Victor Eustáquio
– Portugal
Em Portugal, na categoria de autores lusófonos de origem
africana, a FNAC lista apenas dois nomes: Mia Couto e Pepetela. Com pesquisa,
chega-se a mais dois: Ondjaki e José Eduardo Agualusa. Na Bertrand o mesmo, e é
necessário vasculhar nome a nome: José Eduardo Agualusa e Pepetela. A Wook vai
um pouco mais longe, mas obriga igualmente a uma pesquisa e com muitos filtros:
além dos já citados, Henrique Abranches, Dulce Braga, Teobaldo Virgínio,
Gabriel Mariano, António Aurélio Gonçalves, Arménio Vieira, Nelson Saúte,
Arlindo Barbeitos e Manuel Lopes. Até é curioso, porque deixa de fora alguns
autores com uma certa notoriedade em Portugal, mas recupera outros que são
perfeitos desconhecidos no País.
Sabe a pouco e evidentemente está longe de representar a
literatura africana escrita por africanos. Todavia, reflecte uma realidade; é
certo que não passa de um indicador de popularidade, isto é, dos autores
africanos de língua portuguesa que mais vendem – as regras comerciais e as
estratégias dos livreiros portugueses assim o ditam – mas serve para arriscar
algumas observações.
Dir-se-ia que para um País que quer assumir a liderança
na promoção da lusofonia e na gestão dos activos culturais no contexto dos
PALOP, a cultura em sentido lado não parece ser, afinal, uma grande prioridade
para Portugal. Pelo menos no que diz respeito à literatura. Pela simples razão
de que a deixou entregue à lógica do mercado. Faz sentido, embora careça de
medidas complementares, e esse é o papel do Estado, de qualquer um, se
ambiciona promover, quando reconhece valor, tudo aquilo que não seduz tão
facilmente. O discurso é antigo e não vale a pena insistir, sobretudo quando
esta retórica faz parte de um quadro de constrangimentos com outras urgências.
Contudo, a questão levanta também vários desafios para os
próprios autores africanos, dentro dos quais avulta a capacidade de gerar
atracção naquilo que produzem. Não é que isso deva condicionar a natureza do
que escrevem, mas obriga a ter em mente uma regra de ouro: a diferença entre o
livro como obra e manifestação artística e o livro como produto comercial e,
regra geral, um bem fungível, que se gasta com o tempo. O que quer dizer que é
evidente a necessidade de um compromisso e de uma clarividência sem afectos
exacerbados.
Defender com orgulho que os escritores africanos dos
PALOP no activo tendem a combater o exótico (recuperando as narrativas
tradicionais e afastando o homem não africano do centro do universo para nele
colocar o homem africano) para proceder a uma ruptura com o passado histórico e
com os denominadores comuns etnocêntricos presentes nas ficções localizadas em
África da maioria dos autores não africanos, espelha a vontade legítima da
afirmação da nova literatura africana de expressão portuguesa.
O que parece ser perigoso é que esses mesmos escritores
se deixem sitiar pela tentação do afrocentrismo, produzindo narrativas
exactamente iguais, embora com os termos invertidos, às que tanto criticam, as
do passado colonial e imperialista, às do “homem branco no centro do universo”.
É perigoso, embora compreensível. Porém, com o preço de que é exemplo a
listagem redutora acima indicada dos autores lusófonos africanos com
notoriedade em Portugal.
Em poucas palavras, é sempre bom lembrar: o passado não
seduz, o passado não vende. Porque não traz nada
de novo.
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