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    Africanidades: A produção literária em contextos adversos


    Victor Eustáquio - Portugal




    A definição de diplomacia está longe de ser consensual. Das várias soluções propostas, duas parecem ser bastante aceitáveis, pelo menos no contexto que aqui se pretende perseguir: (1) a persuasão contínua para a busca de soluções mutuamente aceitáveis ou (2) a delicadeza no trato com que se conduz um negócio entre partes na iminência do desentendimento. Ambos casos conduzem à sugestão de Adriano Moreira (uma figura controversa para os africanos que dele se lembram), a saber, que a guerra começa onde acaba a diplomacia.
    Significa isto que, mesmo com as oscilações na definição do conceito (impostas pelas exigências das várias dimensões em que o mesmo pode ser situado), a diplomacia é sempre, em sentido lato, uma ferramenta aconselhável se o que se visa é esgotar todos os caminhos em busca de um entendimento sobre um objecto em disputa entre partes e travar até ao limite o confronto directo das mesmas pela via da violência.
    Ora, sendo a produção literária uma manifestação representativa e opinativa, mesmo que de forma subliminar, sobre as mais variadas problemáticas, com a particularidade do seu exercício entrar na esfera pública, a consequência é óbvia: a literatura é um objecto capaz de influenciar, gerar e condicionar, não importa em que direcção, juízos de valor, opiniões e afectividades. O que é um problema em territórios cuja organização política não convive bem com a liberdade de expressão e criação artística, em territórios que tendem, por necessidade de legitimar a sua orientação ideológica, a erguer limitações, constrangimentos e, no limite, linhas de transgressão.
    Para os escritores africanos, como para muitos outros que vivem em sociedades com regimes políticos intrusivos, decerto que tudo isto não é novidade alguma. Mas importa saber, e reflectir, e analisar, de que forma os constrangimentos da liberdade de expressão se manifestam naquilo que escrevem, tanto mais que a militância política (não confundir com a partidária, que essa é outra história) é uma característica inalienável de qualquer ser humano. Em boa verdade, basta dizer que qualquer relação entre o sujei-to A e o sujeito B é um acto político. Já se sabe e não vale a pena insistir no assunto.
    A dúvida é outra: que tipo de literatura se produz em contextos adversos? Uma literatura de compromisso, com a delicadeza no trato com que se conduz um negócio entre partes na iminência do desentendimento? É que, caso não seja panfletária, só pode ser paliativa, o que faz com que não entre na equação. Ou então dissonante, o que implica a assunção de um risco elevado. Ou haverá uma terceira via? Uma habilidade secreta de erosão até ao limite que permita que certos autores se movimentem de forma incólume nos países africanos mais controversos? Será justo resolver o problema ao catalogar esses autores como produto de um regime, com a mera produção de palavras anódinas ou de militância partidária? Ou serão alguns deles as verdadeiras vozes da dissonância? Os obreiros do discurso da liberdade fundado na inteligência da persuasão?

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