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    O passo certo no caminho errado: O país das desculpas


    Nelson Lineu – Maputo

    É segunda-feira, Abílio toma banho, veste-se, passa pelos olhos da mulher e dá volta para ela ver se o cinto passou em todas casas, além do seu salário essa era a sua grande dor de cabeça. Sai sem pôr nada na boca porque não lhe cairia bem, não criaria efeito à causa. Como ele podia beber naquele dia que se tem como sagrado? A mulher não conseguia entender, não por causa da religião, segundo ela, era por um motivo mais sério, é que no dia seguinte tinha que ir ao emprego, e ele sabia muito bem, o que é viver desempregado. Acordou cedo porque tinha que passar na dona Felismina, a sopeira, dedicava-se a venda de sopa, que servia para matar babalaza, termo usado para significar ressaca.
    Nesse país de desculpeiros, como ela dizia, por as descul-pas serem mais graves que os próprios erros, e cá por nós como temos o hábito de sofisticar as coisas ou fazer uma analogia chamamos por inquérito. Hoje elas também ser-vem para negócios, por isso a Felismina vê na sopa a for-ma de se dar bem, e o mais difícil nessa pátria que ama mais do que é amada, é igualmente estar a fazer um bem.
    Agora encontra-se no seu trabalho, é um bibliotecário. Ver os estudantes empenhados a cultivar a ciência, embora haja tendência de afirmar que não somos produtivos, por esses momentos, ele punha interrogações a esse dogmatismo, sentia-se bem, quando os slogans, propagandas, discursos não entravam na sua vida. De certeza os putos não seriam como os actuais condutores do país. Pensava. Os que con-duzem e fazem a regra desse trânsito mais parecem que se esforçam para justificar do que para trabalharem propria-mente. Nunca damos mão a palmatória, como se fossemos os únicos que não sabem errar. Num dos miaquotidianos vivi que não tínhamos que ter vergonha de não saber, o que tínhamos recear é não ter a inquietação para tal. É assusta-dor como ficamos confortáveis na sombra das desculpas, que acaba sendo o mesmo que fugir a luz do conhecimento e o seu consequente progresso. Todos dias testemunhando aquele acto de amor aos livros, Abílio fazia-se crer que o cenário actual tinha dias contados. Contados até ao minuto em que um dos estudantes, sonecava claramente, ele o amparou quando estava quase a cair. Amigavelmente cha-mou-lhe por seiva da nação, o mesmo que juventude por aqui, disse-lhe que ali não era local para dormir, sempre com sorriso no rosto como as secretárias, ofereceu-lhe água para lavar cara, se quisesse ele mesmo aquecia, e ain-da faria um café.
    A seiva da nação foi respondendo aos berros, dizendo que ele não estava a dormir, e o funcionariozinho não era nin-guém para lhe dizer como estudar, porque cada um tinha seus métodos. 

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