Nelson Lineu – Maputo
Custódio Sábado estava sentado na sua casa, quando viu Tiago passar com um ar desinteressado, nem se quer saudou. Ficou admirado, nunca tinha acontecido. Foi uma táctica que o rapaz usou. Todos sábados, Custódio contava-lhe como foi a sexta-feira, como ele chamava. Antes de contar enrolava, criando ansiedade e curiosidade, quando Tiago fazia-se passar por desinteressado, Sábado contava como foi a noite que sempre era criança.
Custódio esperou o Puto, preocupado, logo que o viu, chamou-lhe, de seguida foi contando. No seu cenário habitual, matando a babalaza, comendo numa panela suja que ele dizia lavar quando estivesse mal disposto. A panela de barro continha restos de comida do dia anterior, ele cozinhava por cima dela, via aquilo cimo uma relação sexual, o prazer era notório quando ele comia, mesmo com toda porquice (não lavava mão nem cara) dava inveja quem o via transportar comida da panela a boca. Ainda por cima era guloso, só servia quando eliminasse sua fome e restasse algo, o interlocutor morto de curiosidade como um gato na sua sexta vida, dispensava a inveja.
- Quando eu voltava do trabalho, vi de longe alguém com um estilo igual ao do meu amigo, aquele da zona verde, o que se fosse a uma barraca ou bar ia a procura da mulher, o que não era da zona verde por viver naquele bairro com esse nome, mas de espírito e coração. Foi aproximando-se, a imagem tornando-se nítida, aquele homem de chapéu e camisa vermelha era mesmo Gonçalves, mesmo com essa certeza eu ainda duvidava. Ele sofria de sportinguismo, dizia ter sangue verde, a derrota deles pelo Benfica, não lhe transformaria assim. Não podia ser possível, podia acontecer qualquer coisa no mundo, essa realidade não se passaria na minha cabeça. Depois de cumprimentarmo-nos, não haviam duvidas, era ele o avermelhado, havia uma força na sua mudança. Fomos ao bar vizinho, entre copos surge mais um insólito, disse antes de tudo tinha que lhe chamar por camarada (prefixo de qualquer membro do partido frelimo), foi como se o álcool estivesse a sair de mim, elucidei-me. Continuei a entornar, Logo Gonçalves que jurou nunca votar nesse partido por causa da morte da mãe na guerra que ficou conhecida como a de irmãos ou civil e o pai que sofreu muito com o regime que para ele era ditatorial, a sua maior dor era a adulação que se faz nos nossos dias para o líder, consolava-se porque entre nós quando se morre passamos de pecadores para santos. Essas inacreditíces, é que faziam-me esquecer meu nome como naquela minha maior fará, aquela que acordei num convento, nu, com todo material a doer. Gonça, carinhosamente tratado, tornou-se revolucionário queria mudar o regime, foi mudando de partidos da oposição para atingi-lo, alimentando a sua esperança. O maior obstáculo para ele foi um outro sonho. Com a possibilidade de nenhum deles concretizar-se, tornar-se evidente, apostou no outro, o qual não podia morrer sem concretizar. O verde dele avermelhou-se, por causa do seu de tornar-se Secretário do bairro, porque nesse país só concretiza sonho
0 comentários:
Enviar um comentário