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Escritor guineense, Helder Proença |
Quando te propus
um amanhecer diferente
a terra ainda fervia em lavas
e os homens ainda eram bestas ferozes
Quando te propus
a conquista do futuro
vazias eram as mãos
negras como breu o silêncio da resposta
Quando te propus
o acumular de forças
o sangue nómada e igual
coagulava em todos os cárceres
em toda a terra
e em todos os homens
Quando te propus
um amanhecer diferente, amor
a eternidade voraz das nossas dores
era igual a «Deus Pai todo poderoso criador dos céus e da terra»
Quando te propus
olhos secos, pés na terra, e convicção firme
surdos eram os céus e a terra
receptivos as balas e punhais
as amaldiçoavam cada existência nossa
Quando te propus
abraçar a história, amor
tantas foram as esperanças comidas
insondável a fé forjada
no extenso breu de canto e morte
Foi assim que te propus
no circuito de lágrimas e fogo, Povo meu
o hastear eterno do nosso sangue
para um amanhecer diferente!
a terra ainda fervia em lavas
e os homens ainda eram bestas ferozes
Quando te propus
a conquista do futuro
vazias eram as mãos
negras como breu o silêncio da resposta
Quando te propus
o acumular de forças
o sangue nómada e igual
coagulava em todos os cárceres
em toda a terra
e em todos os homens
Quando te propus
um amanhecer diferente, amor
a eternidade voraz das nossas dores
era igual a «Deus Pai todo poderoso criador dos céus e da terra»
Quando te propus
olhos secos, pés na terra, e convicção firme
surdos eram os céus e a terra
receptivos as balas e punhais
as amaldiçoavam cada existência nossa
Quando te propus
abraçar a história, amor
tantas foram as esperanças comidas
insondável a fé forjada
no extenso breu de canto e morte
Foi assim que te propus
no circuito de lágrimas e fogo, Povo meu
o hastear eterno do nosso sangue
para um amanhecer diferente!
Escritor da Guiné – Bissau, envolveu
– se, nos anos 70, no movimento independentista do seu país, abandonando os
estudos liceais e partindo para a guerrilha em 1973. Após o 25 de Abril,
regressou a Bissau, prosseguindo os seus estudos.
Foi responsável-adjunto pelo sector
de educação na região de Bolama e professor de história. Frequentou, em 1979 e
1980, um curso de Planificação Regional no Rio de Janeiro. De regresso à Guiné,
trabalhou como quadro no ministério da cultura, sendo ainda deputado na
Assembleia Nacional Popular e membro do Comité Central do PAIGC.
Tem colaboração nas publicações Raízes (cabo-verdiana), África (portuguesa), Libertação e O Militante, estas duas ligadas ao PAIGC.
Hélder Proença começou por se
dedicar à literatura era ainda adolescente, escrevendo poemas
anticolonialistas, de afirmação da identidade nacional, que acompanharam a sua actividade
política. Os textos desta fase foram reunidos no volume Não Posso Adiar a Palavra, editado apenas em 1982. Este carácter
panfletário foi-se atenuando progressivamente, embora o autor nunca tenha
descurado uma vertente de intervenção política e social. Considerado uma das
grandes figuras da nova literatura guineense, escrevendo tanto em português
como em crioulo, foi o co-organizador e prefaciador da primeira antologia
poética do seu país Mantenhas Para Quem
Luta! (1977). Alguma da sua produção continua inédita.
De entre os poetas revelados nas
primeiras antologias referidas, poucos prosseguiram o ofício, com poesia
dispersa. Hélder Proença é um deles, publicando, em 1982, Não posso adiar a
palavra, revelando-se, então com 26 anos, um poeta «amadurecido» pelo tempo e
pela visão desapaixonada do momento. Sem se desvincular da enunciação
ideológica (alguns poemas já haviam sido publicados), a sua poesia já
evidencia, de maneira sugestiva, o labor consciente que se manifesta nos níveis
formalizantes da mensagem literária: a concertação tecida da matéria sonora,
das imagens e da rítmica e até da utilização gráfica da página. Nessa
performance técnico-formal, o tecido social e ideológico engendra uma linguagem
simbólica, transfigurada do real, mas ainda vinculadamente radicada nele. Mas
até os temas se diversificam: além da celebração da pátria e dos heróis, o
sentimento pátrio harmoniza-se com o amoroso e até o erótico e o sujeito é,
então, simultaneamente aquele que pensa e sente, ama e odeia, ri e chora. É a
catarse dos lugares comuns e o triunfo do homem pleno que se deixa envolver
pelo fascínio da volúpia e se verticaliza na reivindicação de uma pátria de
cidadãos individualizados.
O próprio macrotexto convida-nos a
essa procura de discursos paralelos. Divide--se em três partes: «As trincheiras
também cantam, amor», «Entre mim e o canto, a poesia» e «Vem, Pátria, nesta
proposta do amanhecer». E o último poema é também um manifesto: «Juramento».
(Inocência
Mata, “A Literatura da Guiné-Bissau” in Literaturas Africanas de Expressão
Portuguesa, vol. 64, Pires Laranjeira, Lisboa, Universidade Aberta, 1995,
p.362)
Assassinato
A morte de Proença foi anunciada
pelo Ministro da Defesa guineense, horas depois do anúncio do assassinato por
tropas oficiais do candidato a presidente Baciro Dabó. Segundo a versão oficial,
Proença seria o protagonista dum golpe de estado e morrera em seu carro, junto
ao motorista e um segurança, após troca de tiros com os soldados que iam
prendê-lo. Já antes a imprensa mundial anunciara rumores de que o poeta também
havia sido morto.
1 comentários:
Tanta gente ruim solto por aí. Prenderam debaixo da terra um grande escritor e lutador da nação.
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