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    O Injectável

    Dany Wambire - Moçambique



    Há doenças que em nós vivem só por questão de fé. Acreditamos religiosamente que por elas estamos assaltados. E para tal, a cura é do nosso conhecido desejo: um determinado fármaco ou tratamento. Ai daquele médico que ouse prescrever o diferente! Por mais que o fármaco ou tratamento seja eficiente, capaz e eficaz, não cura o paciente.
    Em Fim-de-Mundo, pelo menos conheço um com esses hábitos. Ou melhor, com essas doenças. Ele é quem conhece o remédio da sua doença. Sim! Digo, mas não em abono da verdade. Até a doença mais recente dele veio há dias, que deixou o Hospital Periférico de Fim-de-Mundo à rasca.
    Antes, em plena tarde dominical, todas as pessoas viram o vizinho doente, de nome Zecarias Gostavo, a contorcer-se de dores múltiplas. Depois, o corpo dele pedia mais calor, porquanto a doença lhe engendrava frio. E todos saíram a socorrer esse Zecarias Gostavo. Lhe administraram alguma poção de plantas domesticamente preparada, de acordo com os sinais e sintomas da desconhecida doença.
    Passaram-se dias, a doença não se evadia do seu corpo. De livre, mas não de espontânea vontade, pedia prisão no corpo dele. Não lhe importava acelerar julgamento. Ela trataria de fazer justiça pelas impróprias mãos caso a justiça demorasse, matando o doente e a ela mesma. Sim, no homicídio ocorreria o suicídio, em concomitante.
    Se com os conhecimentos da medicina verde, a doença não passava, no hospital seria diferente. Esse foi o pensamento de muitos, depois de lhes fracassar a primeira tentativa. E lá foram, com o doente Zecarias. Rapidamente diagnosticaram-lhe a doença. De pequenas irritações sanguíneas se tratava, que podiam ser tratadas com comprimidos de forma comprida, e com injecção de forma breve.
    A aplicação da injecção estava descartada. Pois, Fim-de-Mundo debatia-se seriamente com problemas de medicamentos para injecções em farmácias públicas. Mas as privadas farmácias tinham-nos em superabundância. Engraçado! O negócio evoluiu: os privados passaram a ser mais fortes que o Estado.
    Então, deram os comprimidos ao doente Zecarias Gostavo. Aliás, tudo dava no mesmo. Era questão de tempo e cumprimento com o tratamento. Em breve tudo estaria controlado e Zecarias pronto para trabalhar estaria. Apenas a sua esposa é que se mantinha céptica, depositando desconfianças naquele tratamento. A seguinte crença, ela guardava: a doença desapareceria, mas o marido pioraria.
    Dito e desfeito, o Zecarias piorou mesmo depois de consumir os fármacos prescritos. Ordenavam-se novas intervenções: de hospitais com melhores condições.
    Transferiram-lhe para o maior e melhor hospital da cidade. De novo, administraram os comprimidos ao paciente, agora impaciente, porque lhe queriam internar no hospital. Como se ele fosse o pior doente de Fim-de-Mundo. Passaram-se muitos dias e Zecarias não melhorava.
    Foi então quando este Zecarias pediu para falar com o médico.
    ― Doutor, minha doença cura com injecção.
    ― Os comprimidos que lhe demos têm mesmo efeito que o da injecção. Não podemos lhe aplicar o mesmo medicamento, pode haver riscos fatais.
    ― A minha doença não é derrotada por comprimidos, doutor. Não se importe com os riscos. Qualquer um corre riscos, por isso nas empresas há subsídios de riscos.  
    Que fazer? Doentes desses são intratáveis. Mas a prática ensinou-lhe outra ciência, a da mentira. Então, ele tomou numa seringa e fingiu estar a introduzir qualquer medicamento. Ele enchia aquele instrumento não era senão de água, que no seguido aplicou-a no traseiro de Zecarias Gostavo.
    E o resultado: ele já estava melhor e a trabalhar. E para os que o vinham visitar, o agradecimento era imedível.
    ― Melhorei graças àquele médico que me deu injecção.

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