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    Croniconto: A infanti-sida



    Dany Wambire - Beira/Moçambique


    Penso que poucos em Fim-de-Mundo conheciam o casal Disciplinado e Irrequieta, esse casal, que quase venceu o anonima-to, por viver nas imediações da inexistência. Tudo isso sucedeu, por causa de uma emigração mal sucedida, de Início-de- Mundo para Fim-de-Mundo.
    Em Fim-de-Mundo, Irrequieta e Disciplinado obrigados a casarem foram. Cumpriram com escrúpulos. Esse não mais importante mecanismo de ordenamento social. Sim, cumpriu-se um casamento triplo, a contentar os distintos segmentos sociais. Quer dizer, enquanto os pais fizeram pressão, Disciplinado e Irrequieta casaram, pela primeira vez. O chamado casamento tradicional. Depois, veio o realizado no principal cartório de Fim-de-Mundo, o válido na Justiça local. O chamado casamento civil. Por fim, para alegrar o segmento religioso, foi forjado o casamento religioso. Então, para ter merecido respeito, uma verdadeira integração social, um casal não devia incumprir este triplo casamento.
    O casal Irrequieta e Disciplinado era exemplar. Um bastante fiel ao outro. Mas, de súbito, a infidelidade se acomodou no macho do casal. Sim, o homem Disciplinado passou a ser infiel. E os motivos? Talvez por causa da perseverante insistência das muitas mulheres, sem maridos, mas que necessitavam de prazer sexual e de dinheiro. Talvez à conta da gravidez, que a Irrequieta contraíra, nove meses após o casamento, passando a não ter bom desempenho sexual, diga-se de passagem. Talvez mesmo por outros motivos.
    A verdade é que, com as inúmeras aventuras extraconjugais, Disciplinado conseguiu contrair o vírus de HIV, que passou, no seguido, para a legítima esposa, sem saber. E foi esse vírus de HIV que pôs Disciplinado a definhar, ossos salientes, a servirem de cabide às escassas carnes ainda existentes. E acabou morrendo, sem nunca ter ido a uma consulta de médico nem recebido os antiretrovirais, esses fármacos que ajudam ao adiamento da morte. Pois, em Fim-de-Mundo, não acreditavam ser atacados por esses vírus, ignorando-os, e por consequência, menosprezando o tratamento.
    Seis anos de casados foram. A Irrequieta passou a viver infeliz, como nunca antes. Para mais, fiel que ela era, custava-lhe aceitar o rumo dos acontecimentos: ficar infectada e perder o marido.
    Foi, no entanto, a partir desse impreciso momento, que os acontecimentos da vida ela quis inverter. Ou melhor, perverter. Já que lhe deu para espalhar o vírus, que maquinalmente contraíra, para outras pessoas, sobretudo crianças. Afinal, ela era bastante cobiçada por miúdos arrojados, consumidores de produtos de distante idade. Esses jovens apreciavam as carnes desenrugadas que enchiam os vestidos, justos, da senhora.
    Na verdade, muitas foram as crianças que morreram à conta do vírus de HIV, o virus da Irrequieta. Uma a uma, as crianças foram emigrando para o lado avesso da terra. E a senhora Irrequieta ia assistindo, orgulhosa, às inúmeras mortes dos seus amantes, gabando-se de infanticida, por ir assassinado crianças, com o vírus do HIV do SIDA. Era pois uma assassina especializada em crianças, jovens. E como as matava com Sida, bem merecia que lhe chamassem a infanti-Sida.
    8 � x - (�� ��� :none'>― Depois do teste do HIV que fiz, a enfermeira quer a sua presença aqui no centro de saúde.
    No seguido, explicou ainda ao marido que as amigas que igualmente tinham sido sujeitas ao teste, não tiveram o azar de ser-lhes convocados os maridos. Para mais, agravou ainda dizendo que no hospital são solicitados os maridos das gestantes cujo estado serológico é positivo. E preocupado o marido ficou, mas escusou-se fazendo caçoada, pois ele sabia que fiel a esposa era, diferente dele.
    ― Se somos seropositivos não é senão por causa de instrumentos cortantes não esterilizados, mamã: agulhas, seringas, lâminas, etc.
    À entrada do hospital, a mulher esperava por ele. Viu a seriedade dissimulada que reluzia no semblante da mulher. De instantâneo, se desfez a mesma seriedade e ela montou no carro do marido, feliz.
    ― Te mandei vir porque queria tua boleia, eu sou seronegativa. ― Disse a gestante.
    ― Então eu também sou seronegativo, filha! ― Disse, alegre, Josefino.
    No dia ulterior, todos os três amigos meus encontraram-se a festejar a boa nova, e diziam todos extasiados: nós somos seronegativos, as nossas mulheres fizeram o teste.

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