Dany Wambire - Beira/Moçambique
Três amigos eu
tinha, bastante mulherengos. Sim, apresentavam um desviado comportamento no
capítulo das mulheres. Os três tinham apurada competência para apreciar
mulheres, abrir os zips das vestes femininas, afagar-lhes a pele, excitá-las e,
por fim, enroscarem-se-lhes nas suas mais profundas entranhas.
Crível, no resto, é o modo como estes amigos degeneraram
na prostituição. Sim, falo da prostituição e não da mulherenguice. Que
se chame também os eles prostitutos e não mulherengos. É que os homens, o
hábito têm de suavizar os adjectivos dos piores defeitos, e enaltecer os das
virtudes. Ademais, quem se mete com as prostitutas? Então, por que vulgarizar
um outro adjectivo, bem distante, enquanto existe o próximo, bastando apenas
mudar uma letra da mesma palavra. Sim, apenas de a para 0. Ah,
deixemos isso para o próximo capítulo, para não fugir as ordens do parágrafo.
Dizia eu, que crível é o modo como os meus amigos se tornaram prostitutos,
exibindo seus nus a toda mulher desfrutável.
Tudo teve início quando os hábitos da modernidade,
oriundos talvez dos brancos, abateram-se sobre a nossa tradição. Permitiu-se o
namoro, desenvolveram-se campanhas de combate à feitiçaria, esse nosso
antiquado mecanismo de ordenamento social. E, como preparação ao casamento,
pessoas várias desataram a namorar, incluindo menores e os que não tinham
qualquer plano de casamento. Então, estes últimos preparavam o quê?
Prostituição?!
Na verdade, não demorou para que as consequências se
abatessem sobre toda a sociedade. Os namoros eram feitos com múltiplos
parceiros ao mesmo tempo, perigando a saúde dos envolvidos. E volvidos
significativos anos, tais namoros frutificavam, grosso modo, doenças, vícios,
más-línguas. Os velhos assistiam ao cenário, sem poder de frear aquilo que
sucedia. Apenas lamentavam:
― Essa coisa de os homens brincarem mal com mulheres era
proibido nos nossos tempos, e havia feitiçaria para travar isso. ― Quase terminando o lamento acrescentavam. ― Mas
hoje dizem existir a polícia…!
Aconteceu, falando concretamente dos meus supracitados
amigos, que mais tarde casaram-se por pressão da idade e dos pais. E como na
cidade houvesse escassez de talhões para os de pouca posse, alugaram as
respectivas casas. Ao fim do terceiro mês do enlace matrimonial, as consortes
já tinham alojado fetos nos respectivos ventres. Admoestadas, depois, a irem a
uma consulta pré-natal foram as gestantes. Até votadas ao teste de HIV elas
estiveram. Uma a uma entrou pela sala de consulta adentro a fazer o teste. O
resultado foi negativo para as três. Saíram ilesas das aventuras extraconjugais
dos cônjuges, pode-se dizer.
Uma delas, todavia, quis assustar ao marido, deixá-lo com
nervos à flor da pele. Pegou no celular que jazia na sua bolsa e ligou ao
marido, que se chamava Josefino Costura. Quando o marido atendeu, ela disse.
― Depois do teste do HIV que fiz, a enfermeira quer a sua
presença aqui no centro de saúde.
No seguido, explicou ainda ao marido que as amigas que
igualmente tinham sido sujeitas ao teste, não tiveram o azar de ser-lhes
convocados os maridos. Para mais, agravou ainda dizendo que no hospital são
solicitados os maridos das gestantes cujo estado serológico é positivo. E
preocupado o marido ficou, mas escusou-se fazendo caçoada, pois ele sabia que
fiel a esposa era, diferente dele.
― Se somos seropositivos não é senão por causa de
instrumentos cortantes não esterilizados, mamã: agulhas, seringas, lâminas,
etc.
À entrada do hospital, a mulher esperava por ele. Viu a
seriedade dissimulada que reluzia no semblante da mulher. De instantâneo, se
desfez a mesma seriedade e ela montou no carro do marido, feliz.
― Te mandei vir porque queria tua boleia, eu sou
seronegativa. ― Disse a gestante.
― Então eu também sou seronegativo, filha! ― Disse, alegre, Josefino.
No dia ulterior, todos os três amigos meus encontraram-se
a festejar a boa nova, e diziam todos extasiados: nós somos seronegativos, as
nossas mulheres fizeram o teste.
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