa!
(Xé Candongueiro)
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