Entrevista concedida a
Demetrios Galvão e Luiz Valadares Filho
Luiz Valadares Filho 1- O teu nome “Du Nascimento” tem algo de afrancesado? Nos fale um pouco a respeito disso.
Rubervam Du Nascimento: Du é um jogo sonoro inventado a partir do modo como pronunciamos as palavras. Nunca ouvi ninguém dizer por aqui “do”. Do é outra coisa que ao ser pronunciado ganha um acento que não existe, um acento imaginário que o empurra para outro significado. Du acompanha a voz de Ru do início do meu nome. Uma homenagem, digamos, ao som produzido pela voz de nossas letras e palavras. Nada a ver com o francês. Du é um dado a mais que contribui para a possível decifração dos enigmas que cercam a minha poesia. Funciona como uma espécie de anagrama. Du é de um atrevimento sem tamanho. Com ele posso provocar Deus. Du também vem de Deus. Basta excluir duas letras. Com o Du me coloco ao lado da criatura divina embriagada de sopro de fogo e me transformo
LVF 2- Quando você começou a se descobrir como poeta? Quais suas primeiras tentações poéticas?
Rubervam Du Nascimento: no início foram os livros bíblicos que me chamaram a atenção. Aliás, único conjunto de livros que ocupava espaço na casa onde vivi a infância e o começo da adolescência. Principalmente os livros de Isaias, Ezequiel, Daniel, Malaquias e Apocalipse que me despertavam uma espécie de ira sagrada ao lê-los. Ficava com um gosto de vinagre apodrecido na boca quando devorava seus versiculos. Gostava de ficar viajando com as imagens que esses livros me traziam. Para tentar compreendê-los decorava capítulo por capítulo e ficava dizendo em voz alta, trancado em meu quarto. Mas os livros que me despertaram para a poesia foram Os Lusíadas, que encontrei entre outros livros empoeirados, e pastas e papéis inúteis numa espécie de biblioteca abandonada no prédio do ginásio onde estudava, e um livro de poemas estranhíssimos que me chegou às mãos através de um professor de português chamado Ildegardes: O Guesa Errante. Era adolescente, nessa época, tinha quinze anos e ao invés de ir passear na praça, namorar, ficava em casa lendo os livros da Bíblia, Sousândrade e Camões. Depois desse encontro, comecei a rabiscar alguma coisa que pensava tratar-se de poesia, mas não era, apenas rascunho que foi parar na cesta de lixo, ou no fogo. Gosto de ver meu poema pegar fogo, virar chama e depois cinza. Alguns deles, purificados, voltam aos pedaços em versões posteriores. Outros desaparecem para sempre do meu caderno de memórias. Nessa época escrevi um poema chamado: deslumbramento que uma professora de português elogiou na sala de aula, chamou de poesia. Até hoje guardo cópia, mas jamais será publicado. Embora seja um poema de forma livre, é muito ruim, de linguagem pobre, coisa de iniciante, muito parecido com a maioria do que é veiculado e que abarrota os espaços da internet e que chamam de poesia.
LVF 3- Fale sobre os poetas e a poesia de sua geração e comente um pouco sobre sua participação na coletânea “ponta de lança na praça”?
Rubervam Du Nascimento: mantenho contato com vários autores brasileiros e estrangeiros, principalmente da América Latina. Com esses autores troco além de correspondência, poemas. Dessa forma alguns me pedem autorização para incluírem meus poemas em livros ou para serem editadas em jornais ou blogs. Assim aconteceu com a coletânea: ponta de lança na praça, editada pelo poeta Guido Bilharinho, de Uberaba/MG, na década de 1980, o mesmo que publicava a famosa revista: Dimensão. A linguagem do longo poema incluído na coletânea já indicava inquietações éticas e por que não dizer, estéticas, que somente hoje estão em volga: a nossa sobrevivência, numa sociedade que parece ter esquecido que somos apenas formiguinhas entregues ao mar de águas que a cada virada de estação causa um dilúvio de calamidades, ao invadir a pequena extensão de terra que nos resta para sobreviver, por conta dos maus tratos que cometemos contra a natureza e o ambiente das cidades. Quanto ao poetas de minha geração, gosto de alguns, de outros não, Sem citar nomes, penso que alguns não evoluíram. De qualquer modo, não tenho dúvidas de que se trata de uma geração que é a pedra do sapato dos críticos e estudiosos do assunto. Posso garantir que são mais de meia dúzia os poetas que se firmaram e podem ser considerados bons poetas, alguns com trabalhos editados que verdadeiramente se sustentam como livros dignos de leitura e reflexão.
Demetrios Galvão 4 - Que importância tem a poesia na sua vida e no seu cotidiano?
Rubervam Du Nascimento: além do ofício de poeta, exerço no dia a dia outra profissão, que nem sempre me dá folga para o exercício da poesia na hora em que bem entendo, posso dizer que respiro poesia pela manhã, à tarde, à noite e de madrugada. De segunda à sexta e nos fins-de-semana. Sou um poeta que vive a poesia durante quarenta e oito horas diárias. Não que eu considere tudo que eu vejo como matéria poética. Alguma coisa que a gente encontra em nosso caminho a gente tem que empurrar para o lixo. Não pode ser traduzido por poesia, nem pode terminar
LVF 5- Eu tive o prazer de assistir a um espectáculo seu no Teatro 4 de Setembro “A Profissão dos Peixes”, referente ao seu primeiro livro. Fala da tua relação com o teatro.
Rubervam Du Nascimento: fiz curso de teatro no Rio de Janeiro com o mesmo grupo do Fulvo Stefanini, José Wilker, Rosa Maria Murtinho e outros que hoje são artistas famosos. Vim para o Piauí, tive algumas experiências nesse sentido, mas resolvi parar de fazer teatro. Afinal de contas descobri que escolher esta distanteresina para fazer arte, principalmente, é escolher um limite. Não se pode querer fazer uma porção de coisas ao mesmo tempo, pois se corre o risco de fazer-se tudo mal feito. Andei escrevendo uns contos, algumas peças de teatro, iniciei um romance, mas acabei firmando compromisso apenas com o exercício poético. Preferi a poesia, apenas a poesia, por entender como Torquato Neto que a poesia é a mãe das artes, das arte/manhas e das armas de hoje e de amanhã. O espetáculo poético-musical que chamei de “corpo-a-corpo”, reuniu a espinha dorsal do livro: A Profissão dos Peixes, levado a treze cidades brasileiras, em 1987. De Cruz das Almas/Ba, passando por Belo Horizonte, Rio, São Paulo, capital, Ourinhos/SP, Londrina/PR, Curitiba e por último, o que eu denominei de “Peregrinação Poética”, em Paranaguá/PR, sempre contando com a articulação de pessoas ou grupos de poetas com os quais mantinha contato. Lembro de uma dessas apresentações como um momento inesquecível, tanto pelo clima mágico que se formou no local, cujo teto era uma lua enorme no céu escuro, quanto pela interacção do público, praticamente formado por poetas e artistas, com os poemas lidos, no pátio aberto de uma Casa de Cultura em Cruz das Almas, interior da Bahia, onde anteriormente funcionou uma cadeia pública. O pátio serviu no passado para os presos tomarem banho de sol. O Corpo-A-Corpo foi apresentado algumas vezes aqui, Luzilândia, Parnaíba e Picos. Trata-se de uma tentativa de colocar o leitor mais perto da poesia. Apesar de ter plena consciência de que a expressividade do poema não pode confundir-se, nem concorrer com a expressão do teatro, pois são diferentes, colei esse espectáculo ao lançamento da 1ª edição do A Profissão... e obtive resultados impressionantes, em relação à divulgação da poesia e do livro. Como se sabe, toda poesia guarda áreas de silêncio. A encenação dos meus poemas tenta preencher algumas dessas áreas de silêncio, pois existem outras para serem preenchidas pelo leitor disposto a fazê-lo.
LVF 6- Como foi tua passagem pela UFPI, naquele tempo de dias obscuros? Viver a época da ditadura te trouxe problemas?
Rubervam Du Nascimento: entrei para o curso de Direito da UFPI com uma experiência considerável de luta estudantil, adquirida enquanto estudante secundarista. Cheguei a ser eleito em congresso de estudantes para dirigir o Centro Colegial dos Estudantes Piauienses, o CCEP, na década de 1970, época de plena dominação militar, censura, perseguição, tortura física, mental e o que mais de terrível aconteceu naquela época de chumbo aos indivíduos que insistiam em atrapalhar com suas ideias e/ou acções a ordem unida das coisas. Tudo o que se fazia, incluindo a poesia, era uma afronta ao governo que tomou a ferro e fogo as rédeas desse cavalo aparentemente dócil chamado Brasil. Passei no vestibular para direito sem saber que existiam dedos duros nas salas de aulas que sequer se submeteram a concurso algum. Entraram na UFPI pelo teto, ou sob o peso dos coturnos, na cota dos órgãos de repressão, para acompanharem os passos de quem na universidade, questionava o milagre brasileiro do “para frente Brasil” ou do “ame-o o deixe-o”, que até hoje tem seus reflexos negativos nos destinos deste país. Não entrarei em detalhes sobre as vezes que fui forçado a dar explicações sobre alguma declaração a jornal, rádio, a um xerife de plantão na província, na casa onde hoje funciona uma pousada, na Arlindo Nogueira. Lembro que certa vez fui obrigado a explicar ao cara o que eu queria dizer em um poema publicado no jornal do CCEP que trazia em um dos versos o nome Petrônio. Só que não se tratava do Petrônio Portela, tratava-se do outro, do filósofo. Foi difícil explicar. Aliás, não deu para convencê-lo. Ele me olhava, riscava um papel e insistia que o Petrônio, era o Portela. Ao final carimbou o poema no jornal e devolveu-me com alguma coisa rabiscada, que até hoje não sei decifrar direito, rabiscou com a intenção de confundir-me, acredito. Nunca descobri o que escreveu. Acho que tinha alguma coisa com censurado. Guardo comigo este e outros poemas meus carimbados pelos censores da PF. Mas nunca fui torturado fisicamente. O que me salvou, penso, foi nunca ter assumido papel de protagonista político partidário. Sempre votei na chamada esquerda, desconfio que a direita continua a existir e tem ganho força ultimamente, mas nunca assinei ficha de partido político algum. Havia umas chapas eleitorais na UFPI constituídas por petistas, outras ligadas ao partido Comunista do Brasil, das quais sempre me neguei a participar, por entender que seguiam cegamente pautas de actividades partidárias que não contemplavam qualquer discussão artística e cultural. Minha luta, tanto como secundarista, quanto universitária era pela arte e pela cultura que os partidos políticos nunca deram o verdadeiro valor que merecem. O que eles querem dos artistas é ajuda para armar e desarmar o circo. Usam os artistas para complementarem seus risos de deboches, para brincadeiras de mau gosto, para molecagem. Todo partido político tem uma dificuldade enorme em conviver com tudo que simboliza ou expressa arte e cultura. Não é a toa que os poetas foram expulsos da República, desde Platão. Foram expulsos em razão da arte e da cultura serem rebeldes por natureza, não aceitarem a mesmice, o jogo cínico e desigual do poder. Os defensores da sociedade ideal, planificada, racional, não aceitam o jeito torto dos poetas. Pior, todo partido que atinge o poder vira refém do conservadorismo secular das elites políticas que odeiam cultura. Não tem jeito. Antes de deixar o CCEP criei uma imensa biblioteca com mais de cinco mil livros que hoje não sei onde foram parar, vez que a sede da entidade, na rua 24 de Janeiro, onde funcionava a biblioteca, está completamente abandonada. Nos quatro anos e meio que estudei na UFPI participei de passeatas, puxei algumas discussões em favor da cultura na construção de algumas chapas que concorriam aos directórios sectoriais e central, fui presidente de comissão eleitoral, participei da greve de fome, ajudei a reconstruir a UNE, mas foi só.
DG 7- Comente um pouco sobre seu processo de criação e nos diga o que une e o que distancia a poética dos seus três livros (Profissão dos Peixes, Marco Lusbel Desce ao Inferno e Os Cavalos de Dom Rufato)?
Rubervam Du Nascimento: em artigo publicado recentemente na imprensa local, o poeta Salgado Maranhão que eu respeito, tanto como poeta, quanto como ser humano, após a leitura de Os cavalos de dom Ruffato, aponta-me como um migrante da tagarelice espontânea da chamada Poesia Marginal, para o discurso motivado da linguagem. E acrescenta em seu artigo que “poucos perceberam esse rito de passagem que trouxe vigor e amadurecimento ao verso praticado actualmente”. Inclui o livro Os cavalos de Dom Ruffato como um exemplo que bem diferencia os desabafos sentimentais da arte poética na sua duríssima carpintaria. Entendo que esse comentário do Salgado responde a pergunta e dá pistas sobre o que aconteceu com a minha poesia desde os indicadores de renovação presentes na 1ª edição do meu projecto de “vida palavra” que denominei de A Profissão dos Peixes, editado em 1987, com 2ª edição em 2003, no título e nas janelas do livro Marco Lusbel desce ao inferno, nos desafios postos no Os cavalos de Dom Ruffato, até chegar à densidade estética e substância de linguagem que consegui atingir na 3ª edição, revista e diminuída, do A Profissão...que será editada, ainda este ano, por uma editora de São Paulo, tudo indica a Geração Editorial.
DG 8- Quais seus dispositivos de criação?
Rubervam Du Nascimento: para permanecer poeta, procuro manter no dia a dia uma faca amolada na pedra do meu cais, com uma enorme ponta de fogo, guardada em minha pele, manejada por mim toda vez que me aproximo de algo que me provoca, me assusta, me excita. É com essa faca de luz que corto e recorto o poema, antes e depois de ser colocado no papel, ou na tela do computador. Diferentemente de Shakespeare, poeta inglês, por exemplo, que referencia a maioria de seus poemas em estrelas em órbitas, gosto mais de utilizar a terra, o chão, as águas e o asco podre, azedo ou doce dos indivíduos, em meus poemas. Já disse várias vezes que poesia não é dom. Poesia é bagagem, é esforço contínuo, é compromisso estético que precisa de renovação contínua, para evitar o que eu chamo de “igolatria poética”: comprometimento precário dos poetas apenas esforçados que não vai além do umbigo, que acaba gerando poesia em série como se fosse a coisa mais fácil equilibrar um poema no papel, mas que acham que são bons poetas, entendem que para fazer poesia é necessário apenas inspiração, uma briguinha com alguém que ama, ou odeia, se comportam como os escolhidos por Deus, jamais pelo Diabo, para levar a sua mensagem pelo deserto.
DG 9- Qual sua relação com a literatura do hemisfério sul, existe algum diálogo com o neo-barroco?
Rubervam Du Nascimento: posso dizer que no Piauí, me sinto só na tarefa de dialogar com os poetas sul-americanos. Tenho aproveitado o máximo esses diálogos para a construção da minha poética. Minha linhagem é barroca, venho de Gregório de Matos, Murilo Mendes, Uidobro, Vallejo, Octavio Paz, e outros que poucos aqui na terrinha já leram ou já ouviram, pelo menos, os seus nomes. Aprecio a poesia criativa e persigo a poética da inventividade. Acredito que só essa poesia marca uma época e consegue continuar viva através dos tempos.
DG 10- Como você compreende a relação da poesia com a política? Ou melhor, você acha que a literatura tem uma função política? Comente um pouco sobre isso.
Rubervam Du Nascimento: a única causa que a poesia defende é a sua própria causa. A função da poesia nunca foi e jamais será política, sempre foi e será poética. Falo da política como sempre se praticou no país e no mundo por partidos a reboque de pessoas disfarçadas de bons cidadãos, a rigor, da pior espécie, que se apresentam como agentes responsáveis pela solução de nossos problemas, mas que na prática defendem seus próprios interesses e dos que lhes servem. A definição mais objectiva dessa política está no dicionário. Diz lá que política é a prática ou profissão de conduzir negócios políticos. Podem grifar a palavra: negócios. A Profissão dos Peixes, confesso, não tem nada a ver com isso. A poesia somente se segura como objecto de prazer estético. Desse modo, a poesia mexe e remexe todo o sistema límbico do indivíduo. Não suporta o que não é sangue, o que não pula, nem pulsa. Ameaça o domínio da emoção domada, que nunca explode, escondida em baú de ossos, fechado a sete chaves. A emoção que termina criando a morbidez romântica, o atavismo das paixões embrulhadas em tecidos apodrecidos, despedaçados e que teimamos
DG 11- Na sua percepção, que lugar a poesia tem ocupado no mundo contemporâneo?
Rubervam Du Nascimento: é visível a falta de espaço para a poesia na sociedade do espectáculo ridículo mediático, da mesmice diária, da brincadeira maliciosa, sem qualquer porção lúdica, dos meios de comunicação, todos eles, preocupados apenas em usar os artistas para a justificativa dos anúncios comerciais de produtos que vendem, descaradamente, dentro ou entre um capítulo e outro das novelas e programas de auditório. O que esperar, poetas, de uma sociedade que perdeu o encanto e o direito à rebeldia e vive constantemente sob a ameaça da violência e da tolice repetida até à exaustão? O que fazer numa sociedade em que, diante disso, a chamada intelectualidade de farda e pijama se compromete cada dia mais com a imortalidade dos defuntos e acredita que assim, com seus pontos de vistas mofentos, está contribuindo para alterar o belo quadro da idiotice social?
LVF 12- Você é também um observador e um incentivador da “cena nova” (teu prefácio sobre o meu “Versificando” – ainda na gaveta – ficou melhor que o livro), como é que você vê esse novo cenário da literatura aqui na “terrinha”?
Rubervam Du Nascimento: vejo pouca articulação conjunta. Como não acredito que não se subtrai poesia do nada, penso que não se faz arte sozinho. Fico satisfeito em saber que vocês existem. Desconheço outro colectivo funcionando hoje como o de vocês nesta distanteresina. A poesia precisa ser lida, discutida, remendada. A palavra do outro às vezes salva um poema, ajuda a retirar uma palavra que está ferindo de morte um poema porque foi mal colocada no verso e que o poeta, por uma razão ou outra, sozinho não descobre. Procuro, na medida do possível, acompanhar o que é editado a nível de poesia, por aqui e pelo país. Sempre que viajo à serviço da repartição onde trabalho ou para participar de algum festival literário, passo horas em livrarias e sebos procurando novidades. Confesso que entre um grande número de bobagens, de repente aparece um livro que merece releituras. O Raniere Ribas, vocês o conhecem? Ele é professor da UFPI, tem uma poesia que incomoda, uma poesia consistente. Ele editou há cinco anos, mais ou menos, um livro de título e conteúdo intrigante, Os Cactus de Lakatus e ninguém teve a coragem de escrever alguma coisa sobre o livro. Silenciaram diante da ousadia e da agressividade estética e de linguagem de um poeta que merece ser lido e discutido. Gosto da poesia do Wanderson Lima, do Adriano Lobão, da Carmen Gonzalez. Poetas um tanto jovens, mas com uma poesia que em nada perde para a poesia que se publica por grandes editoras no eixo Rio-São Paulo. Tem um poeta que publicou apenas um livro e é da minha geração, mas que nunca mais ouvi falar em seu nome, o Francisco Sales. Ele editou o livro: Esboços ( paredes de papéis finíssimos) em 1995 e de lá para cá não editou mais. É um bom poeta. Outro dia deparei-me aqui com um livro excelente chamado: Terreiros, de uma poeta que não conheço pessoalmente de nome Keula Araújo e me assustei com os poemas que escreve. Poemas densos, bem construídos. Leio sempre a poesia do Demetrios. Uma poesia urbana, visceral, visionária. O Valadares eu conheço de algum tempo e tem bons poemas. Vocês não sabiam, mas acompanhei de perto o que era editado na Trimeira. Comprava nas bancas de revistas e jornais. Cadê o pessoal que fazia a Trimeira? A Trimeira acabou? Vocêsa anunciaram no terceiro número o fim da revista, não foi? Lembro versos como: mas as vestes que te diziam alguma coisa/ não existem mais, da Lorena Albuquerque, alguma coisa da Renata Flávia, da Lee Flores, do Rodrigo Leite e da Arianne Pirajá que escreve versos inteligentes, de imagens fortes, como: flores constipadas, final do poema: vida bandida, recentemente anexado no blog da academia onírica e da Laís Romero que escreve poemas com achados impressionantes. Parece-me a mais exigente, a mais preocupada em encontrar uma poética particular.
DG 13- Você já cometeu algum pecado cultural?
Rubervam Du Nascimento: pecado cultural? Deixa-me ver. Acho que sim. Mas vou contar um caso que por pouco não me levou a cometer o que seria o maior pecado cultural da minha vida. Um pecado que, caso tivesse se concretizado, não teria como ser perdoado. Seria um baita pecado que, certamente, nenhum rosário de orações expiaria a culpa. Trata-se de um rascunho de livro que trouxe de Coroatá do Maranhão pensava eu, no ponto de ser editado. Queria o livro editado logo que cheguei aqui, em Fevereiro de 1972. Escutem o título: rastros de estros. Que diabo é rastro de estro? Me respondam. Um livro horrível, repletos de pensamentos moralistas, cheio de sonetos precários e alguns poemas soltos. Sonetos parecidos com os do J. G. de Araújo Jorge. Já leram? Não precisam ler. O J. G. está morto e com ele foi a poesia que editou
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