Nelson Lineu - Moçambique
O homem
pode transformar obstáculos em meios para atingir os seus próprios fins.
Francis
Bacon
Para Abel e Marcos era impressionante como os jornais, rádios,
telejornais entre outro meios de comunicação social falavam da crise financeira
que se quer mundial em Moçambique; em vez de alarmante a notícia chegava num
tom parecido com tudo menos melancólico; como se tratasse de igualdade com os
países que estavam verdadeiramente em crise - digo verdadeiramente porque foi
lá onde se criou essa situação e nós como pedra vamos para onde nos lançam -,
como que finalmente existisse algo íntimo que nos ligasse de verdade com esses
países. O pensamento vinha desse modo porque partilhar as dores muitas vezes é
mas sincero, verdadeiro e instrumento eficaz para a união.
Ambos estavam sentados no seu local habitual, de baixo de
uma mangueira, onde poliam as suas ideias nos finais de semana, assim como
este. Podia-se ouvir a conversa do outro lado do muro, numa barraca. Queriam
estar lá mas não podiam, de um lado por não beberem, que era a condition
sine qua non. Abel não podia beber por questões de saúde e Marcos porque
não podia usar o seu salário que era mais magro que ele para tal. Por outro
lado era porque a conversas dos ocupantes das cadeiras da barraca eram
mesquinhas, segundo eles, assentavam-se mais em lamentações e reclamações.
É peremptório referir que eles ficaram amigos por
necessidade e só eram no final de semana. Das vezes que frequentaram a barraca eram
motivo de zombaria, traziam ideias ou propostas para acabar com aquelas lamentações.
“Se nem os governantes e pessoas estudadas não resolviam os problemas, quem
eram eles? Tinham que cair na realidade”, ouviam da boca dos legítimos
ocupantes da barraca quando não estivesse ocupada com o copo. Para esses a
culpa não era do governo, tanto que as coisas eram assim porque tinham que ser,
quem seria insensível até ao ponto de ver as coisas como estavam, podendo e não
fazer nada, ficando no luxo da sua casa?! A conversa dos dois naquele sábado como
apontado a cima era por causa da crise, essa era a posição de Abel: - Não nos
sentimos piores porque como os outros países estamos em crise. Como os outros, Abel
ficou assustado quando alguém do Governo deu-se o trabalho de dizer que a crise
não nos afectaria, mas mais tarde a mesma pessoa fez o não dito pelo feito.Com a
desculpa de que só tinha dito aquilo para não nos alarmar. - Quanto a mim é
nessa desprotegida protecção que faz com que as crianças em grande não consigam
criar os seus próprios mecanismos de defesa – sentenciou, Abel.
De tanto conversarem, as ideias de um não fugiam muito a
do outro, cabiam um acrescentar algo ou tirar dependendo do assunto. Daí que o
Marcos rematou: - A nossa crise vê-se que é por causa da diminuição das doações
– já que o nosso estado soberano que é não consegue cobrir o seu orçamento - a
nossa medida de austeridade não seria deixarmos de ser criança, isto é, crescermos
criando os nossos mecanismos de defesa? Crise é um momento de transformação
profunda que pode ser para pior ou para melhor, essa é a oportunidade. Pode ser
que não tenhamos mais, e não nos queixemos como sempre desta vez por não
aparecerem outras crises.
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justify'>Em casa não parava. E sempre que o marido lhe
exigia satisfações, ela prontamente respondia-o.
― Não me incomode se não,
vou-te denunciar.
― Denunciar, fiz o
quê?
Peniscilina dizia que iria ao gabinete de
atendimento à mulher vítima de violência doméstica para apresentar a queixa de
que o seu marido, quando se envolvera com ela, há dez anos atrás, ela era
menor, contando apenas com catorze anos de idade. Houve nessa altura violência
sexual, acreditava ela.
―
Você abusou-me e violou-me sexualmente
― ameaçava, bêbeda Peniscelina quando lhe apetecia.
― Não
foi violência sexual, mas sim agressão sexual ― retrucava Salomau,
concluindo no seguido, ― todo sexo é
violento. Mesmo o consentido.
Não paravam as discussões. Ainda, uma vez,
Salomau seguiu a esposa numa barraca para que ela viesse à casa e tomasse conta
do recado doméstico. E ela respondeu, com violência verbal.
― Por que me
persegue? Não vês que eu não te quero?!
― Se não me
quisesses, ias procurar feiticeiro para pôr-me na garrafa?
E seguiam outros palavreados e palavrões, indescritíveis.
1 comentários:
"Crise é um momento de transformação profunda que pode ser para pior ou para melhor, essa é a oportunidade." Soft!
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