Camille Dungy, poetisa norte-americana que recentemente visitou a capital moçambicana, Maputo, não se foi sem deixar a sua experiência como professora de escrita criativa no San Francisco State University, ao mesmo tempo que é poetisa. Era necessário que falássemos das suas obras, mas as dificuldades de acesso ao livro de autores contemporâneos de outros países se fez sentir neste encontro, mas, por outro lado, fez surtir efeitos a tentativa de se chegar à resposta sobre o que é um escritor, o que ele deve fazer para que se torne um escritor entre vários e, o principal, que exercícios faz um “bom escritor”. Na verdade, Camille é a pessoa que nos trás a fórmula mágica para que se seja um escritor: a leitura e a prática de escrita.
Amosse Mucavele - Moçambique
Literatas: Como é que o trabalho de professora de escrita criativa,
jornalista influência a sua escrita?
Camille Dungy: O acto
de ensinar exige o enquadramento das minhas ideias de forma mais clara possível.
Ensinar requer de mim que seja uma leitora por excelência e exige um pensamento
crítico em relação ao trabalho e de como e porque se assume uma literatura com
êxitos. Isto de ensinar leva-me a lêr bastante de modo a manter-me actualizada
com o mundo da literatura. Também todas estas ferramentas são indispensáveis
para mim como escritora. Ensinar enriquece a minha escrita, ou seja, ensinar
requer o mesmo combustível como a escrita.
L: Quais são
as suas expectativas com esta viagem a Mocambique? Acha que os EUA estão de
algum modo interessados pela literatura Moçambicana?
C.D: como
escritora e leitora a minha curiosidade é natural. O meu trabalho é questionar
por detrás do mundo conhecido. Sinto-me tão entusiasmada para ter esta
oportunidade de visitar Moçambique e encontrar alguns dos emergentes e já
estabelecidos escritores. Do mesmo modo estou feliz por ter a oportunidade de
ver o país in loco. Havia muito sobre
o qual não tive chances de ver, mais do que nunca agora vou me focar em livros
para saber algo mais. Assim como ensinar e ler, a viagem é também veículo
inspirador para a escrita.
Relativamente
a questão sobre o interesse dos americanos em ler autores moçambicanos,
leitores em todo mundo teêm interesse em literaturas de outras paragens e lugares.
Há no entanto uma barreira que é a língua entre os países lusófonos e de
expressão inglesa, por isso a importância dos tradutores, eles ajudam a
construir a ponte que nos divide. Se há boa literatura, também há bons
leitores.
L: Para os que
escrevem e por quê? Escreverão apenas para vender?
C.D: Trata-se
de uma questão específica em relação ao vosso Pais, o nível de realização e a
variedade de tantos outros factores. Não poderei responder nesse âmbito
comercial. Mas posso dar-lhe respostas que vão de encontro com a realidade,
contudo, se pretende saber como tornar-se um escritor que as pessoas possam
procurar ler, é necessário muita leitura, e também praticar a escrita. Não
acontece como acordar numa fresca manhã e esperar que seja um escritor publicado
com frequência ( quem as pessoas queiram
ler) ao final do dia. Anos e anos de estudo e prática levam-no a melhorar a
qualidade a partir do que lê.
L:
Como é descrito um escritor culturalmente activo nos EUA?
C.D: Receio
que não tenha percebido a sua pergunta. Além do mais, não sei se posso
responde-la. EUA é um país muito grande, e existem muitas diferentes maneiras
de mostrar o envolvimento cultural.
L:
Há uma tendência dos escritores modernos em procurar os clássicos. Podemos
dizer que estamos perante os substitutos legais do Hemingway, Faulkner e Allan
Poe?
C.D: Não se pode saber com exactidão quem deixará
impressões. Há demasiados factores que concorrem para tal, de geração para
geração. Tudo o que se pode fazer é escrever as melhores estórias e poemas
possíveis. Ser escritor não deve ser visto como tentativa de se tornar imortal,
famoso ou ter riqueza. Há tantos outros caminhos para atingir isso, se é isso o
que procura.
L: Pode citar alguns escritores africanos e em particular Moçambicanos que são editados nos EUA? Estarão, os EUA preparados para receber outras literaturas?
C.D: Vocês
como leitores devem ter interesse em conhecer este desafio, que é a publicação
de novos autores africanos.
L:
Quais escritores que marcam a sua leitura? Como é que caracteriza a literatura
contemporânea Norte-Americana?
C.D: Como disse anteriormente, EUA é um país
grande, e a América do norte, ainda que, não é maior que a África,
ela é enorme e um continente diversificado. Não poderei falar da literatura
Norte-Americana como um todo. Darei um endereço no qual poderá ler um ensaio
escrito por mim no qual recusei-me expor o meu pensamento sobre a poesia
Americana. Duma forma resumida, a poesia americana é maravilhosamente complexa
e diversificada. Há um estilo definido, grupo ou ideia. É o que a torna tão
maravilhosa.
L: Poderia
deixar um concelho para escritores e para aqueles que querem se tornar
escritores?
C.D: Leitura
constante, leitura, e mais leitura, ler sempre mais. Fale daquilo que voçe
acha/ consta. Escreva sobre aquilo que lhe mova quando lê. Escreva sobre aquilo
que deseja tentar e que seja capaz de faze-lo. De seguida veja como atingir
esses objectivos. Quando terminar a prática. Leia algo mais. Repita este ciclo
para os restantes dias de sua vida.
________________________________________
Camille T. Dungy é autora
dos seguintes livros de Poesia: Smith
Blue, Suck on the Marrow, and What to Eat, What to Drink, What to
Leave for Poison. Editou e organizou a antologia Black Nature: Four
Centuries of African American Nature Poetry, e co-editou From the Fishouse poetry anthology (www.fishousepoems.org).
A sua obra teve menção honrosa no
American Book Award, Northern California Book Awards, prémio poetry fellowship
from the National Endowment for the Arts. E é Professora no departamento de escrita
criativa da Universidade Estadual São Francisco. www.camilledungy.com.
Tradução: Amosse Mucavele e Mauro Brito
0 comentários:
Enviar um comentário